Madeira. Incêndio tem uma frente activa e já há pessoas a regressarem a casa

Fogo que lavra na Madeira há dez dias continua activo na Lombada, concelho da Ponta do Sol. Durante a tarde esteve “numa zona mais próxima de casas”, mas a situação já acalmou.

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Avião Canadair executa uma descarga de água sobre focos de incêndio no sítio da Lombada, concelho da Ponta do Sol,Avião Canadair executa uma descarga de água sobre focos de incêndio no sítio da Lombada, concelho da Ponta do Sol HOMEM DE GOUVEIA / LUSA,HOMEM DE GOUVEIA / LUSA
Operações de combate às chamas continuam esta sexta-feira
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Operações de combate às chamas continuam esta sexta-feira HOMEM DE GOUVEIA / LUSA

O incêndio que lavra na Madeira há dez dias continua activo na Lombada, concelho da Ponta do Sol. Depois de uma tarde em que as chamas chegaram muito perto de algumas habitações, a situação acalmou: em algumas zonas já só se vêem nuvens de fumos, mas o fogo ainda não está extinto. Os dois aviões Canadair, que fizeram dezenas de descargas, e os meios humanos, que formaram linhas de contenção, foram cruciais para o combate ao fogo que, segundo a Protecção Civil, está a evoluir positivamente.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, falou aos jornalistas na Feira do Livro do Porto e admitiu ir à Madeira, mas apenas após o "processo de resposta aos incêndios", quando o representante da República na Madeira considerar "adequada" a deslocação.

Em declarações à agência Lusa, cerca das 16h, a presidente do município de Ponta do Sol​, Célia Pessegueiro, afirmou: “Onde está a lavrar com mais alguma intensidade é no lado da Lombada, já numa zona mais próxima das casas, mas, como sempre fui afirmando, as viaturas estão paradas já próximo às casas porque é nessa encosta que está a ser combatido o fogo”. Assegurou ainda que qualquer intervenção seria "relativamente fácil" por haver "bastantes meios" no terreno.

Célia Pessegueiro disse ainda que o concelho nunca esteve sem focos de incêndio activos, ao contrário do que afirmou o presidente do Governo Regional, Miguel Albuquerque, em declarações aos jornalistas, às 11h, no Pico do Areeiro. “É estranha uma afirmação desse tipo quando os meios aéreos foram deslocados para cá”, apontou, referindo que tanto o helicóptero do Serviço Regional da Protecção Civil como os dois aviões Canadair têm operado no município.

Segundo a presidente da Câmara, “notou-se uma diferença na intensidade do fogo durante algum tempo” numa zona, mas nos locais onde a vegetação é muito mais densa continuou a lavrar. “Os bombeiros estão mesmo junto à última habitação do sítio, as casas estão todas junto à estrada, portanto a intervenção é muito rápida e eu tenho a convicção de que não chegará mesmo junto às casas”, sustentou Célia Pessegueiro, acrescentando que não acredita ser necessário retirar pessoas das suas habitações.

Por volta das 11h, Miguel Albuquerque afirmou que o incêndio tinha apenas uma frente activa, a norte do Pico Ruivo, sublinhando que a situação estava “mais calma”. “Só temos neste momento um pequeno foco na zona norte do Pico Ruivo [concelho de Santana], na zona alta do Caldeirão do Inferno, e o que estamos a averiguar é se existem condições para o helicóptero atacar esse núcleo de fogo”, afirmou então. O presidente do Governo Regional acrescentou que na zona da Lombada, concelho da Ponta do Sol, tinham sido efectuadas de manhã descargas de água “para arrefecer a zona, para não haver reacendimentos, não havendo por isso focos activos.

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Incêndio lavra há nove dias netmadeira.com

Em declarações à RTP, Miguel Albuquerque disse também que, nas zonas onde o fogo está extinto, as populações vão começar a regressar a casa. “Temos já a secretaria dos Assuntos Sociais no apoio às famílias que foram deslocados e que, neste momento, parte delas vão voltar para as habitações. No Curral, estamos já a desencadear os apoios, sobretudo para os produtores dos castanheiros que foram afectados. Os apicultores também já têm os apoios, quer no Jardim da Serra, quer na zona do Curral, e vamos, no fundo, tentar resolver todas essas situações”, referiu.

Arquipélago fará parte do plano de restauro da natureza

A ministra do Ambiente destacou a resposta do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) no incêndio que afecta a ilha da Madeira, acrescentando que o arquipélago fará parte do plano nacional de restauro da natureza.

Em declarações aos jornalistas na Praia de São Pedro do Estoril, no concelho de Cascais, distrito de Lisboa, que visitou, Maria da Graça Carvalho assinalou que a força do ICNF que está no terreno “tem feito um trabalho excepcional, muito arriscado, de protecção da floresta” na Madeira. O ICNF “foi para a Madeira imediatamente, exactamente para proteger as zonas protegidas”.

Em relação ao plano a adoptar depois do incêndio, a ministra referiu o regulamento europeu sobre o restauro da natureza, que permitirá “não só repor, mas aumentar” a área de floresta em Portugal. “Estamos agora a preparar o nosso plano nacional, temos um objectivo de plantar um número muito impressionante de árvores, temos que reflorestar o país”, disse.

O plano incluirá a Madeira, tendo em “atenção a autonomia regional”, sublinhou a governante. “Há certas áreas em que há autonomia regional, mas nessas [a intervenção] será feita em cooperação com a Madeira e com os Açores”, frisou. Maria da Graça Carvalho realçou, porém, que não basta ter nova floresta, também é preciso “cuidar” da que existe e isso passa pela “valorização” dos vigilantes da natureza e dos sapadores florestais.

O incêndio rural na ilha da Madeira deflagrou no dia 14 de Agosto, nas serras do município da Ribeira Brava, propagando-se progressivamente aos concelhos de Câmara de Lobos, Ponta do Sol e, através do Pico Ruivo, Santana.

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Aviões Canadair fizeram descargas esta quinta-feira HOMEM DE GOUVEIA/Lusa

As autoridades deram indicação a perto de 200 pessoas para saírem das suas habitações por precaução e disponibilizaram equipamentos públicos de acolhimento, mas muitos moradores já regressaram, à excepção dos da Fajã das Galinhas, em Câmara de Lobos. O combate às chamas tem sido dificultado pelo vento e pelas temperaturas elevadas, mas não há registo de destruição de casas ou de infra-estruturas essenciais.

Alguns bombeiros receberam assistência por exaustão ou ferimentos ligeiros, não havendo mais feridos. Dados do Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais apontam para mais de 5002 hectares de área ardida. A Polícia Judiciária está a investigar as causas do incêndio, mas o presidente do executivo madeirense, Miguel Albuquerque, disse tratar-se de fogo posto.