ERC: entrevista a Temido na RTP “susceptível de prejudicar” direito a ser informado

Entidade reguladora para a Comunicação Social afirma que entrevista à cabeça de lista do PS às eleições europeias, a 5 de Junho, se “afastou do registo de factualidade”.

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Marta Temido foi a cabeça-de-lista do PS às últimas eleições europeias Paulo Pimenta
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A Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) considera que uma entrevista à candidata do PS às eleições europeias feita pela RTP durante a campanha eleitoral se “afastou do registo de factualidade”. Diz mesmo que a entrevista “é susceptível de prejudicar o direito dos telespectadores de serem informados”.

A deliberação da ERC, com data de 7 de Agosto, reporta-se a uma entrevista a Marta Temido realizada no Telejornal no dia 5 de Junho, durante o período da campanha eleitoral, e foi motivada por três participações que deram entrada na entidade contra a forma como a entrevista foi realizada.

Os queixosos, segundo a deliberação da ERC – avançada pela agência Lusa e consultada pelo PÚBLICO –, consideram que a entrevista foi “uma vergonha para a TV pública”, com “perguntas capciosas, baseadas em informações falsas, tom violento, contestando todas as respostas”.

Dizem-se ainda indignados pela “postura agressiva deste senhor [que conduziu a entrevista], que ultrapassou em muito a razoabilidade da educação e boas maneiras que um entrevistador deve ter, tendo tomado uma postura de combate, agressão e oposição em vez de jornalista”.

A ERC ouviu o denunciado, o jornalista José Rodrigues dos Santos, que afirmou que “importa ter sempre presente que uma entrevista é uma função elementar do jornalista, e é um dever que decorre das boas práticas jornalísticas, questionar e confrontar o entrevistado com todos os temas que são de interesse público e do público, de acordo com o seu próprio estilo e maneira de entrevistar, desde que em conformidade com as normas que regem a profissão (o que foi o caso)”.

Sustenta ainda que “uma entrevista não é um debate, nem se pretendeu que o fosse, mas o tempo curto favorece entrevistas mais incisivas, sobretudo quando não se obtém respostas ou quando as respostas são contraditórias com os dados disponíveis ou ainda quando não se apresentam dados que justifiquem o que se diz”.

Analisada a entrevista “à luz das normas que regem a actividade jornalística televisiva”, a ERC começa por salientar “a relevância e a responsabilidade dos meios de comunicação social nos períodos eleitorais como ferramentas essenciais para informar e esclarecer as escolhas dos cidadãos”.

E conclui que, na entrevista analisada, “não foi conferido espaço à entrevistada para expor os seus pontos de vista”. Faz ainda notar que a entrevista, “pela forma como foi conduzida, afastou-se do registo de factualidade e das regras de condução da entrevista jornalística”.

Por fim acrescenta “que a forma como decorreu a entrevista é susceptível de prejudicar o direito dos telespectadores de serem informados, conforme garante a Constituição da República Portuguesa”.