O efeito Shepard Fairey na campanha de Kamala Harris

Artista de intervenção criou há dias um cartaz na mesma linha do famoso Hope, com Obama, em apoio à candidata democrata à presidência Kamala Harris. A direcção agora é Forward.

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Pormenor do novo poster de Shepard Fairey para a campanha de Kamala Harris Lawrence Jackson
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Na Convenção do Partido Democrata que decorre em Chicago, o tempo voltou atrás e a arte acompanhou-o. Na terça-feira, o antigo Presidente Barack Obama arrebatou a multidão, mas desta vez o seu slogan de campanha de 2008 “yes, we can” (sim, podemos) saiu da sua boca como “yes, she can” (sim, ela pode), num apoio à candidata e vice-presidente Kamala Harris que a antiga primeira-dama Michelle Obama reforçou dizendo que “a esperança está a regressar”. “Hope” era a palavra do icónico cartaz de Shepard Fairey que ajudou a promover Obama. Está a acontecer novamente: no sábado, Fairey criou um cartaz para Harris, cujo discurso na Convenção do Partido Democrata irá acontecer nesta quinta-feira, e a palavra de ordem é “Forward” – que o tempo avance.

O poster, que já tem 76 mil “gostos” na rede Instagram, está disponível para descarregar gratuitamente e em alta resolução na Internet. Fairey, cuja carreira como artista urbano era já bem conhecida por trás da criação Obey Giant, tornou-se uma figura mais mediática e internacionalmente reconhecida graças ao efeito Hope, ou ao efeito Obama. Agora, inspirado pelas palavras de Kamala Harris (“Não voltaremos para trás”), “um resumo do momento em que estamos” na opinião do artista, criou esta obra como uma forma de “activismo que todos possam usar de forma não comercial”.

O PÚBLICO contactou a Obey Giant para apurar quantos downloads já foram feitos e se há comparação com o que sucedeu em 2008, mas a empresa não tem esses dados compilados e não pôde fornecê-los em tempo útil.

“Não fui pago por ela e não beneficiarei financeiramente de forma alguma por ela. Criei esta obra puramente em busca de um futuro melhor”, escreveu ao publicar a imagem que já começou a aparecer nas ruas. Em 2008, o cartaz de Fairey surgiu no centro de Chicago, em paredes e postes, na altura da convenção do mesmo partido que levaria Obama à presidência. Nos últimos dias, sob o conhecido Loop do metropolitano à superfície, em Chicago, o poster de Kamala já surgiu colado de forma proeminente por ocasião da convenção.

“Mas não vamos recuar. Na verdade, temos uma oportunidade muito real de avançar”, escreve Fairey, elencando áreas que considera essenciais e onde acredita que Harris pode vir a significar mudança. “Um planeta saudável, responsabilidade empresarial”, “igualdade no acesso à saúde”, “políticas de imigração justas” e ganhar distância em relação ao “racismo, sexismo, xenofobia e homofobia”.

A campanha democrata ganha um aroma ao momento histórico que foi a eleição de Obama após duas presidências do republicano George W. Bush, não só pelas inúmeras figuras públicas e estrelas que apoiam Harris de uma forma que não faziam com o Presidente Joe Biden, mas pelo clima geopolítico. “Enfrentamos ameaças cada vez maiores e adversários políticos regressivos”, postula Fairey, falando de “fascismo e ameaças à democracia”. Apela ao voto e disponibiliza ainda o link para que os eleitores se registem.

O acto artístico de Fairey é uma intervenção política significativa não só pelo lastro que Hope deixou, mas também porque Hillary Clinton não lhe mereceu a mesma atenção por não ser “suficientemente inspiradora”. Mesmo tratando-se de uma eleição tão crucial quanto a de 2016, que deu a vitória a Donald Trump (contra quem fez cartazes com mulheres afro-americanas, muçulmanas e latinas). Acrescente-se que Fairey, uma voz comparável à de Banksy na arte urbana – com a devida diferença de ter rosto e de expressar textualmente as suas opiniões – repete o gesto apesar de ter considerado que Obama não correspondeu às expectativas porque “cedeu” em “muitas coisas”.

Nos últimos meses, Fairey teve um dissabor ao ver a sua obra Liberté, Egalité, Fraternité: la Marianne [a mulher que representa a República Francesa] d'Obey, em fundo nos vídeos de campanha de Jordan Bardella, do partido extremista francês União Nacional, ornamentando-lhe o escritório. Ao diário francês Le Monde, lamentou na altura o seu uso: “A extrema-direita arruína o espírito da imagética, que trata da fraternidade e de vivermos juntos, e dá-lhe outra interpretação nacionalista que impõe fronteiras.”

Já em 2017, quando Emmanuel Macron se candidatou às presidenciais francesas com o seu movimento En Marche!, a Marianne d'Obey estava na sua sede de campanha, mas o partido negou querer usá-la como ferramenta de propaganda. Fairey tem vários murais em Lisboa, nomeadamente um em homenagem à Revolução de 25 de Abril e outro em colaboração com o português Vhils e que retrata duas mulheres.

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