AfD consegue primeiro lugar na Turíngia, segundo na Saxónia

Partido de extrema-direita consegue pela primeira vez vencer numas eleições estaduais. Partido de esquerda anti-imigração e contra ajuda a Ucrânia de Sahra Wagenknecht em terceiro.

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Björn Höcke, o principal candidato da AfD na Turíngia e uma das figuras mais extremistas do partido, reage ao resultado em Erfurt Wolfgang Rattay / REUTERS
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O partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha conseguiu, pela primeira vez na Alemanha do pós-guerra, ser o mais votado num estado federado, na Turíngia, segundo as sondagens à boca das urnas e resultados parciais, com mais de 30%, seguido da União Democrata-Cristã (CDU) com 23,7% por cento. Na Saxónia, terá obtido 30,8%, mas a CDU 31,8%, uma diferença ainda muito próxima e que poderia mudar ao longo da noite eleitoral.

A Turíngia e a Saxónia são os estados federados em que a AfD é mais extremista, e são também os estados onde o partido tem mais força eleitoral.

“Hoje o país desprendeu-se da sua história de há 79 anos”, ou seja, todo o período após a II Guerra Mundial, declarou a organização Centro para a Beleza Política (ZPS), que teve acções contra a AfD, na rede social X (antigo Twitter).

“Criaram-se monstros: 30% votam na extrema-direita”, disse o grupo. Uma das acções do ZPS foi criar uma réplica do memorial do Holocausto de Berlim em frente à casa de Björn Höcke, o líder da AfD na Turíngia, depois de este ter criticado a política de memória e esse memorial.

Na Turíngia, os 31 lugares projectados na televisão pública ARD pelo instituto Infratest dimap para a AfD no parlamento estadual (correspondente aos 32,9% dos resultados parciais) vão dar-lhe poder de bloqueio. Os outros partidos que obtiveram representação parlamentar são a Aliança Sahra Wagenknecht (esquerda anti-imigração e contra apoio à Ucrânia), com 15,6%, Die Linke (A Esquerda) com 12,9% e o Partido Social-Democrata (SPD) com 6,2%. Os dois partidos que formam com o SPD a coligação no Governo nacional, os Verdes e o Partido Liberal-Democrata (FDP), não conseguiram representação parlamentar.

Não há uma maioria possível que não inclua o partido de Sahra Wagenknecht (a AfD é excluída por todos os outros partidos como potencial parceira de coligação).

Já na Saxónia, as projecções do Infratest dimap davam a CDU em primeiro lugar com 31,8%, a AfD logo de seguida com 30,8%, a Aliança Sahra Wagenknecht com 11,9%, o SPD com 7,3%, Verdes com 5,5% e Die Linke sem chegar aos 5%, valor que assegura representação parlamentar, mas com boas hipóteses de conseguir mandatos directos.

Se o resultado for este, na Saxónia será possível a continuação da coligação CDU-SPD-Verdes, também chamada “coligação Quénia” pelas cores dos partidos (preto, vermelho e verde) e da bandeira do país, uma coligação que tem tido desentendimentos públicos recentemente. Ou poderá aliar-se com Sahra Wagenkecht, o que seria uma combinação ideologicamente estranha.

O governador do estado, Michael Kretschmer, disse que o seu partido foi capaz de se manter no poder. O que se seguirá, admitiu, “não vai ser fácil”.

Na Turíngia, a CDU apressou-se a declarar que irá levar a cabo conversações para explorar a possibilidade de um governo no estado federado, deixando claro que não cooperará com a AfD (o secretário-geral do partido, Carsten Linnemann,​ deu essa garantia muito cedo na noite eleitoral). Bodo Ramelow, do partido Die Linke, que chefiou até agora o governo minoritário do estado federado, declarou que é Mario Voigt, da CDU, que tem o mandato democrático para começar as conversações de governo.

Alice Weidel, co-presidente da AfD nacional, reivindicou uma presença do seu partido nos governos dos dois estados, o que aconteceria “em circunstâncias normais”, disse. Weidel congratulou-se com as indicações das sondagens à boca das urnas, acrescentando: “Sem nós não será possível um governo estável”.

Perigo para a Constituição

A AfD surgiu em 2013 como um partido “de economistas” contra os empréstimos aos países do euro em dificuldades mas adoptou, dois anos depois, uma postura anti-imigração que se tornou a sua característica principal, além de uma relativização da II Guerra Mundial e críticas ao modo como a Alemanha recorda o Holocausto.

Tem vindo a ser avaliada como cada vez mais extremista, com algumas das suas organizações a serem mesmo consideradas um perigo para a Constituição, ou seja, para a democracia alemã. As restantes organizações do partido que não merecem esta classificação são ainda assim consideradas “suspeitas” de serem um perigo.

O partido tem tido melhores resultados em estados da antiga República Democrática Alemã (RDA).

Já o partido de Sahra Wagenknecht, cuja formação foi anunciada no ano passado com base na figura da sua presidente, antiga política de Die Linke e uma das suas figuras de proa, conseguiu um terceiro lugar em ambos os estados.

O partido propõe um Estado social forte, à esquerda, mas é contra a imigração, à direita. Defende, por exemplo, pensões de reforma mais altas e uma subida do salário mínimo, mas quer mais cautela nas políticas climáticas e travão na imigração e asilo, diz a DW.

Wagenknecht é ainda forte opositora de envio de armas à Ucrânia e defende o fim das sanções à Rússia.

Os resultados, afirmou Sahra Wagenknecht, mostram que as pessoas querem mudança (a CDU também declarou que os resultados mostravam descontentamento com a coligação do Governo). “Estaremos disponíveis para uma coligação na Saxónia e na Turíngia se isso significar melhorias significativas para as pessoas”, disse.

E foi mais longe, declarando: “Temos de ponderar novas eleições.” Isso é, no entanto, algo com poucas hipóteses de acontecer, porque não interessaria aos partidos do actual Governo.

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