Este Sporting é diferente. É o Sporting dos cinco ofícios

Gyokeres foi o jogador decisivo, com três golos, mas o que mais decidiu este jogo foi a complexidade táctica de uma equipa que traz para esta temporada muitas ideias novas – e boas.

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Jogadores do Sporting celebram no Algarve LUIS FORRA / EPA
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O que se passou nesta sexta-feira no triunfo (5-0) do Sporting frente ao Farense foi a aplicação prática daquilo que qualquer adepto de futebol quererá pedir à sua equipa preferida. Os “leões” não foram apenas dominadores, porque domínios há muitos. O que se passou foi a demonstração de um rol tremendo de soluções tácticas e de dinâmicas ofensivas.

Poderia não ter resultado? Sim. Mas a probabilidade de dar certo era gigantesca. E vai resultar sempre? Provavelmente, não. Mas enquanto o futebol do Sporting for jogado desta forma não será fácil contrariar – sobretudo para equipas que sejam como o Farense na incompetência a identificar problemas durante o jogo.

A equipa “leonina” levou ao duelo com o Farense um largo repertório de soluções. Sem bola, ora aperta com referências individuais, ora controla o espaço – e o novo preceito de “abafar” homem a homem nem foi muito utilizado no Algarve.

Depois, ora faz saída curta a quatro, ora faz a três – e com variantes sobre quem faz o quarto jogador, baralhando marcações.

Ora tem dois alas projectados em simultâneo e tenta jogar por dentro, ora faz Pote partir de dentro para fora para arrastar o lateral e a bola entrar no corredor. O segundo médio ora surge de frente para o jogo, ora surge na posição 10, entre os dois médios adversários.

Isto é trágico para qualquer equipa, que nunca sabe que referências de marcação seguir, mas mais ainda para uma equipa como o Farense, que, tendo uma defesa a quatro, sabia que o jogo de pares não seria possível com o 3x4x3 “leonino”. E não pareceu haver consenso sobre como marcarem Pote e Geny, por exemplo.

Vejamos:
- Minuto 2: Pote vai de fora para dentro, arrasta o lateral e há espaço para Geny receber a bola longa de Diomande. Perigo de golo.
- Minuto 3: lateral outra vez muito por dentro, depois de atraído, e espaço na ala. Perigo de golo.
- Minuto 4: lateral atraído para dentro pelo movimento de Pote e Geny teve espaço para remate. Perigo de golo.
- Minuto 22: Pote vai para dentro, arrasta o lateral e Diomande coloca nova bola directa em Geny aberto. Perigo de golo.

Em pouco mais de 20 minutos, o Sporting fez este movimento quatro vezes e em todas criou perigo – ter Diomande a disparar bolas longas teleguiadas, em vez de Coates, também ajuda.

José Mota nada parece ter feito a respeito desta dinâmica. Pedir ao ala para ajudar a marcar Geny poderia ser uma ideia. Ou baixar um dos médios também poderia ser solução, permitindo ao lateral pegar em Geny, embora esta via obrigasse a muitos ajustes, porque o segundo avançado Geo teria de baixar também para o meio-campo e isso, a meio do jogo, poderia não ser fácil de aplicar..

Outra dinâmica interessante – e nova – foi visível aos 16’, com sobrepovoação da zona frontal à área, com Trincão, Pote, Bragança e Gyokeres por dentro. Não era comum isto acontecer no jogo do Sporting, que era um pouco mais orgânico na ocupação do espaço. O que aconteceu foi que um central pegou em Gyokeres, o lateral pegou em Bragança e o outro central pegou em Pote (embora atrasado). Quem pegou em Trincão? Ninguém. O português isolou Gyokeres, que voltou a chamar Ricardo Velho ao serviço.

O golo surgiu aos 27’, num lance no qual também se viu a diferença de comportamento do segundo médio “leonino”. Mais do que ver sempre o jogo de frente, como mais gosta, Bragança prestou-se a trabalhar de costas para a baliza entre linhas e a aparecer vindo de trás em zonas de finalização. Não era comum.

Um desses movimentos deu golo aos 27’, com uma bola “picada” de Pote que deu remate de Bragança, defesa de Velho e recarga de Gyokeres.

O sueco bisou aos 41’ num penálti que Tiago Martins assinalou, com o qual o VAR discordou e que o árbitro decidiu manter.

Depois de muita coisa nova na primeira parte, mais uma na segunda: aos 65’, Gyokeres conduziu para cima de um adversário na meia-esquerda, mas não forçou a procura do pé direito, como costuma fazer. Disparou mesmo de pé canhoto e fez o 3-0 com um remate cruzado.

Pouco depois, um autogolo deu o 4-0 e pouco mais havia a tirar deste jogo. Para o Farense, era sobrevivência com números que se mantivessem fora da humilhação. Para o Sporting, era diversão para os que entravam frescos.

Aos 81’, já valia tudo. Edwards pegou na bola no meio-campo e, para finalizar já perto da marca de penálti, seria suposto ter tido de driblar muita gente. Mas não precisou. Bastou ir conduzindo por ali fora, driblando um ou outro que surgiram e rematar em zona já favorável.

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