Tensão elevada em dia de manifestações contrárias na Venezuela
Governo e oposição convocaram manifestações para esta quarta-feira, um mês depois das eleições que tanto Maduro como os antichavistas dizem ter vencido. Candidato oposicionista em risco de prisão.
Praticamente um mês depois das eleições presidenciais venezuelanas, o país sul-americano está longe de estar pacificado com a ideia de que Nicolás Maduro foi o vencedor e ficará no cargo por mais seis anos. Para esta quarta-feira estão marcadas manifestações a favor e contra o regime e espera-se um dia de alta tensão.
O candidato presidencial Edmundo González Urrutia foi convocado na segunda-feira, pela segunda vez, pelo Ministério Público para ser interrogado no âmbito de uma investigação à publicação de actas eleitorais na Internet. Depois de não ter comparecido à primeira convocatória durante o fim-de-semana, o líder oposicionista terá de responder ao pedido do Ministério Público até esta terça-feira de manhã.
Segundo a lei venezuelana, uma terceira recusa de González em comparecer ao interrogatório poderá levar o Ministério Público a declarar o político contumaz e a emitir um mandado de detenção. A segunda intimação diz que o candidato presidencial será interrogado num caso em que é suspeito de usurpação de funções da autoridade eleitoral, falsificação de documentos, incitação a actividades ilegais, entre outros crimes.
O líder oposicionista gravou um vídeo em que justificava a sua recusa por não lhe ter sido dada toda a informação sobre as condições do testemunho e por se considerar “pré-acusado de crimes que não foram cometidos”. “O procurador-geral tem-se comportado reiteradamente como um intimidador político, condena de forma antecipada e agora apresenta uma convocatória sem garantias de independência nem de processo legal”, afirmou González.
A oposição acusa o regime de ter falseado os resultados das eleições presidenciais de 28 de Julho e tem exigido a publicação integral das actas eleitorais. Maduro proclamou-se vitorioso após a contagem do Conselho Nacional Eleitoral, composto na sua maioria por elementos fiéis ao chavismo, apesar de a generalidade das sondagens à boca das urnas atribuir uma vitória sólida ao candidato da oposição.
A plataforma que congrega os partidos antichavistas disse que a sua contabilização aponta para uma vitória de González e tem exigido a publicação das actas eleitorais. A decisão, na semana passada, do Tribunal Supremo que veio dar razão a Maduro não tem desarmado a oposição, que continua a não reconhecer a reeleição do sucessor de Hugo Chávez.
No fim-de-semana, a líder opositor,a María Corina Machado, que foi impedida de se candidatar às eleições, convocou um protesto para esta quarta-feira em Caracas, na data em que se assinala um mês desde as presidenciais. A iniciativa, disse Machado, é denunciar “a fraude de Maduro e do seu regime”.
Num dia que tem todos os ingredientes para ser tenso – desde as eleições, morreram 27 pessoas durante as manifestações e foram feitas 2400 detenções –, o chavismo também marcou uma grande marcha para “celebrar” a vitória de Maduro.
“Vamos marchar durante todo o dia na quarta-feira e em toda a Venezuela para celebrar a vitória e para nos prepararmos para o que aí vem: uma revolução que se revê, uma revolução capaz de reajustar os avanços, as metas, os objectivos para que o nosso povo a cada dia possa ter mais poder”, afirmou o deputado do Partido Socialista Unido da Venezuela, Diosdado Cabello, um dos mais influentes membros da elite política.
A oposição tem contado com um forte apoio internacional, mesmo entre países com governos ideologicamente mais próximos do chavismo, como o Brasil e a Colômbia. A comunidade internacional tem pressionado as autoridades venezuelanas a divulgar as actas eleitorais como forma de pacificar o país.
Uma excepção é protagonizada pelo Presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, que reconheceu de imediato a reeleição de Maduro e lançou duras críticas aos líderes estrangeiros que pedem mais transparência. Num discurso, Ortega acusou o Presidente brasileiro, Lula da Silva, de ser “servil” e de se estar a “degradar”. Lula, visto como um aliado de Maduro e criticado anteriormente por ter posições pouco duras em relação ao regime de Caracas, chegou a sugerir a marcação de novas eleições para apaziguar a situação.