Incêndio na Madeira. Todas as corporações no terreno, 80 bombeiros da Força Especial a caminho

Foram retiradas das habitações cerca de 50 famílias. O combate ao incêndio “tem sido especialmente difícil devido à progressão do fogo em áreas de difícil acesso terrestre”.

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Fumo do incêndio este sábado DR
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O incêndio teve origem na Serra de Água, concelho da Ribeira Brava, na quarta -feira pela manhã HOMEM DE GOUVEIA / LUSA
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Bombeiros tentam dominar as chamas HOMEM DE GOUVEIA / LUSA
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Fumo do incêndio que teve origem na Serra de Água, concelho da Ribeira Brava RHOMEM DE GOUVEIA / LUSA
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A Madeira vai receber 80 elementos da Força Especial dos Bombeiros, que chegarão à região na próximas horas para ajudar no combate ao incêndio rural iniciado na quarta-feira, 14 de Agosto, e com várias frentes activas, anunciou neste sábado o Governo Regional.

O incêndio, que deflagrou na Ribeira Brava, alcançou a freguesia do Curral das Freiras e obrigou à retirada de residentes, estando a ser combatido ao final da noite deste sábado por mais de 100 operacionais de todas as corporações de bombeiros da Madeira. Estes profissionais são apoiados por 37 veículos, tendo sido também accionada uma aeronave para o combate às chamas durante o dia. As chamas atingem também o município de Câmara de Lobos, que já activou o Plano Municipal de Emergência.

O presidente do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuquerque, interrompeu o período de férias em Porto Santo para acompanhar a situação nos concelhos da Ribeira Brava e Câmara de Lobos, avançam os órgãos de comunicação madeirenses. O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, tem sido informado sobre a situação dos incêndios na Madeira, tendo manifestado "preocupação e solidariedade", anunciou este sábado o gabinete do representante da República para esta região autónoma.

Em conferência de imprensa nas instalações do Serviço Regional de Protecção Civil, no Funchal, Pedro Ramos adiantou que estão também no terreno, além dos bombeiros, elementos do Instituto de Florestas e Conservação da Natureza, quatro operacionais da GNR e oito viaturas, assim como 11 agentes da PSP apoiados por oito viaturas.

“Face à evolução da situação e tendo em conta as condições meteorológicas que estão a dificultar a acção dos homens no terreno e após novo contacto com o secretário de Estado da Protecção Civil e o presidente da Autoridade Nacional de Protecção Civil, o Governo Regional anuncia que neste momento está a decorrer toda a logística necessária para permitir que 80 elementos da Força Especial dos Bombeiros possam chegar à Madeira nas próximas horas”, lê-se numa nota enviada às redacções.

A Secretaria Regional de Saúde e Protecção Civil refere que "esta força de homens irá complementar todo o trabalho que está a ser feito no terreno pelos bombeiros, Polícia Florestal e demais entidades envolvidas neste combate ao incêndio". "Mais informamos que na última hora os meios no terreno foram reforçados e as equipas de intervenção florestal afectas à Guarda Nacional Republicana foram accionadas", indica a tutela, sem precisar o número de meios.

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Enviados 80 bombeiros da Força Especial Homem de Gouveia/Lusa

Em declarações à RTP3 pelas 21h, Manuel Filipe, presidente do Instituto das Florestas e Conservação da Natureza, afirmou que tem "todos os meios alocados", ou seja, cerca de cem operacionais em permanência. Nesta fase "a preocupação é extinguir o fogo", afastando-se o cenário, para já, de poder chegar à floresta Laurissilva. "As previsões para esta noite são boas, no que diz respeito à humidade e temperatura, mas temos de ver", disse, lançando um apelo à população para que adopte atitudes preventivas. "A pior coisa que podia acontecer era novos focos de incêndio."

Famílias retiradas recebem apoio psicológico

O Serviço Regional de Saúde da Madeira (Sesaram) disponibilizou duas linhas de apoio a todos os utentes da região, uma assegurada pelo serviço de psicologia, com o número 969320140, e a linha de apoio SRS 24h, assegurada pelo gabinete de apoio à família, com o número 800242420.

Cerca de 50 famílias estão neste sábado a receber apoio clínico, social e psicológico no Curral das Freiras, depois de esta noite terem sido retiradas das suas habitações devido ao incêndio que atinge a freguesia, indicou o Governo Regional.

Em declarações aos jornalistas no Curral das Freiras, concelho de Câmara de Lobos, cerca das 13h, o secretário regional da Saúde e Protecção Civil, Pedro Ramos, referiu que as pessoas retiradas das suas casas, nas zonas da Terra Chã de Cima e Seara Velha, estão a ser acolhidas na igreja local e que o apoio clínico também está assegurado com a abertura do centro de saúde. Durante a tarde deste sábado, foi também decidido evacuar o sítio da Fajã das Galinhas, na freguesia do Estreito de Câmara de Lobos, de onde foram retiradas cerca de 60 pessoas.

Segundo Pedro Ramos, o incêndio, que começou na quarta-feira de manhã na Serra de Água, no município da Ribeira Brava, está actualmente activo na Encumeada, naquele concelho, e nas freguesias do Curral das Freiras e do Jardim da Serra, no município vizinho de Câmara de Lobos.

De acordo com a última actualização divulgada às 10h15 pelo Serviço Regional da Protecção Civil (SRPC) da Madeira, o combate ao incêndio "tem sido especialmente difícil devido à progressão do fogo em áreas de difícil acesso terrestre".

