Incêndio na Madeira mantém duas frentes activas. Já arderam mais de 7 mil hectares

Incêndio ainda lavra nas zonas altas da Encumeada e do Paul da Serra, descendo em direcção à Ponta do Sol. Pelas 17h estavam no terreno 183 bombeiros, 36 viaturas e um meio aéreo.

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Imagens de drone revelam dimensão do incêndio na Madeira Reuters, Joana Gonçalves

O incêndio que está a lavrar na ilha da Madeira desde quarta-feira continua com duas frentes activas nas zonas da Encumeada e do Paul da Serra, que estão a causar "alguma preocupação" às autoridades no terreno. De acordo com dados actualizados esta segunda-feira pelo Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais (EFFIS), terão ardido 7205 hectares nos últimos dias.

Segundo disse António Nunes, presidente da Protecção Civil da Madeira em directo para a SIC Notícias por volta das 9h desta segunda-feira, o incêndio ainda lavrava nas zonas altas da Encumeada ​(Ribeira Brava), e na zona do Paul da Serra, descendo uma encosta em direcção à Ponta do Sol.

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Num ponto de situação enviado por e-mail, a Protecção Civil refere que, pelas 12h30, estavam no terreno mais de 40 veículos de combate a incêndios, 150 operacionais e um meio aéreo. "Às 12h ocorreu um reacendimento no Curral das Freiras. No concelho de Câmara de Lobos, na zona do Jardim da Serra, mantém-se vigilância activa", refere a autoridade, que pede à população que evite "deslocações às áreas afectadas, pela sua segurança e para garantir uma operação de combate mais eficaz e segura para as equipas que estão no terreno".

Nas primeiras horas da manhã, existiam cerca de 80 operacionais no terreno, apoiados por 25 viaturas. A estes bombeiros juntaram-se a "força operacional conjunta que veio do continente, juntamente com o pessoal que veio dos Açores". "Estas equipas vão reforçar todo o contingente que está no terreno, nas zonas que forem mais adequadas e que forem mais necessárias para prestar o auxílio", referiu esta manhã António Nunes.

"Não tivemos nenhuma casa ou aglomerado habitacional que estivesse a ser ameaçado pelo fogo. Temos feito evacuação preventiva por causa da inalação de fumos", apontou.

Pelas 17h já tinham sido mobilizados para o terreno 183 bombeiros, apoiados por 36 viaturas e um meio aéreo. O combate às chamas tem sido dificultado pelo vento, agora mais reduzido, e pelas temperaturas elevadas, mas não há registo de feridos ou de destruição de habitações e infra-estruturas essenciais.

António Nunes fez também um comentário às críticas de que foi alvo Miguel Albuquerque, presidente do Governo Regional da Madeira, por não ter aceitado a ajuda do Governo central mais cedo.

"Numa fase inicial do incêndio, tínhamos muito mais meios disponíveis do que aqueles que colocámos no terreno. Não os colocámos por uma questão de economia de esforço e porque não havia condições mínimas para que pudessem operar", apontou o responsável da Protecção Civil. " Se colocássemos mais elementos, seria para servirem – desculpem o termo – de meros espectadores. São zonas de vales encaixados muito íngremes, onde não é possível os bombeiros actuarem a pé ou com ajuda das viaturas."

E sublinhou ainda que as autoridades não esgotaram a capacidade de meios que a região autónoma da Madeira tem para fazer face a uma situação "com esta tipologia e com esta dimensão". "Neste momento, os meios que temos são os adequados e suficientes para fazermos face àquilo com que nos estamos a deparar", apontou. "Há corporações de bombeiros na região que têm meios disponíveis e dos quais, se for necessário, nos podemos socorrer para ampliar a nossa capacidade de ataque a esta situação".

A Polícia Judiciária está a investigar "desde o início" a origem do incêndio. À Lusa, fonte policial recusou fornecer pormenores, indicando apenas que o Departamento de Investigação Criminal da Madeira "está a desenvolver as diligências de investigação que são normais neste tipo de situações".

Floresta Laurissilva não deverá ser ameaçada, diz ex-presidente da Quercus

O incêndio que lavra há cinco dias na Madeira pode ter um impacto ambiental significativo na zona Sul da ilha, mas não deverá ameaçar a floresta Laurissilva, segundo perspectivou esta segunda-feira o professor universitário e ex-presidente da Quercus Hélder Spínola.

