Construção de fábrica da Tesla na Alemanha provoca abate de 500.000 árvores

Imagens de satélite sugerem que 329 hectares de floresta foram destruídos para a construção da fábrica da Tesla na Alemanha, segundo análise da empresa de informação ambiental Kayrros.

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Imagens de satélite da fábrica da Tesla na Alemanha em 2019 e 2023 Google Earth/Guardian
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A construção da fábrica gigantesca da Tesla na região de Brandeburgo, perto de Berlim, na Alemanha, provocou o abate de aproximadamente 500.000 árvores, a avaliar por dados de satélite da empresa de informação ambiental Kayrros. As imagens indicam que 329 hectares de floresta foram destruídos entre Março de 2020 e Maio de 2023, segundo a análise da Kayrros.

“A fábrica da Tesla na Alemanha levou a um grande abate de árvores. É claro que isso tem de ser relativizado, tendo em conta os benefícios da substituição dos automóveis com motor de combustão interna por veículos eléctricos”, afirmou Antoine Halff, analista da Kayrros, citado pelo jornal britânico The Guardian.

Antoine Halff argumenta que “as árvores cortadas equivalem a cerca de 13 mil toneladas de CO2, o que corresponde à quantidade anual emitida em média por 2800 carros com motor de combustão nos Estados Unidos”.

“Este valor constitui uma fracção do número de carros eléctricos que a Tesla produz e vende a cada trimestre”, afirma o analista. “Consegue-se sempre ter compensações, mas para isso precisamos de estar cientes de quais são os limites da compensação”, conclui Antoine Halff.

A criação desta unidade alemã da Tesla em Brandeburgo – mais precisamente na vila de Gruenheide –, que agora deverá ser ampliada, tem não só sido alvo de protestos ambientalistas, mas também alimentado um debate acerca do compromisso da empresa com a causa climática.

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Elon Musk durante a construção da fábrica gigantesca da Tesla Giga em Gruenheide, perto de Berlim, em Setembro de 2020 ALEXANDER BECHER/EPA

Activistas climáticos acamparam nas imediações em Fevereiro e, desde então, têm organizado acções contra a expansão da fábrica, que vão desde a tentativa de invadir o local até ao ateamento de fogo num poste de electricidade. Este acto de protesto levou à interrupção da produção fabril durante alguns dias em Março.

O empresário Elon Musk, CEO da Tesla, criticou as autoridades policiais na rede social X – antigo Twitter –, da qual é proprietário, afirmando que os agentes terão deixado escapar “os manifestantes de esquerda” que se opunham à expansão da fábrica.

Recorde-se que o arranque das operações na fábrica de Gruenheide, em 2022, já ocorreu um ano mais tarde do que o previsto devido a um arrastado processo de licenciamento, durante o qual emergiram várias preocupações à volta do impacte ambiental do projecto. Nessa altura, a construção da primeira unidade já gerou controvérsia no que toca ao consumo excessivo de recursos hídricos em Brandeburgo.

Karolina Drzewo, da Turn Off Tesla's Tap (fechar a torneira à Tesla, numa tradução livre), afirmou que as imagens de satélite comprovavam a destruição ambiental em Brandeburgo. “Numa das regiões mais secas da Alemanha, já foi destruída demasiada natureza”, afirmou Karolina Drzewo, citada pelo The Guardian, que também sublinha “os danos globais causados pela extracção de metais” para a indústria automobilística.

Para Karolina Drzewo, é “necessário impedir uma expansão e, consequentemente, uma destruição ainda maior das florestas e a colocação em perigo da área protegida de água potável.”

Em Julho de 2024, Brandeburgo deu luz verde para a expansão da fábrica da Tesla. O objectivo da ampliação é permitir que a unidade dobre a produção e alcance a meta anual de um milhão de carros.

Esta expansão fabril é considerada crucial para fazer face às ambições globais da empresa de Elon Musk, que quer garantir uma base de produção na Europa capaz de abastecer o mercado de veículos eléctricos. Como as regras de emissões de gases com efeito de estufa impostas pela União Europeia impulsionam a expansão do sector, a unidade de Gruenheide pode desempenhar um papel estratégico no continente nos próximos anos.