Num dos primeiros dias de Verão, depois dos exames do ensino secundário terem terminado, encontrei um dos meus sobrinhos mais novos na praia. Louro e branco, e sob o sol forte da tarde, estava completamente encarnado. "Precisas de protector? A tia tem", disse-lhe, depois de o abraçar. "Não", respondeu-me com o braço por cima dos meus ombros, cresceu quase meio metro a mais do que eu e tem gosto em sentir que nos protege, às baixinhas da família, "isso do protector não se usa! Um escaldão nunca fez mal a ninguém", acrescentou. Insisti, deu-me um beijo e voltou para junto dos amigos.

Depois disso, sabem como é o algoritmo, começaram a aparecer-me no smartphone publicações sobre esta nova geração e a sua relação com os protectores solares, que não os usam e têm uma série de teorias sobre os seus malefícios. De seguida, já não eram publicações ad-hoc, mas de órgãos de comunicação social de referência norte-americanos, ingleses, franceses e espanhóis. "Espera, mas isto é mesmo uma tendência do TikTok", constatei, indo espreitar a rede que abraça os miúdos por todo o lado, aquela que foi processada pelo Governo dos EUA por violar a privacidade das crianças de 13 anos, a mesma que leva até as campeãs olímpicas da ginástica a combinar, num entusiasmo infantil, que TikToks fazer para publicarem em conjunto.

Assim como há os negacionistas das vacinas, há os negacionistas da protecção solar. Se calhar, existiram sempre. Eu, com precisamente a mesma idade do meu sobrinho, apanhei "o" escaldão sob o sol abrasador da Caparica, para onde ia com os colegas do secundário, de barco até à Trafaria, e sem sequer levar chapéu-de-sol, para ficar um dia inteiro na praia, apesar dos avisos da minha avó. Uma decisão que me levou à cama, com febre, ou seja, um escaldão e uma insolação. Mas, tal como o meu sobrinho, também eu acreditava que aquela seria a maneira mais rápida de ganhar alguma cor — qual protector solar, olá bronzeador!

Não havia redes sociais, mas éramos parvos e temerários como é próprio da idade. Agora, a diferença é que eles têm mais acesso a informação, só que esta chega enviesada e com teorias da conspiração à mistura. Um problema não só para a nossa saúde física e mental, mas também para a nossa democracia. É nas redes sociais que os mais jovens seguem tendências, como o regresso dos jorts — aquela coisa que não são calças de ganga (jeans), nem são calções (shorts), mas um misto (jorts) —, ou seguem pessoas que admiram — como Ella Emhoff, a enteada de Kamala Harris, ou o atleta britânico Tom Daley, que conquistou medalhas em cinco Jogos Olímpicos. Curiosamente, em comum, têm serem influências positivas e fazerem tricô. Vale a pena conhecê-los.

Como vale a pena conhecer a espanhola Paula Leitón, que respondeu à letra a quem, nas redes sociais, a criticou por ser gorda, num desconhecimento do que são os corpos de muitos atletas em determinados desportos — a ignorância é atrevida —; alguns dos amores que se revelaram nos Jogos Olímpicos, e o casal Tara Davis-Woodhall e Hunter Woodhall — a súmula do que deve ser o amor sem olhar a cores ou a condições físicas, "duas pessoas normais", diz o atleta paralímpico: "Nós trazemos muita diversidade para o nosso relacionamento, e queremos ser realmente transparentes sobre isso. Tara é uma mulher de cor. Eu tenho uma deficiência. Queremos que as pessoas saibam que quem quer que sejam, qualquer que seja a situação em que se encontrem... Está tudo bem e é isso que as torna especiais e únicas."

Quem parece não se dar bem com a diversidade no seu próprio casamento é o candidato republicano a vice-presidente, J.D. Vance, que em resposta aos supremacistas brancos — que mais do que ignorantes atrevidos são perigosos — quase que pediu desculpa por a sua companheira ser de origem indiana. Aos olhos do marido, Usha Vance é uma boa mãe e uma boa profissional, com um currículo invejável. "Obviamente, ela não é uma pessoa branca, e nós fomos acusados, atacados por alguns supremacistas brancos sobre isso. Mas eu amo Usha." Uma declaração fraca de quem devia defender não só a mulher, mas os filhos que são mestiços. Usha está no centro de uma polémica cultural, atacada por republicanos e por democratas.

E, na frase anterior, foi intencional usar apenas o primeiro nome da advogada, sem apelido, para introduzir um novo tema: Porquê Kamala, Hillary e Nancy; e não Joe, Donald e Barack? Talvez porque as mulheres ainda são poucas na política? Porque há um preconceito de género? É ler o texto de Petula Dvorak, do The Washington Post, que cita um caso que eu desconhecia, de um amor proibido e aprisionado na América da década de 1960, de Mildred e Richard Loving, ela negra, ele branco. Um amor que venceu, mas que nos mostra como, em 2024, os EUA (mas não só) continuam tão presos ao passado, com gente que ainda não assimilou a ideia de que somos todos iguais.

Sobre amor, vamos aos filhos e às férias! A psicóloga Vera Ramalho escreve sobre um tema recorrente no seu consultório: as férias dos filhos de casais divorciados, como os miúdos podem ser joguetes nas mãos dos pais. A pediatra Ana Rodrigues Silva dá sete dicas para as férias de pais e filhos correrem de feição. A professora Paula Teixeira aconselha a como manter os alimentos durante o Verão e lembra a importância de o fazer, afinal, anualmente morrem 500 mil pessoas por consumirem alimentos contaminados. Um dos pratos mais frescos e consumido nesta altura é a Salada César que foi criada no... México. Celebra cem anos e a sua história é curiosa, como é a da sopa que o faz chef Carlos Teixeira, da Herdade do Esporão, numa tentativa de repetir os sabores da canja da sua avó. A memória. O Verão é também tempo para construirmos memórias e saudades, como as que Nelson Marques partilha na sua crónica Um coração que bate em dois lugares ao mesmo tempo.

Boa semana!