Pelo menos 700 brasileiros com mais de 1 milhão de euros moram em Portugal

Há várias razões que têm levado milionários brasileiros a trocarem o Brasil por Portugal, a principal delas, a segurança. A lista inclui ainda diversificação do patrimônio e facilidade de circulação.

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Milionários brasileiros com mais de 1 milhão de euros de patrimônio líquido trocaram o Brasil por Portugal Leonhard Foeger
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Pelo menos 700 brasileiros com patrimônio líquido superior a 1 milhão de euros (R$ 6 milhões) estão morando em Portugal. Esse número foi mapeado pela gestora de recursos Portogallo Family Office, que tem escritórios em Lisboa, São Paulo e Santa Catarina. “Trata-se de um público bem exclusivo, que busca qualidade de vida, em especial, segurança”, afirma Magda Portugal, CEO da Portogallo. “Consideramos patrimônio líquido dinheiro disponível para investir. Não entram nessa conta imóveis ou outros bens”, acrescenta.

Para Gustavo Caiuby, diretor da Heed Capital em Portugal, é possível que o total de milionários brasileiros vivendo em território luso seja ainda maior. “Setecentos é um número realista, mas creio que esse público já esteja em mil pessoas”, afirma. “O interesse dos brasileiros mais ricos por Portugal é real. Dos nossos 240 clientes que usufruíram dos benefícios concedidos pelo governo português por meio do Golden Visa, 70 são brasileiros”, ressalta. Eles têm 21 milhões de euros (R$ 126 milhões) sob administração da gestora.

Senior adviser da 3J Capital Partners, Marcelo Sobreira acredita que parte dos milionários brasileiros que escolheram Portugal para morar busca a diversificação do patrimônio. Na avaliação dele, mesmo o Brasil tendo uma das maiores taxas de juros do mundo, de 10,5% ao ano, essa parcela da população prefere deixar uma parte dos recursos em moeda forte. “E faz todo sentido trazer parte do patrimônio para Portugal, onde a língua é a mesma e o euro funciona como escudo contra variações cambiais”, assinala.

Questão fiscal

Segundo Magda, a migração dos milionários brasileiros para Portugal começou em 2013, quando o governo decidiu taxar os investimentos detidos no exterior. “Muitos pensaram: já que vou pagar impostos no Brasil, prefiro ser tributado onde há segurança”, relata. “Num segundo momento, o que motivou a decisão de se cruzar o Atlântico foi a insegurança política e econômica no segundo mandato da então presidente Dilma Rousseff. O terceiro movimento de migração, mais recente, se deu durante o governo de Jair Bolsonaro, também por questões políticas, pois se temeu um golpe militar”, explica.

Soma-se a esses fatores, a implantação, pelo governo de Portugal, do regime de residente não habitual (RNH), isentando de impostos os ganhos obtidos no exterior e taxando em apenas 10% os rendimentos locais. Esse benefício fiscal acabou no fim do ano passado, mas, conforme Caiuby, ainda há pessoas ingressando no regime, num período de transição, pois iniciaram os pedidos antes da alteração da legislação. “Muita gente acelerou o processo diante das perspectivas de mudanças “, destaca. “Para os brasileiros, trata-se de uma vantagem e tanto.”

Sobreira prevê que o fluxo dos endinheirados brasileiros para Portugal vai continuar, ainda que não na velocidade vista até recentemente. É o que também pensa Magda, da Portogallo. “Infelizmente, o direito de ir e vir no Brasil está complicado. Em cidades como Rio e São Paulo, esse público anda de helicópteros e de carros blindados. Já em Portugal, não há problemas de circulação, pois a criminalidade é muito baixa”, diz. Também há, no entender dela, o fato de Lisboa ter se transformado em um grande hub, permitindo voos diretos para várias capitais da Europa e para a Ásia. “Essa mobilidade fácil conta muito”, afirma.

Golden Visa

Caiuby, da Heed Capital, assinala outro ponto importante: os benefícios fiscais concedidos por Portugal por intermédio do Golden Visa não acabaram, como muitos pensam. O que não está mais permitido é a compra de imóveis com incentivos nos grandes centros urbanos e nas regiões litorâneas. Contudo, é possível aplicar 500 mil euros (R$ 3 milhões) ou mais em fundos de investimentos que tenham pelo menos 60% da carteira em ações de empresas portuguesas, a mesma quantia em empresas com 10 ou mais empregados e os iguais 500 mil em pesquisas e tecnologia. “Há várias opções em aberto para atrair esse público”, enfatiza.

De olho nos milionários, os bancos brasileiros vêm reforçando suas estruturas em Portugal. O Banco do Brasil nomeou Karen Machado para ampliar o atendimento à clientela de alta renda. O Itaú Unibanco e o BTG Pactual têm travado uma boa briga para ver quem fica com a maior parte dos recursos disponíveis para aplicações. O Bradesco, por meio de seu escritório em Luxemburgo, também quer um naco dos negócios.

Sob a condição de não ter seu nome revelado, uma grande investidora brasileira fala ao PÚBLICO BRASIL sobre as razões de ter escolhido Portugal para morar. “O primeiro motivo foi a qualidade de vida, que envolve mais segurança. Depois, a facilidade de locomoção pela Europa”, afirma. Ela conta que já morou na Inglaterra, nos Estados Unidos e na Bélgica. “Mas, com toda certeza, Portugal é o mais estável em termos políticos e melhor na segurança diária, principalmente para mim, uma mulher sozinha”, acrescenta. “Acabei de comprar um imóvel em Cascais, e creio que vai se valorizar bem”, frisa.

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