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Bom dia, alegria!
As lembranças todas que hoje descrevo para vocês me fazem viajar no tempo e aportar em Portugal. Claro, Belém tem uma importância imensa para mim, é a minha cidade, é o meu coração, é a minha vida.
Os artigos da equipa do PÚBLICO Brasil são escritos na variante da língua portuguesa usada no Brasil.
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Nasci com a alma portuguesa, alimentada pela família de meu pai, fundamentalmente, numa cidade chamada Belém do Pará, a cidade mais portuguesa do Brasil. Na alimentação, nos hábitos, no vocabulário, Belém é portuguesa.
Por parte de mãe, minha avó era açoriana, da ilha de São Miguel. Meu avô, um paraense da Vila do Pinheiro, muito moreno, como o tabaco, muito baixinho e muito ranzinza. Vovô Moura Palha e vovó Ricardina, ela era açúcar, mel, bom humor e devoção. Ela era a vida em volta do meu avô.
Vovó nasceu em Belém, salvo o erro, não sei dizer. O fato é que o pai dela era de São Miguel, e eu ainda cheguei a conhecer meus parentes de lá ligados a vovó. Um deles, um grande historiador, Hugo Moreira. Ainda o conheci cheio de saúde, mas já partiu para outro plano.
E foi uma alegria conhecer os parentes de minha avó Ricardina. Ela sempre pronta, "entalcada", perfumada, sempre com um vestido de seda estampado e colarzinho de pérolas. Sempre arrumada para o meu avô, Augusto César de Moura Palha.
Essas lembranças todas que hoje descrevo para vocês me fazem viajar no tempo e aportar em Portugal. Claro, Belém tem uma importância imensa para mim, é a minha cidade, é o meu coração, é a minha vida.
Na beira daqueles igarapés aprendi a andar e ir ao mercado do Ver-o-Peso, onde eu ia quase todas as manhãs com meu pai comprar nosso almoço e nosso jantar. O Círio de Nazaré, que, desde criança, a gente aprende a olhar com devoção.
E, nessa coluna, eu pretendo contar para vocês o meu olhar sobre a vida, vida esta que já tentou me passar a perna várias vezes. Mas eu sempre me segurei na fé e na esperança. Entendo que existem duas categorias de gente, as que acreditam e vão em frente e as que se vitimizam e ficam no meio do caminho. Sou da primeira, que acredita que vai dar certo.
Eu não era a mais ajeitada, nunca quis ser miss e nunca quis casar. Nunca fui a mais bonita, era aquela menina muito curiosa, observadora. Meu lugar nunca foi o da submissão. Não buscava alguma recompensa do meu pai. Quando ele nos deixava uma ou duas moedas para podermos ir ao cinema, eu, com 10 anos, e meu irmão, com 12, pagávamos a colaboração lavando o carro da família. Essa menina ainda sou eu, e ela me acompanha quando acordo e digo: bom dia, alegria.
Essa menina nunca me abandona. Essa menina não permite que eu envelheça. Tem sede de vida, de liberdade e de conhecer o outro. Conheço Portugal de Freixo da Espada à Cinta a Vila Real de Santo António. Conheço as entranhas dessa terra e amo esse povo.
Fafazinha chega em Portugal e é abraçada. A passagem da minha vida que vou contar aqui é de muita importância, de perdas, de reencontros e encontros. Sei que Portugal ama o Brasil e a África, pela sua alegria, pelo seu sol.
Por isso, devemos ser muito cuidadosos ao chegar às terras portuguesas. Temos de entender que devemos chegar de mansinho e entender como são as pessoas e as coisas. A verdade, a delicadeza, o afeto, a consideração, a humildade e o respeito são fundamentais para quem chega num país estrangeiro.
E, sim, embora falemos quase o mesmo idioma, nós somos estrangeiros em Portugal. Portanto, boa educação e respeito nunca serão demais. Obrigada por tudo, meu Portugal. Te amo para sempre. Amo esse país e seu povo.
Assinado: Fafazinha.