Afinal não foi o sismo mais forte (nem o mais intenso) dos últimos 60 anos

O sismo ocorrido nesta madrugada, com 5,3 na escala de Richter, foi sentido com grande intensidade, mas nem por isso foi o mais forte.

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Placa de sinalização de zona de evacuação em caso de tsunami, em Lisboa Daniel Rocha
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Às 5h11 da madrugada desta segunda-feira, foi registado um sismo com epicentro a 60 quilómetros de Sines. Amontoam-se os relatos de pessoas que acordaram com o abanão, ficando a ideia de que este terá sido o sismo mais forte dos últimos 60 anos em Portugal.

Com 5,3 na escala de Richter, o sismo de 26 de Agosto de 2024 não foi o mais forte dos últimos anos. Contudo, pode estar entre os mais sentidos. Isto é, a sua magnitude não foi a maior, mas a sua intensidade foi elevada.

A escala de Richter, organizada de zero a dez, classifica os sismos, consoante a sua magnitude, como: micro (menos de 2,0), muito pequeno (2,0-2,9), pequeno (3,0-3,9), ligeiro (4,0-4,9), moderado (5,0-5,9), forte (6,0-6,9), grande (7,0-7,9), importante (8,0-8,9), excepcional (9,0-9,9) e extremo (superior a 10).

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É, no entanto, a escala modificada de Mercalli que define a sua intensidade, de I (imperceptível) a XII (catastrófico). O sismo desta madrugada está avaliado em V/VI na escala de Mercalli, ou seja, moderado/pouco forte.

A existência destas duas escalas e a falta de conhecimento sobre elas criam, muitas vezes, a ideia errada de que o sismo de 1969 foi o mais forte na escala de Richter nos últimos 60 anos. Na verdade, o que ocupa essa posição é um sismo muito menos problemático.

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26 de Maio de 1975, Madeira. 8,1 na escala de Richter

Este sismo com uma impressionante magnitude de 8,1 atingiu o patamar de V/VI na escala de Mercalli, na Madeira, os mesmos valores que a ocorrência desta madrugada de 26 de Agosto. Causou somente danos ligeiros no arquipélago e foi sentido, com menor intensidade, na parte ocidental de Portugal continental e Espanha, bem como em algumas ilhas açorianas, nas Canárias e em Marrocos. Além disso, acabou por gerar um tsunami, registado por um marégrafo de Ponta Delgada. Com menos 0,6 na escala de Richter, o sismo de 1969 criou muito mais estragos.

28 de Fevereiro de 1969, Lisboa e Algarve. 7,5 na escala de Richter

O sismo que atingiu o Sul do país e a região de Lisboa, às 3h41, foi o último grande sismo a ocorrer em Portugal continental, e o mais importante do século XX. Atingiu o patamar VI/VII na escala de Mercalli, em Lisboa. No Algarve, foi observada uma intensidade de VIII, ou seja, foi considerado destrutivo.

Nesse dia, o sismo provocou pânico entre a população. Foram cortadas várias linhas de telecomunicações, bem como o fornecimento de energia eléctrica. Em Portugal continental registaram-se 13 vítimas mortais e foram reportados 58 feridos. Caíram chaminés e foram destruídos vários veículos estacionados, verificaram-se fendas nas paredes, vidros partidos e deslocamento de telhas. Foram derrubadas cerca de 400 casas.

Entre 28 de Fevereiro e 24 de Março de 1969 ocorreram 47 réplicas e, apesar de ser dos sismos mais mediáticos da história de Portugal (provavelmente só vencido pelo de 1755) e de ter tido uma intensidade bastante elevada, nos últimos 60 anos houve um outro com classificação superior na escala de Mercalli.

1 de Janeiro de 1980, Açores. 6,7 na escala de Richter

Foi às 16h42 do primeiro dia de 1980 que ocorreu um sismo com magnitude de 6,7, com epicentro no mar entre a ilha Terceira e São Jorge. A ocorrência foi sentida em todas as ilhas, à excepção de Flores e Corvo. O terramoto provocou 61 mortes, mais de 300 feridos e milhares de desalojados, causando prejuízos por várias ilhas açorianas. Mas de 15 mil habitações ficaram danificadas ou destruídas.

Na localidade das Doze Ribeiras, na ilha Terceira, o sismo foi sentido com grau VIII/IX na escala de Mercalli, isto é, destrutivo/ muito destrutivo.

26 de Agosto de 1966, Santiago do Cacém. 4,7 na escala de Richter

Há precisamente 58 anos, a 26 de Agosto de 1966, Portugal também sentiu um abanão. Às 5h56 registou-se um sismo de magnitude 4,7, com uma intensidade de Mercalli de VII, em São Bartolomeu da Serra, Santiago do Cacém. À semelhança do de 2024, não foram registadas vítimas nem danos materiais.

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