Coreia do Norte investiga dois atletas por terem tirado selfie com colegas sul-coreanos nos Jogos Olímpicos
Kim e Ri participaram numa foto com atletas sul-coreanos e chineses após terem vencido a prata no ténis de mesa em Paris. Receberam uma má “avaliação ideológica” em Pyongyang e podem ser castigados.
Os mesa-tenistas norte-coreanos que venceram a medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Paris na modalidade de duplas mistas estão a ser investigados pelo regime de Kim Jong-un por terem participado numa selfie captada no pódio juntamente com atletas sul-coreanos e chineses. Além da "limpeza ideológica" a que todos os atletas da Coreia do Norte estão sujeitos após contactarem com a realidade fora do país, Kim Kum-yong e Ri Jong-sik também estão a ser alvo de um "escrutínio ideológico" pelo facto de terem entrado na fotografia com os atletas sul-coreanos, apesar de terem recebido ordens específicas para evitarem interacções com quaisquer membros da missão da Coreia do Sul nos Jogos Olímpicos.
A selfie tornou-se um dos momentos mais apreciados das Olimpíadas e foi captada por Lim Jonghoon, jogador de ténis de mesa sul-coreano, com um telemóvel. Atrás dele, outros cinco atletas: a mesa-tenista Shin Yubin, com quem o autor da imagem venceu a medalha de bronze em duplas mistas, os chineses Wang Chuqin e Sun Yingsha, que venceram a medalha de ouro, e, sorridentes, os norte-coreanos Kim Kum-yong e Ri Jong-sik, que arrecadaram a prata. Mas, na Coreia do Norte, a fotografia pode ser uma prova de "traição" e comportamento "antipatriótico" para a ditadura de Kim Jong-un, noticiou o Daily NK, jornal sediado na Coreia do Sul que reporta sobre a Coreia do Norte.
Segundo o mesmo órgão de comunicação social, que cita uma fonte anónima de Pyongyang, todos os atletas norte-coreanos estão a ser sujeitos a uma "avaliação ideológica" desde que regressaram à Coreia do Norte, a 15 de Agosto. "A avaliação começa no momento em que os atletas tornam a casa. Eles têm de limpar a ideologia o mais rápido possível" porque podem ter sido "contaminados" pela realidade que encontraram fora do país, descreveu a mesma fonte. Essa avaliação é da responsabilidade do comité central do Partido dos Trabalhadores da Coreia e do Ministério da Cultura Física e Desportos.
Numa primeira fase, o Governo compara o desempenho dos atletas que participaram nos Jogos Olímpicos de 2024 com o dos atletas que estiveram em edições passadas do mesmo evento. Caso os atletas dos Jogos de Paris tenham tido mais sucesso do que os colegas em Olimpíadas anteriores, então estão aptos a receber elogios públicos pelo trabalho desenvolvido. Caso contrário, não só ficam impedidos de ver o seu trabalho reconhecido publicamente como se tornam alvo de críticas duras e podem mesmo ser castigados com meses de trabalho forçado e não-remunerado.
O segundo passo obriga os atletas a criticarem publicamente o seu próprio trabalho e a tecerem considerações sobre a prestação e o comportamento dos outros atletas da missão norte-coreana. Uma das regras mais apertadas impostas aos atletas norte-coreanos é a proibição de estabelecer contacto com os atletas sul-coreanos ou de países considerados próximos da Coreia do Sul, como os Estados Unidos. Os atletas que não cumpram esta regra devem admitir publicamente os erros que cometeram para evitarem consequências políticas. E é por isto que Kim Kum-yong e Ri Jong-sik podem estar em apuros.
De acordo com o Daily NK, Pyongyang recebeu relatos da participação dos dois atletas na selfie com os colegas chineses e sul-coreanos — um gesto que resultou numa "avaliação ideológica negativa" dos atletas de ténis de mesa. A avaliação foi agravada pelo facto de Kim Kum-yong ter sorrido para a fotografia e de Ri Jong-sik também ter sorrido para colegas de outros países após ter saído do pódio, alegou a fonte militar da Coreia do Norte ao mesmo jornal, sem adiantar que castigo podem os dois atletas receber por causa desta interpretação do regime de Kim Jong-un.