Após uma década de Alexa gratuita, Amazon quer cobrar por serviço mais avançado

A Inteligência Artificial é uma oportunidade para as empresas cobrarem por produtos que temos o hábito de utilizar gratuitamente.

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Dispositivos Echo, da Amazon. Muitas outras marcas incorporam o assistente Alexa BRIAN SNYDER
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Pagaria por um assistente digital menos estúpido? A Amazon está prestes a descobrir.

Caroline O'Donovan, do Washington Post, noticiou que a Amazon está a planear vender uma subscrição para uma versão renovada da [assistente virtual] Alexa com inteligência artificial (IA), que poderá custar até 10 dólares por mês [cerca de 9 euros].

Entre as características da subscrição Alexa, prevista para Outubro, estão sugestões de receitas baseadas nas restrições alimentares da sua família e resumos das notícias em IA.

A empresa já oferece o Amazon Prime e outras assinaturas. E a maioria das pessoas compra um altifalante Echo ou outro dispositivo da Amazon para aceder à Alexa. Ainda assim, uma versão paga do Alexa seria um marco. A empresa não cobrou dinheiro directamente pelo seu assistente digital nos 10 anos de história da Alexa — vai continuar a ser possível usar a versão actual do Alexa sem assinatura.

A Alexa paga seria mais um exemplo de uma taxa de subscrição para funcionalidades ou produtos tecnológicos — alguns dos quais já foram adquiridos sem custos adicionais.

As aplicações de encontros, os serviços de redes sociais e até as aplicações de tinta para impressora e de aparelhos de cozinha estão a promover as subscrições. A Google está entre as empresas que cobram um suplemento por mais armazenamento digital para o seu telemóvel. E os analistas tecnológicos sugerem que a Apple e a Samsung poderão, tal como a Amazon, cobrar uma assinatura por algumas funcionalidades de IA. A Apple e a Samsung não responderam imediatamente a um pedido de comentário.

Os assistentes digitais não cumpriram a sua promessa “inteligente”

Dezenas de milhões de americanos utilizam regularmente a Alexa e outros assistentes digitais, sobretudo para tarefas relativamente simples. Isso pode tornar difícil persuadir as pessoas a pagar por uma outra versão da Alexa.

De acordo com inquéritos realizados pela Consumer Intelligence Research Partners, cerca de dois terços dos americanos que possuem um dispositivo com Alexa utilizam-no pelo menos algumas vezes por semana para ouvir música e fazer perguntas simples, como verificar a previsão do tempo.

O grupo de investigação afirma que a maioria das pessoas nunca utiliza a Alexa para tarefas mais complexas, como acender as luzes ou fazer compras na Amazon.

Estas eram algumas das tarefas que a Amazon e outras empresas esperavam que fossem utilizadas de forma significativa nos assistentes de voz digitais. (A Amazon afirmou anteriormente que a maioria dos utilizadores de dispositivos Amazon utiliza a Alexa para os ajudar a fazer compras, mas a empresa não forneceu pormenores).

Na década de 2010, havia muito optimismo quanto à possibilidade de assistentes digitais como a Alexa, a Siri da Apple e o Assistente do Google se tornarem uma forma dominante de interagir com a tecnologia e mudarem a nossa vida como aconteceu com os smartphones.

Essas previsões estavam, na sua maioria, erradas. Os assistentes digitais eram mais burros do que as empresas afirmavam, e é muitas vezes irritante dizer comandos em vez de escrever num teclado ou tocar num ecrã táctil.

Demonstrada pela primeira vez há um ano, a Alexa, que passou por uma revisão da IA, baseia-se numa tecnologia diferente da do actual assistente digital. A Siri e o Assistente do Google — agora substituído em grande parte pelo chatbot Gemini —, também foram objecto de remodelações em termos de inteligência artificial.

Após uma década de utilização dos assistentes de voz para enviar um texto rápido, consultar a meteorologia ou reproduzir música, ainda não foi testado se as pessoas querem versões com IA para interacções mais complicadas. Talvez os nossos hábitos com os assistentes digitais sugiram que gostamos de tecnologia com objectivos limitados para fazer apenas o básico.

Outros auxiliares de IA com taxa de subscrição

Se está a pensar que não há qualquer hipótese de pagar por uma Alexa com IA, deveria ver quantas pessoas subscrevem o ChatGPT da OpenAI.

Embora o chatbot seja gratuito para qualquer pessoa, o ChatGPT também tem uma subscrição de 20 dólares por mês com software de IA mais avançado e um limite mais elevado para o número de interacções.

A consultora Sensor Tower estima que mais de dois milhões de assinantes (novos e existentes) pagaram pelo ChatGPT através das apps para smartphones em Julho. (A OpenAI não revela quantos subscritores tem).

Não é desprezível que alguns milhões de pessoas estejam a desembolsar 20 dólares por mês por um ajudante de IA.

Para comparação: o Post disse que tem cerca de 2,5 milhões de assinantes. A Snap revelou que tinha 11 milhões de subscritores no final de Junho para o seu Snapchat Plus de 3,99 dólares por mês, que tem extras como as classificações de amigos. A Netflix tem 278 milhões de subscritores.

O Google não cobra directamente pelo chatbot Gemini, mas inclui opções de IA mais avançadas numa subscrição do Google de 19,99 dólares por mês [22 euros em Portugal] com uma série de outras funcionalidades.

As funcionalidades de IA da Apple na próxima versão do seu sistema operativo iOS não terão custos adicionais, embora seja provável que seja necessário um novo iPhone para utilizar toda a IA.

A Amazon será então, por enquanto, a única empresa a cobrar uma assinatura para o sucessor de um popular assistente digital que as pessoas têm usado gratuitamente desde a década de 2010. A Amazon recusou-se a comentar uma opção de subscrição para a AI Alexa, que a empresa não discutiu publicamente.

A mania da IA está a dar às empresas uma nova oportunidade para cobrar mais. Agora está nas suas mãos saber se as funcionalidades prometidas valem a pena ou se não consegue suportar mais subscrições.


Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post
Tradução: Pedro Esteves

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