Europa já tem reservas de gás natural a 90% da capacidade
Meta global de armazenamento de gás natural na Europa foi antecipada em dois meses. Peso das importações russas diminuiu no gás de gasoduto, mas subiu no gás natural liquefeito (GNL).
Os Estados-membros da União Europeia (UE) anteciparam em dois meses a meta de armazenamento de gás natural fixada para 1 de Novembro, atingindo no início desta semana um patamar global de reservas de 90%.
Um facto que a Comissão Europeia não deixou passar em branco, destacando que os dados fornecidos pela associação europeia de operadores de infra-estruturas de gás (Gie) são um indicador da “preparação europeia para enfrentar o próximo Inverno” e o resultado “do trabalho intensivo dos últimos dois anos e meio”, no seguimento da agressão militar russa à Ucrânia.
“Os níveis de armazenagem de gás atingiram 1025TWh, ou 90,02% da capacidade de armazenagem - o equivalente a pouco menos de 92 mil milhões de metros cúbicos (bcm) de gás natural - em 19 de Agosto.” Trata-se de quantidades fundamentais para a segurança do aprovisionamento europeu, “uma vez que [o armazenamento] pode cobrir até um terço da procura de gás da UE no Inverno”, destacou a Comissão Europeia.
A garantia de que o sistema energético europeu funciona sem constrangimentos, apesar da crise energética provocada pela Rússia em 2022 (que levou à publicação do novo Regulamento do Armazenamento de Gás, onde se inclui esta meta anual de armazenamento pré-Inverno, com metas intermédias em Maio, Julho, Setembro e Fevereiro), é também uma garantia de que a UE pode continuar a ser solidária com a Ucrânia, sublinhou a comissária europeia com a pasta da Energia, Kadri Simson.
A situação no país “está muito mais difícil”, já que o sector energético continua a ser alvo permanente de ataques da Rússia. “A Europa deve continuar a apoiar a Ucrânia e a fornecer o apoio necessário ao seu sistema energético, para que também a população ucraniana possa atravessar em segurança o Inverno rigoroso que se avizinha”, afirmou Simson.
Portugal com 97,5% da capacidade
Os dados das reservas de gás recolhidos pela Gie e divulgados esta quarta-feira mostram que a média europeia de reservas está actualmente nos 90,02% (replicando o que aconteceu em 2023, quando o indicador foi atingido a 18 de Agosto), destacando-se Espanha, com um nível de reservas de 100%.
Portugal, que é, a seguir à Suécia, o país com menor capacidade de armazenamento da UE (de 3,4TWh), tem neste Agosto as reservas a 97,49% da capacidade, o que também se explica pelo facto de as centrais eléctricas a gás estarem a ser menos solicitadas devido à existência de condições de produção de electricidade renovável.
Na Alemanha, motor económico da Europa e maior consumidor europeu de gás, os reservatórios estão a 93,44%, mesmo sendo, de longe, os que têm maior capacidade: 232TWh, seguidos pelos 183TWh de Itália, o segundo maior consumidor de gás europeu (91,37%).
Além da introdução de regras sobre o armazenamento, a UE tem estado a aplicar um plano de redução de consumo de gás natural que tem contribuído para a redução das importações, apesar de a taxa de dependência energética do bloco continuar nos 90%.
Segundo os dados sobre importações de energia compilados pelo departamento estatístico europeu, Eurostat, em 2023 as importações totais de gás natural da UE diminuíram 19,8% (18.487.075 terajoules).
Os aumentos mais significativos face a 2022, entre os principais importadores, ou seja, os países que importam pelo menos 500 mil terajoules, registaram-se na Polónia (12,5%) e na Bulgária (3,8%). Em contrapartida, as principais diminuições verificaram-se na Áustria (-50,3%), na Eslováquia (-40,9%) e na Alemanha (-31,7%).
No mesmo período, a procura interna de gás natural na UE caiu 7,1% em comparação com 2022 (12.719.409 terajoules), com as maiores quebras de consumo a ocorrerem em Portugal (20,2%), Áustria (13,2%) e República Checa (11,9%). Em sentido inverso, as maiores subidas registaram-se na Finlândia (25,6%), na Suécia (11,1%) e na Polónia (5,2%).
Com o início da guerra contra a Ucrânia, a Noruega passou a ser o maior fornecedor de gás de gasoduto à Europa, atingindo uma quota de 46,6% no primeiro trimestre deste ano, seguida pela Argélia, com uma fatia de 19,7%, acima dos 17% que ainda são assegurados pela Rússia. Outros fornecedores são o Azerbaijão (7,7%) e o Reino Unido (5%).
O gás natural liquefeito (GNL), entregue por navio e depois regaseificado, tornou-se fundamental para substituir o gás russo, embora muito deste também seja proveniente da Rússia, que tem Espanha como principal importador.
Face ao primeiro trimestre de 2023, o peso do GNL russo nas importações europeias subiu 4,4 pontos percentuais, para 17,7%, o que colocou a Rússia como a segunda maior fornecedora de GNL à UE até Março, apesar de distante dos Estados Unidos, que têm a primeira posição e garantem quase metade (47,4%) do GNL que chega aos terminais europeus.
Outros fornecedores europeus de GNL são a Argélia (9,9%), o Qatar (9,9%), a Nigéria (4,2%), Trindade e Tobago (4%) e Noruega (3,8%), entre outros, com quotas muito reduzidas.