Especialista afirma que serviços públicos “acabam por ser ultrapassados” por smartphones nos alertas

Presidente do Centro de Estudos e Intervenção em Protecção Civil sugere que é preciso alargar o sistema de avisos por SMS já utilizado para os fogos florestais.

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O presidente do CEIPC afirma que os smartphones "são suficientemente expeditos" nos alertas aos cidadãos Manuel Roberto
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O presidente do Centro de Estudos e Intervenção em Protecção Civil (CEIPC) considerou esta segunda-feira que os serviços públicos "acabam sempre por ser ultrapassados" pela capacidade comunicacional dos smartphones no envio de alertas de desastres naturais.

Duarte Caldeira falava à agência Lusa na sequência da justificação do comandante nacional de emergência e protecção civil, André Fernandes, sobre a falta de informação na página da internet da Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil (ANEPC) e nas redes sociais do organismo à hora — 05h11 — que o sismo, de 5,3 na escala de Richter, foi registado esta madrugada ao largo de Sines.

Ao início da manhã, André Fernandes explicou que às 06h00 foi "emitido um primeiro post nas redes sociais que tinha uma indicação" para a página da ANEPC.

Questionado pela Lusa sobre o método de comunicação usado pela ANEPC, o presidente do CEIPC afirmou que os smartphones "são suficientemente expeditos" nos alertas aos cidadãos, salientando que "uma percentagem muito significativa da população conseguiu ser alertada do sismo" ao recorrer "imediatamente às redes sociais e à troca de mensagens entre toda a gente".

"Isto é também um desafio ao sistema. Tem-se falado muito nos alertas via SMS [serviço de mensagens curtas]. Os alertas SMS têm sido testados em relação aos incêndios florestais, mas ainda não entraram na estrutura de aviso à população. Talvez seja de reflectir, precisamente, se não se deve alargar a todas as circunstâncias emergência, de uma vez por todas, o envio de alertas, uma vez que está demonstrado hoje que os smartphones são um instrumento de rapidez comunicacional (...) que faz com que não haja um mecanismo de alerta", afirmou.

"Utilizando as mesmas tecnologias, os serviços públicos acabam sempre por ser ultrapassados, porque não há possibilidade de um serviço público, no modelo actual ter mecanismos mais expeditos e mais rápidos de aviso à população do que aqueles que já estão disponíveis tecnologicamente e comunicacionalmente", sustentou o especialista em protecção civil.

Duarte Caldeira disse que "a generalidade dos cidadãos do país" foi alertada por alertas da Google e por alertas em smartphones com o sistema operativo daquela tecnológica norte-americana, Android, e "depois comunicaram entre si" através de mensagem.

"Facilmente se concluirá que hoje ou os mecanismos de alerta são alicerçados em instrumentos tecnológicos ou são rapidamente ultrapassados pelas próprias informações que hoje estão disponíveis ao conjunto dos cidadãos", observou.

Sobre a não activação de planos especiais após o sismo de hoje, o presidente do CEIPC explicou que "não se preencheram as condições no plano" de emergência da protecção civil, que só é activado a partir de 6,1 na escala de Richter, lamentando "um excesso de alarmismo" criado pelos decisores políticos.

"Aquilo que a ANEPC fez é o que é suposto em condições normais em ocorrências análogas a esta, que, na presença de uma caracterização de uma ocorrência deste tipo, sem danos materiais, foi possível avaliar em tempo útil e accionou os mecanismos de informação pública", frisou.

O especialista em protecção civil lembrou ainda que "todo o cidadão tem direito a ser informado sobre os riscos em que pode estar exposto e informado de como é que se pode defender" e que os decisores políticos devem continuar "a trabalhar no sentido de dar continuidade à preparação da sociedade para enfrentar de uma forma mais eficaz, eficiente e em razão da sua autoprotecção os riscos a que estão sujeitos".

Um sismo de magnitude 5,3 na escala de Richter com o epicentro localizado 58 quilómetros a oeste de Sines, no distrito de Setúbal, foi registado às 05h11 de dia 26 de Agosto, sem causar danos pessoais ou materiais.

O sismo teve uma intensidade máxima de IV/V na escala de Mercalli, classificada como moderada a forte, sendo seguido de pelo menos quatro réplicas, segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera. O abalo foi sentido em várias zonas de Portugal e com maior intensidade nas regiões de Setúbal e Lisboa.