Teatro de Amesterdão afasta Ivo van Hove após denúncias de violência e abuso de poder

O encenador belga é acusado de ter instalado um “ambiente laboral tóxico” e uma “cultura do medo” na maior sala de teatro dos Países Baixos.

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Ivo van Hove passou várias vezes por Portugal Getty Images
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O Teatro Internacional de Amesterdão (ITA, na sigla original) anunciou na quarta-feira que rescindia imediatamente, “e por mútuo acordo”, a colaboração de 23 anos com o encenador belga Ivo van Hove, um dos nomes mais bem cotados do teatro contemporâneo.

Em causa estão denúncias sobre a existência de um "ambiente laboral tóxico", com alegados “comportamentos inadequados”, violência física e verbal, e abuso de poder por parte de van Hove e da sua equipa. No ano passado, o encenador deixou subitamente o cargo de director artístico da maior sala de teatro dos Países Baixos, após um vínculo de 22 anos, mas manteve-se como director convidado e conselheiro do grupo de teatro, auferindo um salário de 145 mil euros por ano.

Recentemente, surgiram queixas que alegavam que Ivo van Hove tinha instalado uma "cultura do medo" e de falta de inclusão. “Comportamentos inadequados” que teriam sido encobertos, com protecção dos alegados responsáveis, de acordo com as conclusões de uma das duas investigações publicadas em Julho.

Os relatórios denunciaram a violência física durante os ensaios, insultos e repreensões a jovens actores e funcionários do teatro, destacando-se ainda que a cultura de trabalho tóxica dentro do ITA consistia na permissividade do abuso de poder.

Segundo a direcção do ITA, em comunicado, a decisão de pôr termo à colaboração com o encenador de 65 anos foi acompanhada de uma demissão “com efeitos imediatos” de todo o conselho de supervisão do teatro, com vista a uma mudança geral da cultura de trabalho da organização.

“A apreciação pelo contributo artístico de Ivo van Hove mantém-se, mas há a necessidade de terminar a colaboração com ele. Tomando estes passos e criando o espaço para o restauro e a transparência, os interesses de todos os envolvidos são levados a sério”, disse, citado no comunicado, o director-geral do ITA, Clayde Menso.

Menso acrescentou que “reconhecer a dor do passado e tomar medidas concretas é essencial para um trabalho em conjunto” com os colegas, rumo a “um ambiente de trabalho seguro, a um restaurar da confiança entre trabalhadores e parceiros e o futuro do ITA”.

Com passagens frequentes por Portugal, a mais recente encenação de Ivo van Hove apresentada em território nacional foi a peça Quem Matou o meu Pai, numa tradução, encenação e adaptação própria do texto de Édouard Louis, na 38.ª edição do Festival de Almada, em 2021 (foi eleita pelo Ípsilon como o melhor espectáculo de teatro desse ano).

Este sábado, Ivo van Hove estreia no prestigiado festival alemão Ruhrtriennale, do qual é director artístico desde 2023, o espectáculo I Want Absolute Beauty, numa parceria com o colectivo (La)Horde e o Ballet Nacional de Marselha e com música de PJ Harvey.