Espécie de abelha invasora encontrada pela primeira vez na Europa

Há décadas que a abelha-do-mel-anã-vermelha, original da Ásia, colonizou regiões de África. Agora, uma equipa encontrou uma colónia do insecto em Malta. Espécie é um risco para a abelha-europeia.

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Uma colmeia da espécie Apis florea Dragfyre
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Uma espécie de abelha original da Ásia foi encontrada pela primeira vez na Europa, mais precisamente na ilha de Malta, no mar Mediterrâneo. Depois de um aviso nas redes sociais, uma equipa de investigadores identificou uma colmeia da abelha-do-mel-anã-vermelha (Apis florea) num ramo de uma acácia, perto da costa, no Sudeste da ilha, de acordo com um artigo publicado recentemente na revista Journal of Apicultural Research. A descoberta é um alerta para as abelhas europeias, principalmente para a abelha-europeia (Apis mellifera), que se organiza em colónias e produz mel.

“O estabelecimento da A. florea em Malta representaria um risco sério para a biodiversidade natural devido à competição de recursos e habitats”, lê-se no artigo assinado por David Mifsud, da Universidade de Malta, e por colegas.

A abelha-do-mel-anã-vermelha é mais pequena do que a abelha-europeia e é caracterizada por uma mancha alaranjada no abdómen. O seu território nativo vai do Sudeste asiático até ao golfo Pérsico. Mas, em 1987, foi identificada pela primeira vez no Sudão, em África. Desde então, tem-se espalhado pelo território africano e pela península Arábica, sendo encontrada em Israel, no Nordeste africano e na Jordânia. A chegada à Europa era uma possibilidade antevista pela comunidade de investigadores. A equipa que assina o artigo defende que o mais provável é que a espécie tenha chegado a Malta por navio.

Estamos “numa época em que vemos os efeitos positivos e negativos da globalização, isto é um dos negativos”, explica ao PÚBLICO Hugo Gaspar, biólogo e estudante de doutoramento do laboratório Flower Lab da Universidade de Coimbra. “Chegam espécies transportadas nos bens que movemos para trás e para a frente, e basta elas encontrarem boas condições e não haver o cuidado que deve ser tido no transporte das mercadorias, e acontece isto. Este é mais um exemplo do efeito da globalização”, refere o investigador, que não integrou o novo trabalho, e que está a especializar-se no estudo das cerca de 750 espécies de abelhas selvagens portuguesas.

As abelhas são insectos importantíssimos para a polinização das plantas. Além da competição pelos recursos florísticos, esta espécie invasora de abelhas traz consigo diferentes doenças, como vírus e parasitas, que podem “saltar” principalmente para a abelha-europeia, aumentando a pressão sobre esta espécie.

A colmeia descoberta em Malta tinha cerca de 2000 indivíduos, a maioria obreiras. Os investigadores dizem não ter encontrado a abelha rainha da colónia. Além de estudar as abelhas através de testes genéticos para se confirmar a espécie, a equipa eliminou imediatamente a colmeia para impedir o alastramento de mais um animal invasor em solos europeus.

“A partir do momento em que é uma espécie invasora e que representa um conjunto de ameaças para a abelha de mel e para outras abelhas selvagens, é necessário tomar medidas de controlo, penso que esse é o primeiro objectivo”, diz Hugo Gaspar, explicando a importância da erradicação destas colmeias.

Embora a equipa não tenha encontrado nas redondezas nenhuma outra colmeia de abelha-do-mel-anã-vermelha, não é 100% certo que a espécie tenha sido eliminada de Malta. Nesse sentido, o artigo também serve como aviso: “A presente comunicação tem como objectivo alertar as autoridades competentes e a comunidade de apicultores para estarem vigilantes e continuarem a monitorizar a possível presença de colónias de A. florea nas ilhas de Malta e nas áreas costeiras do Mediterrâneo, e para estarem preparados para medidas de erradicação eficazes.”