Há mais de 2600 espécies de borboletas nocturnas e 40 delas “moram” em Coimbra

Numa noite de Agosto, o movimento Jardim Monte Formoso montou armadilhas luminosas com caixas de ovos. Foi assim que caçou algumas espécies.

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Uma das que causaram mais espanto foi a Catocala optata Pedro Pires
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Às portas do Bairro do Monte Formoso, num terreno da Fundação Bissaya Barreto, uma noite de Agosto tornou-se palco de descoberta: uma sessão de observação conseguiu identificar 40 espécies de borboletas. A actividade integra o programa de educação ambiental do São flores, Coimbra!, uma iniciativa do movimento Jardim Monte Formoso que visa sensibilizar para a conservação da biodiversidade e dos ecossistemas em meio urbano.

Na semana passada, miúdos e graúdos não foram caçar borboletas, mas antes observá-las, de perto, com a ajuda do especialista Pedro Pires. E também de uma técnica simples, mas eficaz: uma armadilha luminosa constituída por muitas caixas de ovos vazias. Atraídas pela luz, as borboletas aproveitavam as caixas para se refugiarem.

“Um dos participantes mais novos (eram cerca de 20) comentou connosco a experiência incrível que foi observar de perto estas criaturas fascinantes, que poisam mesmo em cima de nós”, conta Catarina Maia, uma das dinamizadoras do Jardim Monte Formoso e desta sessão de observação. “A maior parte das pessoas está apenas desperta para o património edificado das cidades, e pouco para o património natural. E acções como esta podem sensibilizar a comunidade para aumentar o conhecimento sobre a diversidade de espécies de borboletas nocturnas – que são mais de 2600 em Portugal – e sobre o papel vital que estas desempenham no equilíbrio dos ecossistemas”.

Pedro Pires guiou o grupo ao longo de quase três horas de observação. Natural de Coimbra, este entomologista amador, responsável pelo site Lusoborboletas e co-autor do livro Metamorfose: Um Livro sobre As Borboletas do Rio Mondego, sublinhou que apesar de 2024 estar a ser “um ano especialmente mau no que diz respeito ao registo do número de insectos na Europa, o facto de serem aqui identificadas mais de 40 espécies nesta sessão é bastante surpreendente e encorajador”.

No meio destas quatro dezenas que poisaram nas caixas de ovos espalhadas pelo terreno, uma das que causaram mais espanto foi a Catocala optata, uma borboleta relativamente grande da família que possui cores vermelhas nas asas posteriores, as quais servem de alarme a possíveis predadores. “Outra espécie interessante foi a pequena Acontia trabealis, com o seu padrão amarelo e negro, a fazer lembrar um tigre ou um leopardo, que deixou todos maravilhados quando observada de perto”, recorda Catarina Maia, ao mesmo tempo que destaca o potencial destas actividades no sentido de “chamar a atenção para a necessidade de repensar a gestão dos espaços verdes, tendo em conta a frequência dos cortes, o uso de herbicidas e a poluição luminosa”.

“Sem flores não há borboletas”

O projecto de inventariação das espécies de borboletas está intimamente ligado ao programa São Flores, Coimbra!, promovido desde há três anos pelo grupo Jardim do Monte Formoso. “Sem flores não há borboletas e sem borboletas não há flores”, destaca Catarina Maia, que em 2021 criou este movimento. A ideia partiu de “uma coisa simples: melhorar os espaços verdes aqui no Bairro do Monte Formoso”, contou ao PÚBLICO esta ambientalista. Explica como daí partiu para a sensibilização das pessoas para as plantas autóctones nos seus jardins e varandas, e o impacto que isso pode ter na consciencialização do nosso património natural. É por isso que nos últimos tempos o grupo tem descido à Baixa da cidade para recuperar as floreiras e canteiros abandonadas à porta de prédios e lojas, plantando aí várias espécies autóctones: macela-real (Achillea ageratum), milefólio (Achillea millefolium), roselha-grande (Cistus albidus), viúvas (Trachelium caeruleum), aquilégia (Aquilegia vulgaris) e cabelos-de-vénus (Nigella damascena). Além das intervenções nos canteiros e floreiras da cidade, o Jardim do Monte Formoso já semeou vários miniprados na freguesia de Santo António dos Olivais.

De caminho, o grupo apercebeu-se de que “as borboletas nocturnas são um grupo muito pouco conhecido, e muito maior”. As borboletas diurnas representam menos de 150 espécies em território português. “A maior parte das pessoas pensa que as borboletas nocturnas são as traças”, aponta Catarina Maia, numa altura em que o grupo prepara já sessões para 2025. No que respeita à plantação de flores e plantas, estão previstas actividades já para o próximo Outono.

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