A dieta das abelhas é sobretudo açúcar. Como é que não têm diabetes?

Estudo publicado esta semana dá mais pistas sobre como o metabolismo das abelhas sobressai face à quantidade de açúcar ingerida por estes insectos.

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Até 60% da alimentação das abelhas pode ser constituída por açúcares Teresa Pacheco Miranda
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A pergunta não é absurda e, possivelmente, já muitos pensaram nela: como é que as abelhas não têm diabetes com um consumo tão abusivo de açúcar? A resposta soa bastante simples. As abelhas têm um metabolismo e uma regulação do açúcar no sangue bastante mais eficaz do que os humanos, por exemplo — embora se saiba que com a quantidade de açúcar que as abelhas consomem outros animais também poderiam ter sintomas de diabetes.

Neste caso, falamos das abelhas-de-mel (ou melíferas), as mais conhecidas — mas que não são o único tipo de abelhas que existe no planeta. Estas abelhas têm uma dieta exclusiva de néctar e pólen das plantas, algo fundamental para a produção de mel, mas também para o equilíbrio ecológico. Por exemplo, a polinização pelas abelhas (e por outros insectos) é fulcral para garantir a produção de sementes e frutos pelas plantas.

Esta alimentação das abelhas-de-mel tem, no entanto, algo proibitivo para a maioria dos bichos: a sua dieta pode corresponder a até 60% de açúcar, o que provocaria sintomas similares à diabetes mellitus em animais como, por exemplo, as moscas-da-fruta.

Ora, uma das responsáveis por impedir que tal aconteça em abelhas-de-mel é a microbiota intestinal destes insectos — ou seja, as bactérias, vírus e outros microrganismos no intestino destas abelhas. Esta microbiota intestinal já era conhecida por ter a capacidade de equilibrar o açúcar no sangue e o metabolismo das abelhas. E, como a diabetes mellitus é uma doença em que a quantidade de açúcar no sangue está elevada, isso explica esta vantagem evolutiva.

Embora se conheça este panorama geral, a verdade é que os mecanismos pelos quais esta microbiota actua de forma tão eficaz na regulação do açúcar no sangue não são explícitos — também porque a investigação sobre o metabolismo das abelhas não é um tema recorrente da ciência. No entanto, há genes envolvidos.

A equipa de Xue Zhang, investigador da Universidade Agrícola da China, comparou as características do metabolismo energético de abelhas com microbiotas “esgotadas” e outras com microbiotas normais para encontrar pistas sobre o que pode explicar este competente metabolismo destes insectos.

E, na expressão dos genes de um péptido (um segmento de uma proteína) semelhante à insulina, encontraram uma pista, como mostram num trabalho publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences​. Os investigadores testaram o que acontecia quando as abelhas-de-mel ficavam sem parte da microbiota. Resultado: o corte levou à redução da expressão de substâncias semelhantes à insulina, com estas abelhas a mostrarem sintomas semelhantes à diabetes de tipo 1 em humanos, como hiperglicemia ou diminuição do metabolismo.

O culpado será um metabólito bacteriano, ou seja, uma substância produzida pelo metabolismo da bactéria Lactobacillus, chamado succinato, que tem um papel fundamental na activação do gene “ilp” — por sua vez essencial na regulação do metabolismo das abelhas.

As abelhas não têm diabetes, naturalmente, mas mais do que isso, esta é mais uma resposta para as perguntas sobre o metabolismo das abelhas e a forma como conseguem digerir os seus alimentos — o néctar e o pólen das plantas. Enquanto o néctar funciona como o seu combustível para voar ou para a regulação térmica do corpo, é ao pólen que estes insectos vão buscar as proteínas, gorduras e micronutrientes para se manterem vivos.

Ainda assim, continuamos à procura de mais explicações para compreender melhor o metabolismo das abelhas — geralmente, um único gene não explica tudo. Em Portugal, como explica Hugo Gaspar, investigador da Universidade de Coimbra, há “perto de 750 espécies de abelhas” e nem todas comem o mesmo açúcar. Tudo depende da sua dieta. Por exemplo, “pelo menos um quinto das espécies faz misturas que incluem pólen de plantas específicas”, o que faz variar a quantidade de açúcar consumido. Seja a quantidade que for, o metabolismo das abelhas parece lidar bem com o excesso de doce.

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