Rússia castiga a Ucrânia por incursão de Kursk

Moscovo lançou um dos maiores ataques aéreos contra a Ucrânia, causando danos graves ao sistema energético ucraniano. Zelensky apela ao abate de mísseis russos pelos membros da NATO.

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Bombardeamentos russos atingiram zonas residenciais em várias regiões ucranianas KATERYNA KLOCHKO / EPA
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A Rússia lançou nesta segunda-feira um dos maiores ataques aéreos contra o território ucraniano desde o início da invasão ao país vizinho. Foram lançados cerca de cem mísseis e cem drones que visaram sobretudo a infra-estrutura energética ucraniana, mas que também fizeram vítimas entre a população civil.

Pelo menos cinco pessoas morreram na sequência dos bombardeamentos russos que foram descritos como os mais violentos das últimas semanas. O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, denunciou “um dos maiores ataques” contra a Ucrânia e disse ter envolvido “mais de cem mísseis de vários tipos e cerca de cem [drones de fabrico iraniano] Shaheds”.

Apelando à intervenção directa por parte dos seus parceiros ocidentais para travar ataques aéreos inimigos, Zelensky declarou que “a hora para acções decisivas é agora”. “Por toda a Ucrânia, poderíamos fazer muito mais para proteger vidas se a aviação dos nossos vizinhos europeus trabalhasse em conjunto com os nossos F-16 e com os nossos sistemas de defesa antiaérea. Se essa unidade se mostrou eficaz no Médio Oriente, deverá resultar na Europa também”, afirmou o Presidente ucraniano.

A Ucrânia recebeu recentemente os primeiros caças F-16 e a expectativa é que os primeiros voos destas aeronaves cedidas pelos membros da NATO ocorram ainda durante o Verão.

Os apelos de responsáveis ucranianos junto dos aliados ocidentais de Kiev também foram reforçados pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Dmitro Kuleba, que pediu a tomada de duas decisões que podem ajudar a Ucrânia a “travar a Rússia”. “Primeiro, apoiar os bombardeamentos de longo alcance ucranianos contra todos os alvos legítimos em território russo. Segundo, concordar na utilização das capacidades de defesa aérea dos nossos parceiros para abater mísseis e drones perto do seu espaço aéreo”, afirmou Kuleba.

Países como os EUA e outros membros da NATO têm avisado a Ucrânia para não utilizar armamento ocidental para atacar alvos em território russo, receando que isso possa suscitar uma resposta directa de Moscovo, aumentando as hipóteses de desencadear uma guerra mais ampla.

O pesado bombardeamento russo desta segunda-feira surge após a incursão ucraniana na província de Kursk, que permitiu às forças de Kiev, pela primeira vez desde que Moscovo lançou a invasão, ocupar parte do território russo. A operação, que decorre há quase três semanas, foi recebida como uma surpresa, tanto por parte das autoridades russas como pelos parceiros ocidentais da Ucrânia.

No domingo à noite, Zelensky anunciou que as forças ucranianas capturaram mais localidades na região fronteiriça e, até ao início da semana passada, Kiev controlava mais de 1200 quilómetros quadrados de território russo.

Para Kiev, o objectivo desta incursão é sobretudo psicológico, ambicionando forçar a Rússia a travar a ofensiva na Ucrânia e aceder às exigências ucranianas em futuras negociações de paz. Depois de passar meses a tentar resistir às ofensivas russas no Donbass, a Ucrânia conseguiu retomar a iniciativa com o ataque a Kursk. Antes disso, as forças ucranianas já tinham realizado ataques aéreos contra alvos na Rússia, mas nunca tinham tentado uma incursão terrestre.

Em entrevista à britânica BBC Radio 4 a partir de Moscovo, a professora de Relações Internacionais da The New School em Nova Iorque, Nina Krushcheva, dizia que a guerra na Ucrânia passou a estar “na mente” dos russos após a incursão em Kursk. “Há menos produtos, os preços aumentaram, há muito mais retórica militar vinda de todo o lado.”

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