Director executivo do Telegram detido em França

Pavel Durov poderá ser acusado de vários crimes, “incluindo terrorismo, tráfico de droga, fraude, lavagem de dinheiro e pornografia infantil”. Detenção motivou críticas de Moscovo e de Elon Musk.

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O fundador e director executivo do Telegram, Pavel Durov Albert Gea
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Pavel Durov, multimilionário fundador e director executivo da aplicação de mensagens Telegram, foi detido na noite deste sábado no aeroporto de Bourget, nos arredores de Paris, adiantaram a TF1 TV e a BFM TV, citando fontes não identificadas.

Durov, de nacionalidade russa, tinha partido do Azerbaijão a bordo do seu jacto privado, adiantou a TF1, e foi alvo de um mandado de captura em França, no âmbito de uma investigação policial. Foi detido pelas 20h locais (19h em Portugal continental). Segundo o mesmo canal televisivo, as autoridades francesas poderão acusar Durov de vários crimes, "incluindo terrorismo, tráfico de droga, fraude, lavagem de dinheiro e pornografia infantil", devido à falta de moderação de conteúdos no Telegram.

A TF1 e a BFM afirmam que a investigação se centra na falta de moderadores no Telegram e que a polícia considera que esta situação permite que a actividade criminosa prossiga sem ser travada na aplicação de mensagens. Mas as autoridades francesas não confirmaram oficialmente a detenção, que os meios de comunicação social tanto em França como na Rússia também noticiaram.

A detenção do multimilionário de 39 anos motivou, no domingo, um aviso de Moscovo a Paris para que lhe fossem concedidos os seus direitos. No exterior da embaixada francesa em Moscovo, um manifestante solitário segurava um cartaz onde se lia: "Liberté pour Pavel Durov" ou, em português, "Liberdade para Pavel Durov". ​Elon Musk, o dono da rede social X (antigo Twitter), também criticou a detenção, alegando que a liberdade de expressão na Europa estava a ser atacada.

O Telegram, actualmente com sede no Dubai, foi fundado por Durov, que deixou a Rússia em 2014 depois de se ter recusado a cumprir as exigências de encerrar as comunidades de oposição ao regime na sua plataforma social VK, que entretanto foi vendida.

A aplicação encriptada, com cerca de mil milhões de utilizadores, é particularmente influente na Rússia, na Ucrânia e nas repúblicas da antiga União Soviética. Está classificada como uma das principais plataformas de redes sociais, a seguir ao Facebook, YouTube, WhatsApp, Instagram, TikTok e WeChat, mas mantém-se sob escrutínio de vários países da Europa, incluindo a França, por questões de segurança e violação de dados.

Telegram, uma "plataforma neutra"

Já neste domingo, 25 de Agosto, o Telegram emitiu um comunicado em defesa de Pavel Durov. "O Telegram cumpre as leis da União Europeia, incluindo a Lei dos Serviços Digitais — a nossa moderação está em conformidade com as normas do sector e em constante melhoria", lê-se no comentário à detenção do fundador da aplicação de mensagens. "O director executivo do Telegram não tem nada a esconder e viaja frequentemente para a Europa. É absurdo afirmar que uma plataforma ou o seu proprietário são responsáveis pelo abuso dessa plataforma."

O programador e empresário, que tem uma fortuna avaliada pela Forbes em 15,5 mil milhões de dólares (cerca de 13,8 mil milhões de euros), denunciou em Abril passado pressões governamentais, mas defendeu que a aplicação deveria continuar a ser uma "plataforma neutra" e não um "actor na geopolítica". "Prefiro ser livre do que receber ordens de alguém", disse Durov, que criou a aplicação de mensagens encriptadas como forma de comunicar quando estava sob pressão na Rússia.

Depois de a Rússia ter lançado a sua invasão da Ucrânia em 2022, o Telegram tornou-se a principal fonte de conteúdos não filtrados — e por vezes gráficos e enganadores — de ambos os lados sobre a guerra e a política em torno do conflito. Alguns analistas chamaram-lhe "um campo de batalha virtual", muito utilizado pelo Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e pelos seus funcionários, bem como pelo Kremlin.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia afirmou ter enviado uma nota a Paris exigindo o acesso a Durov, embora tenha afirmado que este tem nacionalidade francesa. O antigo Presidente russo Dmitri Medvedev afirmou que Durov tinha feito um mau juízo ao fugir da Rússia e ao pensar que nunca teria de cooperar com os serviços de segurança no estrangeiro.

Medvedev, que utiliza regularmente o Telegram para criticar os regimes ocidentais, afirmou que Durov queria ser um "brilhante homem do mundo" que "vive maravilhosamente sem pátria". "Fez mal as contas", disse Medvedev. " Apesar de todos os nossos inimigos comuns, ele é russo — e, portanto, imprevisível e perigoso."

A Rússia começou a bloquear o Telegram em 2018, depois de a aplicação se ter recusado a cumprir uma ordem judicial para conceder aos serviços de segurança do Estado o acesso às mensagens encriptadas dos seus utilizadores. A acção interrompeu muitos serviços de terceiros, mas teve pouco efeito na disponibilidade do Telegram no país. No entanto, a proibição deu origem a protestos em massa em Moscovo e a críticas por parte de organizações não-governamentais.