Maria Luís Albuquerque: “Espero que a minha experiência como ministra das Finanças me ajude”

Maria Luís Albuquerque, nome indicado pelo Governo português para a Comissão Europeia, reconhece que a União Europeia mudou e levantou o véu sobre a sua visão para o projecto europeu.

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A comissária europeia indigitada e ex-ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, esteve na última noite da Universidade de Verão do PSD Nuno Veiga / LUSA
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A expectativa manteve-se até ao último minuto. Só quando Maria Luís Albuquerque chegou à porta do hotel Sol e Serra, em Castelo de Vide, é que o suspense em torno da sua presença na Universidade de Verão do PSD foi desfeito. Sem declarações aos jornalistas, a ex-ministra das Finanças de Passos Coelho, e o nome escolhido por Luís Montenegro para representar Portugal na Comissão Europeia, deixou algumas pistas sobre a sua visão de projecto europeu e admitiu que tem uma "preferência" por uma pasta concreta, mas não a quis revelar. "Espero que a minha experiência como ministra das Finanças me ajude a ultrapassar tempos difíceis como aqueles que ultrapassámos"​, acrescentaria.

Aliás, a antiga governante não resistiu em defender as opções do executivo que integrou, sacudido a imagem negativa colada pela troika e sendo peremptória sobre a que diz ser a avaliação dos portugueses: "O país reconheceu o legado de Passos Coelho: nós ganhámos as eleições em 2015". A observação da ex-governante animou a sala e valeu o mais longo aplauso da noite. Mais tarde, acrescentaria que "as medidas mais duras, mais impopulares", mas "mais necessárias à recuperação" no período da troika foram tomadas por Vítor Gaspar, antes de Albuquerque lhe suceder em 2013. "O ano de 2012 foi um annus horribilis", reconheceria.

Num discurso que durou cerca de 20 minutos, e que foi seguido por uma sessão de perguntas e respostas às questões dos jovens alunos da Universidade de Verão do PSD, Maria Luís Albuquerque contou até as medalhas que os 27 Estados-membros da União Europeia (UE) trouxeram dos últimos Jogos Olímpicos, em Paris ("mais do que os EUA e a China juntos"), e insistiu que é preciso "pensar na União Europeia como um bloco".

Uma UE mais diversa e fragmentada

Notando que a UE mudou e que "há muitas coisas que antes eram pensadas [como sendo] impossíveis e que agora se fizeram", a ex-ministra das Finanças avisou que os próximos anos "não serão fáceis" e é preciso "ter uma Europa preparada para agir e não [para] reagir". É que "se os últimos cinco anos foram muito difíceis com a pandemia e a invasão da Ucrânia, os próximos anos não serão mais fáceis", notou. É preciso preparar a UE para "saber superar os desafios de um mundo menos previsível e estável".

Insistindo no projecto europeu como um "colectivo", vincou ainda que a Comissão Europeia é igualmente representada por cada país. "Cada país tem um comissário. Todos são iguais", declarou. Mas fez uma ressalva: "Um comissário europeu não é um representante de um país, é representante da pasta que tutela."

A ex-governante antecipa que os próximos anos tragam cada vez mais dificuldades em "concordar nos principais problemas" e na "hierarquização de prioridades", uma vez que a realidade da União Europeia é "cada vez mais diversa".

E embora garanta que os "objectivos ambiciosos" para a descarbonização são para manter, disse estar preocupada em garantir a capacidade de responder à "concorrência global".

A ex-ministra das Finanças assinalou ainda a sua preocupação com o envelhecimento demográfico, mas pede que as soluções não ponham "em causa os valores europeus", a "liberdade e o respeito pela dignidade humana".

"O que todos queremos na Europa é viver melhor", sintetizou. Para Albuquerque, "o que se faz melhor a nível europeu, deve ser feito a nível europeu e o que se faz melhor a nível nacional deve ser feito a esse nível".

Naquela que foi a sua primeira presença pública depois da sua indigitação, afirmou que é preciso “valorizar a pertença à Nato”. “Temos de caminhar para garantir que nos conseguimos defender”, sublinhou, defendendo que um dos caminhos será através da “reabilitação da indústria de defesa na Europa”.

A ex-governante quer também mais empresas a concorrer “na área da tecnologia”, nomeadamente no sector da Inteligência Artificial.

À chegada a Castelo de Vide, foi recebida pelo director da Universidade de Verão, o antigo eurodeputado Carlos Coelho, e pela ministra da Juventude Margarida Balseiro Lopes. Não respondeu a perguntas da comunicação social.

Costa deixou recados

Horas antes de subir ao palco, a ex-ministra das Finanças recebeu as "maiores felicidades" do ex-primeiro-ministro, António Costa. À chegada à Academia Socialista, onde foi o orador da noite, Costa não quis comentar que pastas gostaria de ver nas mãos de Portugal. E embora não tenha voltado a falar no nome de Maria Luís Albuquerque, deixou-lhe alguns recados, notando que a União Europeia agora prefere uma resposta "de solidariedade" no lugar de "austeridade" — uma nota que Albuquerque reconheceria na sua intervenção.

Agora, apresentados todos os possíveis membros da próxima Comissão Europeia, caberá à presidente, Ursula von der Leyen, a escolha e atribuição das diferentes pastas. Depois, entre Setembro e Outubro, haverá audições públicas no Parlamento Europeu aos nomes propostos para novos comissários europeus. Só depois a nova Comissão Europeia poderá tomar posse, o que se espera que aconteça até final do ano.

Segundo a agência Lusa, a liderança do Conselho Europeu por António Costa, a partir de Dezembro, não deverá implicar a atribuição a Portugal de uma pasta de menor importância na próxima Comissão Europeia.

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