Bebé paralisado com primeiro caso de poliomielite em Gaza dos últimos 25 anos

Organização Mundial de Saúde diz que bebé infectado, com dez meses, não consegue mexer uma das pernas.

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Criança examinada no hospital dos Mártires de Al-Aqsa, em Deir Al-Balah (centro da Faixa de Gaza) depois de ter sido anunciado o primeiro caso de poliomielite no território Ramadan Abed / REUTERS
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Um bebé de dez meses infectado com o poliovírus tipo 2 está parcialmente paralisado, segundo a Organização Mundial de Saúde, uma semana depois de ter sido anunciada a primeira infecção a ocorrer nos últimos 25 anos na Faixa de Gaza. Agências da ONU têm pedido uma campanha de vacinação urgente de todos os bebés, para a qual seria necessário uma trégua, e evitar a propagação do vírus que provoca poliomielite.

O poliovírus tipo 2 (cVDPV2) não é mais perigoso do que os tipos 1 e 3, mas tem sido responsável pela maioria dos surtos nos últimos anos, especialmente em zonas com baixas taxas de vacinação. Várias agências das Nações Unidas apelaram a Israel e ao Hamas para que cheguem a acordo para uma pausa humanitária de sete dias, de modo a permitir uma campanha de vacinação no território.

“A poliomielite não faz distinção entre crianças palestinianas e israelitas”, afirmou o chefe da agência das Nações Unidas para os refugiados palestinianos (UNRWA) numa publicação no X. “Adiar uma pausa humanitária aumentará o risco de propagação entre as crianças”, acrescentou Philippe Lazzarini.

O bebé, que perdeu o movimento na parte inferior da perna esquerda, está actualmente estável, disse o director-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, num comunicado.

A OMS anunciou que duas rondas de uma campanha de vacinação contra a poliomielite deverão ter início no final de Agosto e em Setembro de 2024 em toda a Faixa de Gaza.

Com os serviços de saúde muito danificados ou mesmo destruídos pelos combates, e com os esgotos a espalharem-se devido a um colapso das infra-estruturas de saneamento, a população de Gaza está particularmente vulnerável a surtos de doenças.

Vacinar numa zona de guerra

O ministério da Saúde de Gaza anunciou pela primeira vez um caso de poliomielite, num bebé de dez meses não vacinado, há uma semana, na cidade central de Deir Al-Balah. Antes, o vírus tinha sido detectado em águas residuais de Deir al-Balah e Khan Younis (Sul da Faixa de Gaza), onde centenas de milhares de palestinianos deslocados pelos combates procuraram abrigo.

O Hamas apoiou, a 16 de Agosto, um pedido da ONU para uma pausa de sete dias nos combates, a fim de vacinar as crianças de Gaza contra a poliomielite, afirmou esta sexta-feira Izzat al-Rishq, responsável pelo gabinete político do Hamas.

Israel, que impôs um cerco a Gaza desde Outubro passado e cuja ofensiva terrestre e bombardeamentos arrasaram grande parte do território, disse, dias depois, que facilitaria a transferência para Gaza de vacinas contra a poliomielite para cerca de um milhão de crianças. Mas a ONU afirmou que uma campanha bem-sucedida exigiria o transporte de vacinas e equipamento de refrigeração em cada etapa, bem como condições que permitissem que a campanha chegasse às crianças em todas as áreas do território. A dificuldade está ainda em chegar às crianças, já que as pessoas têm estado a deslocar-se várias vezes, de acordo com as ordens do Exército de Israel.

A ONU disse ainda que seria necessária a entrada de especialistas em poliomielite no território palestiniano.

O vírus da poliomielite infecta normalmente crianças com menos de cinco anos e pode destruir neurónios responsáveis pela activação dos músculos, deixando as pessoas paralisadas de uma perna ou de mais membros.

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