Madeira. Fogo no Curral das Freiras “preocupante”. Funchal apela a poupança de água

Fogo já devastou milhares de hectares de terreno. Floresta Laurissilva não foi atingida, garante governo regional.

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Incêndio lavra na Madeira desde a passada quarta-feira HOMEM DE GOUVEIA / EPA
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Fogo já devastou quase 8 mil hectares de terreno HOMEM DE GOUVEIA / LUSA
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Operacionais estão concentrados no Curral das Freiras e na Serra de Água HOMEM DE GOUVEIA / LUSA
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Câmara de Lobos
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O incêndio que começou na passada quarta-feira continua a lavrar na ilha da Madeira e já terá devastado 7957 hectares de terreno, segundo projecções do Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais. Pelas 21h desta terça-feira os meios concentravam-se em dois teatros de operações: no Curral das Freiras (Câmara de Lobos) e no Paul da Serra (Ponta do Sol).

Ao anoitecer desta terça, 20 de Agosto, "o foco mais preocupante mantém-se no Curral das Freiras, onde o fogo está a avançar em direcção à Boaventura, concelho de São Vicente", indica o Serviço Regional de Protecção Civil (SRPC), num comunicado divulgado pelas 21h30.

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No Paul da Serra, o incêndio desceu para a ribeira da Ponta do Sol e está distante da zona habitacional. "Este foco encontra-se numa área de difícil acesso, com os meios e operacionais localizados estrategicamente para conter a sua propagação", adianta o SRPC.

O foco de incêndio que esteve activo na Encumeada até esta terça-feira está agora "circunscrito" e sob vigilância activa.

No total, estavam no terreno pelas 21h mais de uma centena de bombeiros, 20 veículos e um meio aéreo, com o apoio do Comando Regional de Operações de Socorro, do Instituto das Florestas e Conservação da Natureza, da GNR e da PSP.

O Serviço Regional de Protecção Civil informou ainda que foram registadas três ocorrências envolvendo bombeiros nesta terça-feira, dois dos Açores e um de Portugal continental. Dois deles foram encaminhados para o hospital por "sintomas relacionados com mal-estar e indisposição".

"Reiteramos que no decurso deste incêndio, felizmente, não há habitações consumidas, não temos vítimas a lamentar, nem há registos de destruição de infra-estruturas essenciais", sublinha a Protecção Civil em comunicado.

No Curral das Freiras, a situação permanecia, durante a tarde, "preocupante na Fajã dos Cardos, onde o incêndio no Caldeirão do Urzal continua activo, com progressão ascendente e favorecido pelo vento, aumentando o risco de propagação”. O fogo lavrou numa zona florestal de difícil acesso e próximo de habitações. Ao final da tarde as chamas atingiram o Pico do Arieiro, um dos pontos mais altos da ilha.

Horas antes, ainda na manhã desta terça-feira, o presidente da Protecção Civil regional, António Nunes, considerou a situação na Fajã dos Cardos a “mais preocupante de todas”. "Se o fogo chegar ao cume da serra, vai permitir intervir com o meio aéreo nessa área”, se o helicóptero estiver disponível e existirem condições atmosféricas para tal, explicou. “Naquele sítio é impossível fazer alguma coisa com meios apeados ou mesmo mecânicos."

Nestes sete dias, as autoridades deram indicação a perto de 200 pessoas para saírem das suas habitações por precaução e disponibilizaram equipamentos públicos de acolhimento, mas muitos moradores já regressaram a casa, à excepção da Fajã das Galinhas, em Câmara de Lobos, e da Furna, na Ribeira Brava.

Mantêm-se intransitáveis os acessos ao Paul da Serra (Ponta do Sol) e foram encerradas as estradas entre o Poiso e o Pico do Arieiro (entre os municípios de Santana e de Câmara de Lobos) devido ao incêndio, informou o governo regional.

Segundo o IPMA, a ilha da Madeira apresenta esta terça-feira em várias zonas perigo muito elevado de incêndio rural. O instituto mantém todo o arquipélago sob aviso amarelo devido ao tempo quente até ao final desta quarta-feira, 21 de Agosto.

A previsão para esta quarta-feira aponta para céu pouco nublado ou limpo no arquipélago e vento que pode chegar aos 40 quilómetros por hora nas terras altas e nos extremos Leste e Oeste da ilha da Madeira, diminuindo de intensidade relativamente aos últimos dias. No Funchal as temperaturas vão oscilar entre os 21 e os 28 graus Celsius.

