Sicília: a seca intensifica-se e os oportunistas da água prosperam na ilha

Abastecimento por camiões-cisterna na Sicília pode custar 300 euros por mês. Alguns residentes na ilha italiana estão sem água há dois meses. Precipitação está abaixo da média dos últimos quatro anos.

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Salvatore Celauro enche um recipiente com água numa fonte após um longo período de seca na ilha italiana da Sicília, em Agrigento, Itália Louiza Vradi / REUTERS
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A seca na ilha italiana da Sicília tornou-se tão grave que muitos residentes da cidade de Caltanissetta estão sem água corrente há dois meses, o que levou a lucros consideráveis para os vendedores privados não autorizados. Milhares de sicilianos estão a adquirir água a indivíduos ou grupos que a distribuem a partir de camiões-cisterna autónomos e por preços inflacionados.

Após quatro anos de precipitação muito abaixo da média histórica, o Governo italiano declarou o estado de emergência em Maio. O objectivo era tentar gerir melhor os recursos hídricos até à estação das chuvas, no Outono, mas desde então a situação só tem piorado. A seca é tão grave que a pastagem escasseou, colocando as cabras em risco.

A água está a ser racionada em dezenas de cidades do centro da Sicília, deixando os cidadãos dependentes do abastecimento por camiões-cisterna, o que pode custar às famílias e às empresas uma média de 300 euros por mês.

“A cada 15 ou 20 dias tenho de chamar camiões de água para encher os tanques que tenho em casa”, disse Alberto Micciche, que vive no bairro de Poggio Fiorito, nos arredores de Caltanissetta. O custo de um camião de 8000 litros duplicou em relação a um ano atrás, passando para cerca de 100 euros, disse Micciche.

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Uma imagem de drone mostra o lago Fanaco após uma seca na ilha italiana da Sicília, em Palermo, Itália, no dia 26 de Agosto REUTERS/Louiza Vradi

Além disso, há o custo adicional da electricidade para bombear a água dos tanques para a cozinha ou casa de banho. “Só o facto de abrir uma torneira já é caro”, diz Alberto Micciche.

No resto de Caltanissetta, as autoridades asseguram o abastecimento regular de água durante apenas algumas horas por semana, ou de duas em duas semanas, consoante o bairro.

A escassez crónica de água não é novidade para os sicilianos, muitos dos quais têm tanques de armazenamento nos telhados ou no subsolo para enfrentar os períodos de escassez, mas estes estão a revelar-se insuficientes à medida que as secas se tornam mais longas e mais graves.

“É como ser chantageado”

As empresas que necessitam de um abastecimento constante de água potável, como os restaurantes, estão exasperadas porque a procura ultrapassa a oferta e os preços sobem.

“Muitos proprietários de camiões-cisterna sabem que estamos em dificuldades e estão a tirar partido da situação, é como se estivessem a ser chantageados”, disse Michele Tornatore, proprietária de um restaurante chamado Sale e Pepe (sal e pimenta, em português) em Caltanissetta. “Se os camiões-cisterna podem ir buscar água, então porque é que não há água?”, questiona.

Oficialmente, a água é considerada um bem público e não pode ser vendida por particulares, que podem ter poços privados para uso estritamente pessoal.

Só os camiões-cisterna privados autorizados podem distribuir a água que retiraram das fontes públicas, cobrando uma taxa de transporte. Para o efeito, devem pagar uma tarifa à empresa oficial de água local.

No entanto, as regras são regularmente desrespeitadas, com riscos potenciais para a saúde pública. Muitos camiões-cisterna não estão registados e operam sem supervisão ou regulamentação, fornecendo água de fontes não controladas e de qualidade incerta. Este ano, as autoridades de várias cidades sicilianas multaram pessoas em milhares de euros por distribuição não autorizada e venda de água contaminada.

Salvatore Cocina, director do departamento de protecção civil da Sicília, disse que a ilha estava a procurar novas fontes de água e a reparar poços abandonados, mas que a situação era tão crítica que, em casos excepcionais, os presidentes das câmaras municipais deveriam usar os seus poderes para confiscar temporariamente poços privados. “Tal como no caso da emergência da covid-19, todos terão de fazer a sua parte”, disse à Reuters.

Já Oscar Aiello, membro do conselho municipal de Caltanissetta, está a usar a cenoura em vez do pau, tentando persuadir os proprietários de poços a partilhar voluntariamente a sua preciosa água. Este mês, publicou no Facebook que a sua generosidade “seria recompensada”.

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