Antiga primeira-ministra do Bangladesh acusada em 21 casos de homicídio
Casos devem-se à violência policial no país durante os protestos que levaram à deposição de Sheikh Hasina do cargo.
A antiga primeira-ministra do Bangladesh Sheikh Hasina está a ser acusada em 21 casos de homicídio, um de rapto e três de crimes contra a humanidade, na sua maioria devido às acções da polícia e do seu Governo durante os protestos em massa que precederam a sua demissão e fuga para a Índia depois de 15 anos à frente do Governo do Bangladesh.
Na base da maioria das acusações está a violência exercida pela polícia durante os grandes protestos que ocorreram no Bangladesh desde o fim de Junho, de início contra a reintrodução de um sistema de quotas para veteranos e os seus descendentes na função pública, tendo evoluindo depois para protestos contra o Governo de Hasina.
Ao todo, durante os protestos, morreram mais de 400 pessoas vítimas de violência policial. Na sua maioria, as vítimas, tais como os manifestantes no geral, eram jovens estudantes.
Um dos últimos casos, noticiado nesta terça-feira pelo jornal do Bangladesh The Daily Star, envolve a morte pela polícia de um condutor de tuk-tuk na cidade de Rangpur, no qual estão também implicados os antigos ministros do Interior e do Comércio, antigos chefes da polícia e o antigo secretário-geral do partido que Sheikh Hasina liderava, a Liga Awami.
Para além de ser acusada destes crimes de homicídio, Hasina e oito outros membros do anterior Governo foram ainda acusados de crimes contra a humanidade e de genocídio no tribunal especial de crimes internacionais em Daca, capital do Bangladesh.
Na base destas acusações está a ideia de que a polícia foi utilizada directamente pela Liga Awami e por Sheikh Hasina para levar a cabo ordens “ilegais”. Já a acusação de rapto remonta a 2015, quando um juiz do supremo tribunal do Bangladesh terá sido raptado e torturado.
O inspector-geral adjunto da polícia turística Md Moniruzzaman revelou, na sua carta de demissão, que, ao longo dos últimos dez anos, foi “obrigado a cumprir ordens ilegais de ministros ligados ao Governo da Liga Awami”. Outro agente de polícia de alta patente, citado pela revista The Diplomat, disse que a polícia se transformou num “inimigo público”.
Direitos suprimidos
O chefe do Governo interino e vencedor do Nobel da Paz em 2006, Muhammad Yunus, escolhido pelo Exército e pelos movimentos estudantis, contou que o país que herdou do Governo de Hasina estava “um autêntico caos”.
“Nos seus esforços para se manter no poder, a ditadura de Sheikh Hasina destruiu todas as instituições do país”, afirmou Yunus, no primeiro encontro com diplomatas estrangeiros desde que tomou posse.
“O sistema judicial foi desmantelado. Os direitos democráticos foram suprimidos através de uma repressão brutal que durou uma década e meia. As eleições foram manipuladas de forma flagrante. Gerações de jovens cresceram sem exercer o seu direito de voto. Os bancos foram assaltados com total patrocínio político. E as finanças do Estado foram pilhadas por abusos de poder”, especificou o novo chefe do Governo interino, que sublinhou que o primeiro passo para esse executivo era a realização de reformas políticas e judiciais, deixando para depois a realização de novas eleições.
“Realizaremos eleições participativas, livres e justas logo que possamos concluir o nosso mandato para levar a cabo reformas vitais na nossa comissão eleitoral, no sistema judicial, na administração civil, nas forças de segurança e nos meios de comunicação social”, afirmou Muhammad Yunus, que definiu como objectivo o de “criar oportunidades para construir um novo Bangladesh próspero e sem pobreza”.
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