"No Curral das Freiras, o incêndio já se espalhou por toda a encosta, colocando em risco as áreas de Seara Velha e Terra Chã de Cima, tendo o evoluir do incêndio nesta freguesia originado a evacuação de residentes das suas habitações por segurança e precaução, desencadeada pelo Serviço Municipal de Protecção Civil de Câmara de Lobos", avança a Protecção Civil.

Já no concelho de Câmara de Lobos, o fogo está "ramificado entre as localidades do Jardim da Serra e Curral das Freiras", sendo que, no Jardim da Serra, "as chamas aproximam-se de zona habitacional, apesar de ainda não haver residências em perigo".

Na Ribeira Brava, o incêndio "continua activo na frente da Encumeada", mas "fora de zonas habitacionais", sendo que uma Equipa de Combate a Incêndios Rurais (ECIR), afecta aos Bombeiros Mistos da Ribeira Brava e Ponta do Sol, "mantém vigilância activa" no local. A Câmara do Funchal está a retirar preventivamente alguns animais do canil municipal Vasco Gil, embora afaste "qualquer perigo iminente".

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Na sexta-feira, questionado sobre a necessidade do reforço de meios e pela ajuda que foi disponibilizada pelo Governo da República, Pedro Ramos reiterou que tal não seria necessário, justificando que os meios da região "não estão esgotados". "Temos 54 operacionais no terreno, de um total de 750 bombeiros. Temos 18 veículos, de um total de mais de uma centena de veículos", apontou.

Relativamente à possibilidade de a República disponibilizar uma aeronave de combate aos incêndios (a região apenas dispõe de uma), o secretário regional da Protecção Civil disse que demoraria "muito mais" do que um dia a chegar à Madeira, insistindo em que actualmente não é necessário.

"Nós pedimos ajuda a Lisboa se virmos que os nossos meios estão prestes a ser esgotados, que não é o caso, mas agradecemos a disponibilidade", reforçou.

Pedro Ramos adiantou também que tem estado em contacto com o secretário de Estado da Protecção Civil, Paulo Ribeiro, a quem tem dado conta do ponto de situação do incêndio. O governante disse ainda que as previsões meteorológicas apontam para "uma diminuição dos ventos", esperando que "durante o dia de hoje as coisas fiquem mais controladas".

"Apesar das condições adversas, como altas temperaturas, baixa humidade, ventos fortes e orografia complexa, as equipas encontram-se no teatro de operações a desenvolver todos os esforços para controlar as chamas e salvaguardar as residências", destacou a Protecção Civil pelas 10h15, apelando à população para evitar deslocações desnecessárias para as áreas afectadas.

Albuquerque rejeita apoio da República, PS Madeira diz que decisão é "irresponsável"

Na sexta-feira à noite, fonte do gabinete do presidente do executivo madeirense disse à agência Lusa que o Governo da República ofereceu apoio no combate ao incêndio, mas também Miguel Albuquerque, assim como Pedro Ramos, transmitiram que os meios no terreno eram suficientes nesta altura. "O ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, contactou o presidente do Governo Regional no sentido de apoiar no combate aos incêndios", disse à agência Lusa fonte do gabinete de Miguel Albuquerque.

O presidente do Governo madeirense, segundo a mesma fonte, informou que "devido às zonas de difícil acesso" onde se verificam os fogos, não é possível afectar mais meios e "até o helicóptero nem sempre pode actuar devido ao vento". "De momento, não é necessário", reforçou.

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Incêndio teve início na quarta-feira

O líder do PS/Madeira, Paulo Cafôfo, classificou de "incompreensível e irresponsável" a decisão do presidente do Governo Regional, Miguel Albuquerque, de rejeitar o apoio da República para o combate aos incêndios na ilha.

"Mais que não fosse por prevenção, esta recusa de Miguel Albuquerque, numa atitude que já conhecemos de que "está tudo controlado", demonstra que não podemos confiar naquele que deveria ser o primeiro a garantir a segurança de pessoas e bens", diz o responsável socialista insular num comunicado.

O presidente do parlamento da Madeira, José Manuel Rodrigues, manifestou neste sábado o seu apoio e solidariedade com as populações e com todos os envolvidos no combate aos incêndios nos concelhos de Câmara de Lobos e da Ribeira Brava.

"Acompanho com preocupação o evoluir da situação e estou certo de que, no tempo próprio, a Assembleia e os seus deputados tomarão medidas, em conjunto com o Governo, para minimizar os prejuízos destes incêndios na floresta, nos terrenos agrícolas e nos bens das populações", afirma José Manuel Rodrigues, numa nota enviada às redacções.

O presidente do parlamento regional diz-se solidário com as populações que estão a sofrer com os incêndios que lavram nas freguesias do Curral das Freiras e Jardim da Serra, em Câmara de Lobos, assim como na Serra de Água, concelho da Ribeira Brava.

"Manifesto, também, a minha solidariedade aos autarcas, bombeiros, polícias, operacionais da protecção civil e outras pessoas que estão a trabalhar no combate aos fogos", lê-se na nota.

José Manuel Rodrigues refere ainda que a natureza é o bem "mais precioso, depois das pessoas, e está a ser particularmente atingida por estes dias, com consequências na vida das pessoas, no turismo" e na biodiversidade da ilha.

Notícia actualizada às 21h48: acrescentadas informações sobre a evolução do incêndio e reforço de operacionais