Palhaços d’Opital já têm casa. Como uma publicação numa rede social mudou a vida desta associação que faz rir idosos

A partir de Setembro, a associação de Coimbra passa a estar sediada numa casa da antiga Escola Agrária. O grito do director criativo foi finalmente ouvido em toda a cidade.

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A associação foca-se nos idosos, um trabalho pioneiro na Europa, tendo-se especializado em áreas como a demência ou internamento social
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A associação foca-se nos idosos, um trabalho pioneiro na Europa, tendo-se especializado em áreas como a demência ou internamento social
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A associação foca-se nos idosos, um trabalho pioneiro na Europa, tendo-se especializado em áreas como a demência ou internamento social DR
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Os Palhaços d’Opital (PdO) acabam de ganhar uma nova casa, depois do grito de alerta que esta semana lançaram publicamente, dando conta da “indignação e revolta” pela falta de um espaço para trabalharem.

Quando no início da semana o director criativo, Jorge Rosado, decidiu fazer uma publicação no Linkedin, estava longe de imaginar o alcance que viria a ter. “Logo no mesmo dia recebi dezenas de chamadas, de várias entidades e instituições. Até do bastonário da Ordem dos Médicos, que conhece o nosso trabalho”, contou ao PÚBLICO, horas depois de ter aceite a oferta do Instituto Politécnico de Coimbra (IPC), na mata da Escola Agrária: a chamada “casa branca”, um espaço rodeado de árvores e relva, onde a partir de agora a associação vai poder criar, ensaiar e programar as suas actividades com os mais velhos, nos hospitais de todo o país.

“Nós tivemos dezenas de propostas. Várias pessoas ofereceram casas e garagens, empresas ofereceram espaços, mas alguma delas eram fora. E esta pareceu-nos óptima”, afirma Jorge Rosado, o palhaço que há 11 anos decidiu criar a associação Palhaços d’Opital, uma das poucas que centra a sua actividade nos idosos, em meio hospitalar.

“O espaço que agora nos ofereceram é extraordinário, e superou completamente os nossos sonhos. Além de ganharmos casa para a sede, ainda vamos trabalhar com um grupo de investigadores que se dedica a esta área que nós trabalhamos. E isso é incrível”. O entusiasmo de Jorge Rosado contrasta com o desânimo que esta semana acabou por tornar mais conhecido o trabalho que a sua equipa faz, a partir de Coimbra.

Começou pelas visitas semanais aos hospitais de Cantanhede e Figueira da Foz, em 2013, mas nos últimos anos estendeu-se a outros hospitais parceiros: Centro Hospitalar Universitário São João (CHUSJ), Unidade Local de Saúde de Matosinhos (ULSM), IPO de Coimbra (IPOC), Centro Hospitalar Tondela Viseu (CHTV – Viseu e Tondela),Centro Hospitalar Baixo Vouga (CHBV – Aveiro e Águeda), e já este ano chegaram a Lisboa, através de um protocolo com o Hospital de Santa Maria.

Jorge Rosado já era palhaço e, por isso, ainda antes de fundar a Palhaços d’Opital, começou por fazer rir as crianças com cancro, a convite da associação Acreditar. Mas, percebendo que havia uma lacuna sem qualquer resposta - o público adulto, acabou por redireccionar esforços, com especial foco nos idosos, um trabalho pioneiro em toda a Europa. Nos anos mais recentes, especializaram-se em áreas tão importantes como a demência ou o internamento social.

Está bem de ver que a equipa foi crescendo, e o projecto também. “Mas era sempre uma angústia, porque praticamente de dois em dois anos tínhamos que mudar de espaço”.

Mudança em Setembro

O presidente do Instituto Politécnico de Coimbra, Jorge Conde, não fazia ideia das condições em que a PdO se encontrava, até ler a publicação de Jorge Rosado. “Fomos apanhados de surpresa. Conhecendo o trabalho que fazem era estranho não terem um sítio onde guardar as coisas. A nós pareceu-nos uma situação um pouco insólita, numa cidade tão virada para as questões da saúde, não terem um espaço condigno. Quanto mais não terem, de todo, um espaço”. Como o IPC tinha um espaço vago, no conjunto das quatro casas da mata que circunda a Escola Agrária, rapidamente se encontrou a solução. Para além do espaço, o Politécnico vai criar ainda uma maior aproximação: “puxar os nossos alunos dos cursos da área da saúde para potenciar o trabalho que fazem”. “Acreditamos que assim estamos a contribuir para uma maior humanização no próprio ensino”, sublinha Jorge Conde.

O protocolo será formalizado em Setembro, mês em que a PdO poderá já ocupar o espaço, que agora está a ser arrumado.

Toda a intervenção desta associação “é apadrinhada por duas organizações, que é a Fundação AGEAS e a Delta Cafés”, destaca Jorge Rosado. “Lamentavelmente nem o Estado nem as autarquias prestam qualquer apoio à associação”, afirma o director e fundador dos Palhaços. “Todo o custo da operação no IPO de Coimbra é suportado por estas duas organizações”. Em termos públicos, o único financiamento veio do programa Portugal Inovação Social, através de fundos comunitários.

“Tudo que as pessoas vêem do nosso trabalho nos hospitais é fruto de pelo menos seis a oito meses de trabalho”, afirma Jorge Rosado, justificando assim a necessidade de um espaço condigno para trabalhar, a montante. “Os artistas têm que aprender a cantar e a tocar aquela música correctamente”.

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