A Câmara da Ponta do Sol activou esta terça-feira o Plano Municipal de Emergência, seguindo a decisão adoptada no final da semana passada pelas autarquias da Ribeira Brava e de Câmara de Lobos.

Também o Governo da Madeira anunciou no fim-de-semana a activação do Plano Regional de Emergência e Protecção Civil “face à iminência ou ocorrência de acidente grave ou catástrofe da qual se prevejam danos elevados para as populações, animais, bens ou o ambiente” e que exija medidas excepcionais, de prevenção, informação e planeamento.

Câmara do Funchal apela à população para poupar água

A Câmara Municipal do Funchal apelou esta terça-feira à população para a poupança de água, devido a vários constrangimentos que incluem o incêndio rural que lavra há quase uma semana na ilha.

“Por força da combinação de tempo quente, incêndios e constrangimentos relacionados com a queda de pedras, que afectam a adução de água às estações de tratamento da ARM [Águas e Resíduos da Madeira] que abastecem a cidade do Funchal, a Câmara Municipal alerta para a necessidade de poupar água”, escreveu o executivo local num apelo enviado às redacções.

A autarquia pede, por isso, que sejam evitadas “actividades não essenciais, nomeadamente a lavagem de quintais e de automóveis”.

Laurissilva não foi atingida

O Governo Regional da Madeira assegurou que a floresta Laurissilva “não foi atingida” pelo incêndio que lavra há sete dias na zona Sul da ilha da Madeira e remeteu um balanço da área ardida para mais tarde.

Contactada pela agência Lusa ao início da tarde, fonte da Secretaria Regional de Agricultura e Ambiente da Madeira indicou que, “até ao momento”, o incêndio rural não provocou danos nesta área, acrescentando que a formação florestal se encontra noutra parte da ilha. “Neste momento estamos concentrados neste esforço de combater este incêndio. Para já, não podemos fazer um balanço”, referiu a mesma fonte.

A Laurissilva é o nome por que é conhecida a floresta indígena da Madeira, constituída predominantemente por árvores e arbustos de folhagem persistente, segundo informação do Instituto de Florestas e Conservação da Natureza (IFCN). A formação florestal já existia quando os navegadores portugueses chegaram ao arquipélago da Madeira no século XIV, ocupando uma área de cerca de 15 mil hectares, o equivalente a 20% do território da ilha. Localiza-se essencialmente na costa Norte, atingindo 1300 metros de altitude. Na costa Sul persiste em alguns locais de difícil acesso, dos 700 aos 1200 metros de altitude.

Governo “vai avaliar” pedido para reforço de meios aéreos

A ministra da Administração Interna disse, entretanto, que o Governo “vai avaliar” o pedido de reforço permanente de meios aéreos para o combate aos incêndios na Madeira, mas realçou também que ainda é prematuro fazer essa análise.

“O Governo vai avaliar todas essas questões. Tudo o que seja para melhorar as condições dos madeirenses, podemos fazer. Tudo aquilo que o governo regional entenda que necessita do Governo central, vamos sentar-nos e estudar o melhor para as populações”, afirmou Margarida Blasco, em declarações aos jornalistas à margem da tomada de posse do novo comandante da Unidade Especial da Polícia, Pedro Teles, na sede da direcção da PSP, em Lisboa.

Manifestando uma “solidariedade muito grande” do Governo para com os madeirenses face ao incêndio que consome a região autónoma há quase uma semana, a governante lembrou o impacto da conjugação da orografia com os ventos fortes e indicou que o executivo continua a “acompanhar a par e passo” a situação.

“Neste momento será cedo para fazer a avaliação. Tudo tem de ser avaliado. O fogo ainda está a lavrar, ainda temos de acabar este fogo o mais depressa possível, assim o deixem as condições climatéricas. E, feito o rescaldo, iremos então com o governo regional e os madeirenses fazer a avaliação de quais são as necessidades e do que se pode melhorar. Neste momento, não posso responder, temos de ajudar primeiro as pessoas”, insistiu.

Margarida Blasco recusou fazer comentários sobre a polémica em torno do timing dos pedidos de ajuda do governo madeirense à República e adiantou apenas que “foi pedido e foi concedido de imediato esse contingente”, seguindo para a região 78 elementos, aos quais se juntaram na segunda-feira mais operacionais provenientes dos Açores. “Os reforços foram quando foi possível irem, quando foi necessário responder ao aumento dos fogos”, acrescentou, assinalando que “os factores meteorológicos mudam”, apesar dos meios de prevenção e combate existentes.