Prémio do Euromilhões dá uma ajuda às contas externas da economia portuguesa
Entrega do maior prémio de sempre do jogo em Portugal, de 214 milhões, melhorou excedente da balança de pagamentos do primeiro semestre.
Numa pequena economia como a portuguesa, quando um volumoso primeiro prémio do Euromilhões sai a um apostador nacional, esse facto extraordinário pode ter um efeito surpreendente na balança de pagamentos do país. E foi o que aconteceu no início deste Verão, quando, em Junho, um apostador do Porto ganhou um jackpot de 213,8 milhões de euros.
A sorte em escolher a chave “14, 16, 37, 45, 49 + 5, 7” gerou um milionário e, para lá das implicações pessoais que rapidamente farão o vencedor saltar para a lista de “sujeitos passivos” acompanhados pela Unidade dos Grandes Contribuintes da Autoridade Tributária e Aduaneira, a própria entrada do prémio na conta bancária da pessoa já teve um efeito momentâneo nas contas da economia portuguesa. A prová-lo estão as estatísticas oficiais que o Banco de Portugal (BdP) divulgou nesta terça-feira sobre a “balança de pagamentos e posição de investimento internacional” relativas a Junho deste ano.
O excedente da balança do rendimento secundário — onde se contabilizam as transferências correntes realizadas entre residentes em Portugal e não residentes no país — aumentou para 670 milhões de euros em Junho, comparando com um saldo positivo de 384 milhões em Junho do ano passado. E a explicação para a diferença de 286 milhões deve-se, “em grande parte”, justamente ao recebimento “do maior prémio de sempre do Euromilhões em Portugal, na ordem dos 200 milhões de euros”, porque é aqui que são contabilizados os prémios de jogo, explica o banco central português.
A balança de pagamentos, que “regista a vertente real das transacções entre os residentes e não-residentes de uma economia”, está subdividida em duas: na balança corrente e na balança de capital. A primeira está, por sua vez, repartida em três — e é aqui que se encontra a tal balança do rendimento secundário, onde se contabiliza o pagamento internacional do Euromilhões ou outras operações, como as transferências pessoais ou as remessas de emigrantes e imigrantes.
A par da balança do rendimento secundário, fazem parte da balança corrente a balança comercial (para o registo das importações e exportações de bens e serviços) e a balança do rendimento primário (onde são contabilizados os valores de determinados rendimentos recebidos por quem vive no país ou fora, como os “dividendos e juros recebidos por não-residentes, em resultado de investimentos que detêm em Portugal, e recebidos por residentes em Portugal, associados a investimentos no exterior), lê-se numa síntese do Banco de Portugal.
Feitas as contas aos primeiros seis meses do ano, a economia portuguesa apresentou um excedente externo de 4113 milhões de euros, quando, no mesmo período do ano passado, o valor fora de apenas 2115 milhões. Os 4113 milhões correspondem ao excedente das balanças corrente e de capital, que, em parte, beneficiaram do jackpot do Euromilhões.
E se este é um factor extraordinário, não foi o único a influenciar as contas. O Banco de Portugal explica que o saldo positivo resulta também de três outras razões: da circunstância de as importações de bens estarem a diminuir mais do que as exportações (o que levou a um decréscimo no défice da balança de bens na ordem dos 800 milhões de euros); do facto de as viagens e turismo no país estarem a levar a uma melhoria no excedente da balança de serviços (de 1191 milhões de euros); e ainda por se verificar uma diminuição do excedente da balança de capital (de 191 milhões de euros), “explicado, sobretudo, pela evolução das operações de compra e venda de activos intangíveis com o exterior.”
O prémio do Euromilhões saiu a 25 de Junho e, por isso, o recebimento do valor ainda entrou para as contas externas do primeiro semestre, de que o Banco de Portugal está agora a fazer o retrato estatístico. Poucas semanas depois, a 19 de Julho, um apostador português voltou a acertar na chave do Euromilhões, dividindo o jackpot de 53 milhões de euros com um apostador de um outro país que também acertou na composição vencedora.