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Alcione: “O samba é um ato político e social, e sempre esteve ao lado do povo”
A cantora se apresenta em Portugal nos dias 6 de setembro, no Porto, e 7 de setembro, em Lisboa. Entre as músicas previstas para os shows está Marra de Feroz, que trata da violência contra mulheres.
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Aos 50 anos de carreira, recém-completados, a cantora Alcione está rodando o mundo levando seu canto que arrasta multidões. Uma das paradas será em Portugal. A Marrom se apresentará no Coliseu do Porto, em 6 de setembro, e no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, no dia 7, quando o Brasil celebra mais um ano de sua independência.
Alcione promete cantar muitos sucessos de sua trajetória, mas preparou algumas surpresas para o público. "Os fãs merecem", diz. Para ela, a música brasileira, que é pródiga em renovações, é muito querida pelo público em geral. "O Brasil é um celeiro de talentos", acrescenta.
Uma das novas gravações que serão apresentadas nos dois espetáculos de Alcione em terras lusitanas se chama Marra de Feroz, um alerta sobre a violência contra as mulheres. "O machismo ainda persiste, infelizmente. No mundo do samba e, também, no cotidiano", ressalta.
Para a cantora, o samba deve ser visto como um movimento político, que sempre esteve ao lado do povo. "As artes sempre contribuíram para as mudanças, fossem elas políticas ou sociais. No caso do samba, que foi tão discriminado no início, você poderá encontrar letras que versam sobre essas questões e retratam uma época de abusos contra os próprios artistas. Mas o samba sempre esteve presente e ao lado do povo quando se fez necessário", enfatiza.
Veja, a seguir, a entrevista que Alcione concedeu, por escrito, ao PÚBLICO Brasil
Como vê a música brasileira hoje? Há um processo de renovação?
A música brasileira é pródiga em renovações. Temos a sorte de ter uma cultura múltipla, com inúmeros estilos musicais, e o Brasil sempre foi um celeiro de talentos.
Onde o samba se encaixa dentro deste contexto?
O samba é uma de nossas marcas, somos conhecidos pelo samba, pelo futebol. É quase como uma certidão, uma identidade. E também temos inúmeras vertentes no samba.
A nova geração de compositores está tendo o espaço e o reconhecimento que merece?
Bom, isso eu não tenho como avaliar, mas tento fazer a minha parte. Sempre gravei compositores das mais variadas gerações, e nunca optei por gravar essa ou aquela música pelo nome ou sobrenome dos compositores. Gravo o que sinto, que me agrada, que me arrepia.
Como vê o papel da mulher no mundo do samba? O machismo prevalece?
O machismo ainda persiste sim, infelizmente. No mundo do samba e, também, no cotidiano. Por isso, aliás, acabei de gravar Marra de Feroz, de Xande de Pilares, Gilson Bernini e Helinho do Salgueiro, um samba que fala sobre o machismo e a violência contra as mulheres.
O samba pode ser visto também como um movimento político e social? Por quê?
O samba e a música em si... As artes sempre contribuíram para as mudanças, fossem elas políticas ou sociais. No caso do samba, que foi tão discriminado no início, você poderá encontrar letras que versam sobre essas questões e retratam uma época de abusos contra os próprios artistas. Mas o samba sempre esteve presente e ao lado do povo quando se fez necessário.
A senhora vê apoio efetivo do poder público para a cultura?
Estamos em uma fase revigorante de nossa cultura, que andava bem esquecida tempos atrás.
Tem feito constantes apresentações no exterior. Como vê o reconhecimento aos artistas e à música brasileira?
A música brasileira é muito valorizada no exterior, e os artistas brasileiros são muito queridos pelos estrangeiros. No meu caso, especificamente, só tenho a agradecer pelo afeto e pela gentileza com que sempre me trataram em outros países. E olha que já bati muita perna pelo mundo!
Qual é a sua expectativa em relação aos shows em Portugal?
Os portugueses (e os brasileiros que moram por aí) sempre me receberam com muito carinho, e só posso ter expectativas positivas em relação aos espetáculos que apresentaremos.
O que pretende apresentar de novo em seus espetáculos?
É um show comemorativo, pelos mais de 50 anos de carreira, costurado por inúmeros hits (para o público cantar junto). Ah, e com algumas surpresas porque os fãs merecem.
Acredita que o Brasil tem futuro? Por quê?
Sim, tem futuro, porque o povo merece. Todos os povos merecem!