Inundações no Bangladesh causam 23 mortes e desalojam 5,7 milhões

Milhões de pessoas afectadas pelas cheias no Bangladesh continuam isoladas e precisam de comida, água potável, medicamentos e roupas secas. Se a água não recuar, agricultores perderão colheitas.

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Um homem carrega a neta às costas enquanto atravessa as águas das cheias na zona de Fazilpur, em Feni, no Bangladesh, dia 26 de Agosto Mohammad Ponir Hossain/REUTERS
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Subiu para 23 o número de mortos nas inundações devastadoras causadas pelas chuvas de monções no Bangladesh, que fizeram transbordar os rios e deixaram cerca de 1,24 milhões de famílias retidas em 11 distritos, informaram as autoridades esta segunda-feira.

À medida que as águas das cheias recuam lentamente, muitas dos 5,7 milhões de pessoas afectadas permanecem isoladas e necessitam urgentemente de alimentos, água potável, medicamentos e roupas secas, sobretudo em zonas remotas onde as estradas bloqueadas têm dificultado os esforços de busca e salvamento.

O Departamento Meteorológico do Bangladesh declarou que as condições de inundação poderiam persistir se as chuvas da monção continuassem, uma vez que o nível das águas estava a baixar muito lentamente.

Cerca de 470.000 pessoas refugiaram-se em 3500 abrigos nos distritos atingidos pelas inundações, onde cerca de 650 equipas médicas se encontram a prestar cuidados, juntamente com o exército, a força aérea, a marinha e a guarda fronteiriça do país sul-asiático a ajudarem nas operações de salvamento e de socorro, segundo as autoridades.

Extensos territórios ainda estão submersos, o que representa uma ameaça significativa para as culturas agrícolas se as águas das cheias não recuarem rapidamente, disseram funcionários do Ministério da Agricultura.

Uma análise efectuada em 2015 pelo Instituto do Banco Mundial estimou que 3,5 milhões de pessoas no Bangladesh, um dos países mais vulneráveis ao clima do mundo, estavam em risco de inundações anuais dos rios. A ciência climática comprova que o agravamento destes fenómenos catastróficos se deve às alterações climáticas, que tende a tornar estes episódios mas frequentes e intensos.

“Países como o Bangladesh, com emissões insignificantes e cuja população tem demonstrado uma grande capacidade de resistência, merecem fundos imediatos para fazer face aos impactos das alterações climáticas e das catástrofes frequentes”, afirmou Farah Kabir, director da ActionAid Bangladesh.

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As águas das cheias deixaram muitas pessoas isoladas e com necessidade urgente de alimentos, água potável, medicamentos e roupas secas, sobretudo em zonas remotas Mohammad Ponir Hossain/Reuters

“Precisamos de recuperar das perdas e dos danos sofridos, bem como de criar resiliência face aos impactos futuros e adoptar vias de desenvolvimento ecológicas”, acrescentou o responsável.

Num dos distritos mais atingidos, Noakhali, Shukuri Begum, de 56 anos, perdeu a casa quando esta foi arrastada pelas águas das cheias para um lago, segundo a ActionAid. Aterrorizada, a moradora fugiu com os netos para a casa de um vizinho, mas não pôde ficar lá muito tempo porque já não era seguro.

“Tenho um filho com deficiências físicas e não pudemos levá-lo connosco. Tivemos de empilhar camas e deixá-lo em cima, na esperança de que ficasse em segurança. Não sei o que nos espera”, disse Shukuri Begum, citada pela ActionAid.

"Rápido regresso à normalidade"

O Conselheiro Principal do Governo, Mohammad Yunus, declarou, num discurso transmitido pela televisão, que a administração adoptou todas as medidas necessárias para assegurar um rápido regresso à normalidade das vítimas das inundações.

Yunus, laureado com o Prémio Nobel da Paz, dirige o governo provisório que tomou posse depois de a antiga primeira-ministra Sheikh Hasina ter fugido do país na sequência de uma revolta liderada por estudantes este mês.

Algumas pessoas no Bangladesh alegaram que as inundações foram causadas pela abertura de comportas de barragens na vizinha Índia, uma afirmação que Nova Deli rejeitou. “Iniciámos conversações com os países vizinhos para evitar futuras situações de inundação”, disse Yunus.

Abdul Halim, um agricultor de 65 anos de uma aldeia do distrito de Comilla, disse que a sua cabana foi varrida por uma onda de água de três metros de altura a meio da noite.

“Não há bens nem água. Quase ninguém veio com a ajuda humanitária para o interior das aldeias. É preciso ir fisicamente até perto da estrada principal para a recolher”, disse Abdul Halim à Reuters.

“O impacto das chuvas da monção deste ano foi generalizado e devastador”, afirmou Kabita Bose, directora nacional da Plan International Bangladesh. “Comunidades inteiras foram completamente inundadas e há agora milhões de pessoas, incluindo crianças, que precisam de abrigo seguro e de assistência humanitária que salve vidas”, afirmou a responsável.

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