Responsável de ginecologia da Maternidade Alfredo da Costa demitiu-se há mais de uma semana

Médico pediu para deixar de ser responsável pelo serviço de ginecologia-obstetrícia na segunda-feira da semana passada, dia em que a maternidade fez 25 partos, o número mais alto desde 2013.

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Edificio da Maternidade Dr. Alfredo da Costa Rui Gaudêncio (arquivo)
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O responsável do serviço de ginecologia-obstetrícia da Maternidade Alfredo da Costa (Lisboa), Carlos Marques, pediu a demissão do cargo. Apesar de apenas ter sido conhecido nesta quarta-feira, o pedido de demissão foi apresentado há mais de uma semana, em 12 de Agosto, dia em que a maternidade realizou 25 partos, o número mais elevado desde 2013.

Mas esta demissão, garantiu o conselho de administração da Unidade Local de Saúde (ULS) de São José (em que a Maternidade Alfredo da Costa está integrada), "não está a ter impacto no normal funcionamento da maternidade". Sublinhou ainda que o médico se mantém em funções até à designação de um novo responsável, processo que já está em curso.

Foi a Rádio Renascença que deu a notícia, adiantando que Carlos Marques pediu a demissão numa carta enviada à administradora da Unidade Local de Saúde de São José e em que justifica a decisão com o que diz ser a "elevada sobrecarga de trabalho", numa altura em que a maior maternidade pública de Lisboa e Vale do Tejo tem batido recordes de partos e registado um aumento dos episódios de urgência de ginecologia-obstetrícia, devido aos encerramentos intermitentes de várias urgências desta especialidade na Grande Lisboa.

Escusando-se a comentar esta demissão, a ministra da Saúde, Ana Paula Martins, recordou que o Governo assumiu o "compromisso de reorganizar" a rede de urgências de ginecologia-obstetrícia, o que vai fazer "nos próximos meses", depois de conhecidas as propostas da nova comissão de peritos que foi encarregada de avaliar a situação e apresentar os primeiros resultados "até meados de Setembro".

Sempre aberta no difícil mês de Agosto, ao contrário de outros serviços de urgência de ginecologia-obstetrícia da Grande Lisboa – que se têm visto obrigados a fechar intermitentemente por falta de médicos em número suficiente para assegurar as escalas –, a Maternidade Alfredo da Costa (MAC) fez 25 partos, o número mais alto desde 2013, justamente no dia em que Carlos Marques pediu a demissão, 12 de Agosto. Nesse dia estavam fechadas, em simultâneo, cinco urgências de ginecologia-obstetrícia, e, além dos partos, a maternidade registou uma elevada afluência à urgência - 98 admissões.

No dia seguinte, sem tornar público o pedido de demissão do responsável do serviço, a presidente do conselho de administração da ULS de São José, Rosa Valente de Matos, avisava, em declarações à Lusa, que não seria possível continuar neste ritmo, até porque a equipa que bateu o recorde de partos estava dimensionada para realizar um número de atendimentos inferior. "Os profissionais têm as suas limitações e estão cansados", enfatizou.

"Este esforço não pode ser contínuo. Os profissionais não aguentam, portanto, temos estado a trabalhar em rede com o director executivo do Serviço Nacional de Saúde (SNS], no sentido de que as grávidas que possam ter alta possam ir para os seus hospitais de origem", explicou, acrescentando que 60% das mulheres que a maternidade estava a atender eram de fora da área de Lisboa.

Rosa Valente de Matos pediu ainda à Direcção Executiva do SNS uma maior articulação entre os diversos hospitais da região, face à multiplicação de encerramentos rotativos das urgências desta especialidade, insistindo que a "capacidade da MAC também é um bocadinho limitada".

Além dos partos, há muitas urgências

Além de mais partos do que o habitual – uma média de 13 por dia (mais dois em cada dia do que a média de Agosto de 2023) –, a MAC tem registado uma média semanal de 442 atendimentos na urgência em Agosto, bem acima da média de Julho (320). "Mais do que os partos, são sobretudo as admissões [episódios de urgência] que nos sobrecarregam. São senhoras que vêm à urgência para perceber se a gravidez está a correr bem, ou que perderam um pouco de sangue, que querem fazer ecografias, saber qual é o sexo do bebé, enfim, muitas vezes são senhoras que não conseguem consultas nos centros de saúde", explicou uma médica do serviço de urgência da MAC ao PÚBLICO.

Em Agosto, este serviço da MAC ficou ainda mais sobrecarregado, porque o hospital de Santa Maria, que não estava a fazer partos por ter o serviço em obras, deixou de assegurar as urgências de ginecologia da Grande Lisboa, concentração que tinha sido decidida no início deste ano, e ficou apenas disponível para atender as mulheres da sua área de referência. "O Santa Maria esteve um período a ver urgências ginecológicas dos outros hospitais mas depois recusou-se a continuar ", explicou a médica que pediu para não ser identificada.

Quanto aos partos, o problema é que a MAC tem "um espaço físico limitado e um número de camas que também é limitado". "Podemos ter dez senhoras em trabalho de parto em simultâneo mas depois não temos onde as deitar e é necessário transferi-las para os hospitais da sua área de residência. Mesmo assim, com equipas compostas por três especialistas e dois internos [o mínimo exigido pela Ordem dos Médicos], a nossa urgência tem conseguido dar resposta", garantiu.

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