Madeira. Incêndio tem uma frente activa e já há pessoas a regressarem a casa
Fogo que lavra na Madeira há dez dias continua activo no concelho da Ponta do Sol. A situação parecia estar calma, mas houve um reacendimento. Durante a noite, os meios aéreos não podem actuar.
O incêndio que lavra na Madeira há dez dias continua activo na Lombada, concelho da Ponta do Sol. Depois de uma tarde em que as chamas chegaram muito perto de algumas habitações, a situação acalmou: em algumas zonas já só se viam nuvens de fumo. Mas por volta das 21h houve um reacendimento na encosta e as chamas podem voltar a aproximar-se das casas. Os dois aviões da Canadair que fizeram mais de uma dezena de descargas na zona durante a tarde não podem actuar à noite e os moradores estão preocupados.
"É mais uma noite sem dormir", lamenta um morador, que falava em directo para a RTP Madeira. O que o assusta é o vento, que se voltar a soprar forte pode fazer com que as chamas voltem para junto das casas. Durante os dez dias de incêndio, os moradores têm estado atentos ao fogo, passando horas na rua de olho na encosta. Antes das 21h, a situação parecia controlada e a Protecção Civil tinha afirmado que o combate ao fogo estava a evoluir positivamente. Com este reacendimento, os bombeiros preparam-se para mais uma noite sem descanso.
"No dia 23 de Agosto no teatro de operações tivemos helicóptero (H-35), dois aviões Canadair, mais de uma dezena de veículos e mais de 110 operacionais", refere o Serviço Regional da Protecção Civil, numa nota com o ponto de situação do incêndio relativo às 21h, ainda antes do reacendimento.
Durante o dia, os aviões Canadair efectuaram 18 descargas nos focos activos no Pico Ruivo e Ponta do Sol (Lombada), totalizando 26 descargas desde o início da sua chegada, na quinta-feira, adianta a autoridade regional.
Por sua vez, o helicóptero (H-35) realizou um total de 327 descargas desde o dia 14 de Agosto, para apoiar os operacionais no combate directo ao fogo, sendo que hoje efectuou 57 descargas.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, falou aos jornalistas na Feira do Livro do Porto e admitiu ir à Madeira, mas apenas após o "processo de resposta aos incêndios", quando o representante da República na Madeira considerar "adequada" a deslocação.
Em declarações à agência Lusa, cerca das 16h, a presidente do município de Ponta do Sol, Célia Pessegueiro, afirmou: “Onde está a lavrar com mais alguma intensidade é no lado da Lombada, já numa zona mais próxima das casas, mas, como sempre fui afirmando, as viaturas estão paradas já próximo às casas porque é nessa encosta que está a ser combatido o fogo”. Assegurou ainda que qualquer intervenção seria "relativamente fácil" por haver "bastantes meios" no terreno.
Célia Pessegueiro disse ainda que o concelho nunca esteve sem focos de incêndio activos, ao contrário do que afirmou o presidente do Governo Regional, Miguel Albuquerque, em declarações aos jornalistas, às 11h, no Pico do Areeiro. “É estranha uma afirmação desse tipo quando os meios aéreos foram deslocados para cá”, apontou, referindo que tanto o helicóptero do Serviço Regional da Protecção Civil como os dois aviões Canadair têm operado no município.
Segundo a presidente da Câmara, “notou-se uma diferença na intensidade do fogo durante algum tempo” numa zona, mas nos locais onde a vegetação é muito mais densa continuou a lavrar. “Os bombeiros estão mesmo junto à última habitação do sítio, as casas estão todas junto à estrada, portanto a intervenção é muito rápida e eu tenho a convicção de que não chegará mesmo junto às casas”, sustentou Célia Pessegueiro, acrescentando que não acredita ser necessário retirar pessoas das suas habitações.
Por volta das 11h, Miguel Albuquerque afirmou que o incêndio tinha apenas uma frente activa, a norte do Pico Ruivo, sublinhando que a situação estava “mais calma”. “Só temos neste momento um pequeno foco na zona norte do Pico Ruivo [concelho de Santana], na zona alta do Caldeirão do Inferno, e o que estamos a averiguar é se existem condições para o helicóptero atacar esse núcleo de fogo”, afirmou então. O presidente do Governo Regional acrescentou que na zona da Lombada, concelho da Ponta do Sol, tinham sido efectuadas de manhã descargas de água “para arrefecer a zona, para não haver reacendimentos, não havendo por isso focos activos.
Em declarações à RTP, Miguel Albuquerque disse também que, nas zonas onde o fogo está extinto, as populações vão começar a regressar a casa. “Temos já a secretaria dos Assuntos Sociais no apoio às famílias que foram deslocados e que, neste momento, parte delas vão voltar para as habitações. No Curral, estamos já a desencadear os apoios, sobretudo para os produtores dos castanheiros que foram afectados. Os apicultores também já têm os apoios, quer no Jardim da Serra, quer na zona do Curral, e vamos, no fundo, tentar resolver todas essas situações”, referiu.
Arquipélago fará parte do plano de restauro da natureza
A ministra do Ambiente destacou a resposta do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) no incêndio que afecta a ilha da Madeira, acrescentando que o arquipélago fará parte do plano nacional de restauro da natureza.
Em declarações aos jornalistas na Praia de São Pedro do Estoril, no concelho de Cascais, distrito de Lisboa, que visitou, Maria da Graça Carvalho assinalou que a força do ICNF que está no terreno “tem feito um trabalho excepcional, muito arriscado, de protecção da floresta” na Madeira. O ICNF “foi para a Madeira imediatamente, exactamente para proteger as zonas protegidas”.
Em relação ao plano a adoptar depois do incêndio, a ministra referiu o regulamento europeu sobre o restauro da natureza, que permitirá “não só repor, mas aumentar” a área de floresta em Portugal. “Estamos agora a preparar o nosso plano nacional, temos um objectivo de plantar um número muito impressionante de árvores, temos que reflorestar o país”, disse.
O plano incluirá a Madeira, tendo em “atenção a autonomia regional”, sublinhou a governante. “Há certas áreas em que há autonomia regional, mas nessas [a intervenção] será feita em cooperação com a Madeira e com os Açores”, frisou. Maria da Graça Carvalho realçou, porém, que não basta ter nova floresta, também é preciso “cuidar” da que existe e isso passa pela “valorização” dos vigilantes da natureza e dos sapadores florestais.
O incêndio rural na ilha da Madeira deflagrou no dia 14 de Agosto, nas serras do município da Ribeira Brava, propagando-se progressivamente aos concelhos de Câmara de Lobos, Ponta do Sol e, através do Pico Ruivo, Santana.
As autoridades deram indicação a perto de 200 pessoas para saírem das suas habitações por precaução e disponibilizaram equipamentos públicos de acolhimento, mas muitos moradores já regressaram, à excepção dos da Fajã das Galinhas, em Câmara de Lobos. O combate às chamas tem sido dificultado pelo vento e pelas temperaturas elevadas, mas não há registo de destruição de casas ou de infra-estruturas essenciais.
Alguns bombeiros receberam assistência por exaustão ou ferimentos ligeiros, não havendo mais feridos. Dados do Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais apontam para mais de 5002 hectares de área ardida. A Polícia Judiciária está a investigar as causas do incêndio, mas o presidente do executivo madeirense, Miguel Albuquerque, disse tratar-se de fogo posto.