“Neste momento, a floresta Laurissilva está particularmente nas encostas viradas a Norte. São um espaço mais húmido. A própria floresta Laurissilva é muito mais resistente aos incêndios do que esta floresta exótica, com muitos elementos invasores”, referiu Hélder Spínola à agência Lusa, num balanço sobre o incêndio.

O académico explicou que onde o fogo lavra com maior intensidade (Sul da ilha) predominam “espécies exóticas e invasoras”, ainda que com alguns “elementos nativos próprios”.

“Isto não quer dizer que as perdas não sejam relevantes. São, sem dúvida. Estas zonas afectadas pelos incêndios estavam a recuperar os seus elementos naturais, ao longo dos anos. Estamos a falar de incêndios que são cíclicos”, apontou, lembrando que a reincidência dos incêndios contribui para a "degradação dos elementos naturais" da flora madeirense e para a "erosão dos solos".

Em comparação com incêndios ocorridos nos últimos anos, Hélder Spínola identifica uma tendência de descontrolo dos fogos "nas encostas viradas a Sul, onde as condições são mais propícias", e nas zonas mais altas. "Em algumas situações, acabam por começar a afectar as encostas mais voltadas para Norte. Mas, quando isso acontece, perde força, devido à humidade da Laurissilva, e, felizmente, tem atingido apenas as zonas limítrofes da floresta."

Fogo extinto na Serra de Água e Câmara de Lobos

Entretanto, o presidente do município de Câmara de Lobos, Leonel Silva, avançou esta manhã que o incêndio naquela zona estava praticamente extinto. “No caso de Câmara de Lobos, temos a situação controlada, o fogo praticamente extinto e sob vigilância, pois a qualquer momento pode ocorrer algum reacendimento. Já desmobilizámos algum dispositivo para poder ser reafectado para outras necessidades”, adiantou.

Também a presidente da Junta de Freguesia de Ribeira Brava avançou que o fogo na freguesia de Serra de Água está extinto e as pessoas retiradas no domingo têm estado a regressar às suas casas. “O fogo está extinto, não há frentes activas que se veja e a situação está agora em vigilância”, afirmou Albertina Ferreira à agência Lusa, ao início da manhã. A autarca adiantou que se aguarda agora para “começar o processo de limpeza e talvez a criação de um gabinete de crise”, estando a aguardar instruções.

O incêndio deflagrou na quarta-feira no concelho da Ribeira Brava e as chamas atingiram depois os de Câmara de Lobos e da Ponta do Sol. O fogo mantinha, ao final da tarde de domingo, 18 de Agosto, três frentes activas: Serra de Água, Curral das Freiras e Fajã das Galinhas.

Na Fajã das Galinhas, na freguesia do Curral das Freiras, os peritos do Laboratório Regional de Engenharia, em colaboração com o Serviço Regional de Protecção Civil, efectuaram esta segunda-feira uma avaliação do talude para garantir que as famílias retiradas das suas casas podem regressar em segurança.

Até domingo, 160 pessoas foram retiradas das suas habitações por precaução e transportadas para equipamentos públicos, mas muitos moradores já regressaram ou estão a regressar a casa.

Estradas e equipamentos regionais sem "grandes danos"

O secretário dos Equipamentos da Madeira, Pedro Fino, revelou esta segunda-feira que não existem “grandes danos” nas estradas e infra-estruturas da região devido ao incêndio, depois de uma ronda pelas zonas afectadas pelo fogo.

“Felizmente, não constatámos grandes danos”, diz Pedro Fino, citado pela Secretaria Regional dos Equipamentos e Infra-estruturas. Em comunicado, é referido que o governante esteve na Serra de Água, no município da Ribeira Brava, e no sítio da Fajã das Galinhas, no concelho de Câmara de Lobos, dois dos locais mais fustigados pelo fogo.

Um dos equipamentos que “inspirava grande preocupação” era a Central Hidroeléctrica da Serra de Água, mas “não apresenta danos de maior”, lê-se no documento.

Pedro Fino indica ainda que grande parte das estradas regionais estão encerradas “apenas por precaução”, mas recomenda à população que não se desloque para zonas com frentes de fogo activas, nomeadamente o Paul da Serra, o único planalto da Madeira. Com Lusa

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