Pablo Castrillo, o homem que apareceu na Vuelta numa tarde de nevoeiro

A etapa deu um dos finais mais espectaculares dos últimos anos. A subida, a meteorologia, os nomes envolvidos, o perfil do vencedor e os “bonecos” televisivos contribuíram para um belo espectáculo.

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Pablo Castrillo celebra na Vuelta Javier Lizon / EPA
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Há uns anos, aquilo que se passou neste domingo na Volta a Espanha seria merecedor de gravação em VHS, para ser visto mais tarde e mostrado aos netos por parte de um avô fã de ciclismo. Deixemos, portanto, o final desta etapa perpetuado na internet. Tudo funcionou bem: o desenho da etapa, as condições meteorológicas, os nomes envolvidos na luta, o perfil do vencedor, os bonecos televisivos que foram tirados. Tudo.

Pablo Castrillo foi o homem que apareceu numa tarde de nevoeiro, no Cuitu Negru das Astúrias. Antes desta prova, muitos nem saberiam quem é este rapaz de 23 anos da Kern, que nunca tinha vencido uma corrida. Agora, ficará como o autor de um dos dias mais divertidos de ciclismo dos últimos anos e com dois triunfos em etapas na Vuelta 2024.

Incluído numa fuga com Vlasov e Sivakov, Castrillo não só era o mais frágil dos três, no plano teórico, como parecia estar muito perto do limite, numa subida sempre puxada por Sivakov. Mas era bluff. De repente, na parte mais dura, “disparou” sozinho e acabou por ter um duelo tremendo com Vlasov.

O estado de ambos deu imagens televisivas incríveis, com esgares de sofrimento atroz na cara de ambos e subida a um ritmo muito lento, tal era a inclinação da estrada. A subida brutal a Cuitu Negru tem uma zona de 24% de inclinação e dura quase 20 quilómetros, com média de 7,4% – e os últimos três quilómetros de dureza incrível.

Para compor o cenário, estava um forte nevoeiro no topo do Cuitu Negru, dando um boneco tremendo de dois homens em luta em condições adversas, aparecendo no meio da invisibilidade.

Foi bonito. E vindo de alguém como Castrillo foi mais bonito ainda, batendo dois “tubarões”.

O líder sobreviveu

No que diz respeito à luta pela vitória na Vuelta, Ben O’Connor vai poder “morrer” noutro dia. O líder da prova perdeu tempo para Primoz Roglic, mas não o suficiente para deixar de usar a camisola vermelha. Tem, agora, 1m03s de vantagem para o esloveno (sofreu uma penalização de 20 segundos), algo que é, em teoria, insuficiente para se aguentar no que ainda aí vem.

Sobre esta etapa há ainda algumas dinâmicas tácticas relevantes. A Bora pareceu estar a jogar de forma perfeita, mas acabou por não levar nada.

A situação de corrida parecia interessante. Não precisava de trabalhar no pelotão, porque tinha Vlasov na fuga, e poderia ter a Soudal a fazer o trabalho todo e ajudar indirectamente a Bora. E na fuga o próprio Vlasov nunca iria trabalhar, por ter Roglic atrás – e até poderia vir a ser chamado ao trabalho pelo esloveno, algo que nem aconteceu.

No fim, Vlasov não serviu para nenhuma das coisas: não venceu a etapa e não ajudou Roglic a ganhar mais tempo a O’Connor – ainda que, sejamos justos, neste tipo de subida a importância de um domestique é bastante menor. Ou há pernas ou não há. E não houve para grandes diferenças entre os principais favoritos.

Para esta segunda-feira está marcado um dia de descanso. Bem precisam, depois de Cuitu Negru.

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