Jeferson Valadares, o pernambucano que movimenta a indústria de games em Portugal

Há 25 anos na área, criador de games fundou a Associação de Produtores de Videojogos Portugueses e ajudou a colocar o país no mapa da produção de jogos. Hoje, dirige o escritório da Fortis em Lisboa.

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Jeferson Valadares vendeu a Doppio à Fortis, onde trabalha agora, em Portugal Jair Rattner
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A indústria dos games cresce a todo vapor e tem atraído cada vez mais talentos. Jovens e mais velhos — a idade é o que menos importa — têm se juntado para construir produtos que movimentam bilhões todos os anos. "Estamos falando da principal indústria cultural no mundo. O mercado de games é hoje maior do que o de filmes e o de música”, diz o pernambucano Jeferson Valadares, 47 anos, presidente da Associação Portuguesa de Videojogos Portugueses.

Estudo recente realizado pela Newzoo prevê que o mercado global de jogos vai faturar US$ 187,7 bilhões (R$ 1,1 trilhão) em 2024, com crescimento de 2,1% ante o ano anterior. O número de jogadores baterá em 3,42 bilhões.

Formado pelo Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco, ainda no final do século passado, Valadares e quatro sócios criaram uma empresa de videojogos, a primeira de várias que surgiriam ao logo dos anos. “Estava formado e queria trabalhar com jogos, mas não havia emprego. Então, tive que abrir a minha própria empresa”, conta.

Dos cinco jovens recém-formados, três eram da área de tecnologia e dois, da administrativa. "Tinha a ideia de que não era só criar os jogos, mas também precisávamos vender o que fazíamos”, afirma. Foi um período de muito aprendizado.

Inquieto, o pernambucano queria mais. E, em 2005, chegou à conclusão de que o caminho a seguir estava fora do Brasil. “Achei que já tinha tido a melhor experiência e, se quisesse crescer, precisava sair do país”, ressalta.

Valadares destaca que não foi muito difícil se adaptar a outro país. Filho de militar, ele estava acostumado a mudar de estado dentro do Brasil, que é quase um continente. Tinha vivido no Rio de Janeiro, em Belém do Pará, em Brasília, no Recife e em São Paulo. Não tinha raízes profundas com nenhum lugar.

Passou por Helsinki, na Finlândia, onde ficou dois anos, e por Londres, na Inglaterra, onde viveu por quatro anos. Outra parada, mais longa, foi São Francisco, nos Estados Unidos, um dos principais centros mundiais de produção de games.

Trabalhou na Electronic Arts — empresa que lançou o FIFA, The Sims e Need for Speed —, na japonesa Bandai Namco (Pac-Man e Dragon Ball), entre outras.

A escolha de Lisboa

Em 2018, o pernambucano decidiu voltar à Europa para investir numa empresa de desenvolvimento de games. Pensou em Londres, Paris, Estocolmo, Helsinki, Barcelona, mas se rendeu a Lisboa.

“Portugal é um bom lugar para investir. As pessoas falam bem o inglês, o que na Alemanha e na Espanha não dá para dizer o mesmo. Além disso, a cultura é bem ocidental, uma vantagem, porque jogos são uma coisa de cultura”, explica Valadares.

Mas ele admite que Portugal pode não ser uma boa escolha para todas as empresas. “O país tem boas universidades, com programadores e artistas qualificados. Faltam, contudo, experiência sênior e experiência de negócio. É difícil encontrar um português na área de gaming com 15 anos de trabalho”, afirma.

Para a empresa que Valadares estava construindo, a Doppio, Lisboa era o ideal. Ele e um sócio norte-americano asseguravam a experiência necessária. Juntos, lançaram o game Vortex. “A Amazon adorou o jogo, que ainda está disponível na Alexa, em português, inglês e espanhol”, diz.

Diante do sucesso desse jogo, conseguiram mais capital para a empresa, com investimentos da Amazon, da Google, da Portugal Ventures e da Bynd VC, as duas últimas, portuguesas. O segundo jogo foi o Desafio 3%, baseado na série 3%, da Netflix, feito em parceria com atriz brasileira Bianca Comparato.

Em 2021, a Doppio foi comprada pela Fortis, uma das grandes companhias mundiais da área de games. Os valores, porém, não foram divulgados. A Fortis está preparando um novo jogo, cujo lançamento está previsto para 2025.

“Os jogos levam de dois a sete anos para serem lançados. Podem ser mais caros do que um megafilme, mas geram mais receita. Agora, se o jogo estiver ruim, o melhor é cancelar”, frisa Valadares, que, em Lisboa, trabalha no desenvolvimento da tecnologia de jogo controlado por voz e não por joystick.

Como exemplo dos montantes envolvidos no negócio de games, ele cita o caso do Grand Theft Auto VI, que deverá ser colocado no mercado no ano que vem, 12 anos depois da versão 5. “Só o lançamento deve representar um investimento de 500 milhões de dólares (R$ 2,8 bilhões) em marketing”, avalia.

Associações

Valadares conta que foi fundador e é o primeiro presidente da Associação Portuguesa de Videojogos Portugueses, a APVP. “Não havia uma associação no país, e ajudei a construir a comunidade. Faz parte da minha cultura agregar”, afirma.

Ele já tinha tido experiência semelhante no Brasil, onde foi fundador e primeiro presidente da Abragames, a Associação Brasileira das Desenvolvedoras de Jogos Digitais, criada em 2004. "É importante manter a comunidade de desenvolvedores de games organizada", frisa.

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