Denise Fernandes “melhor cineasta emergente” num Festival de Locarno virado a Leste

Palmarés de 2024 deu prémios máximos a primeiras obras da Lituânia e da Geórgia, mas a realizadora luso-cabo-verdiana de Hanami traz da Suíça um dos galardões principais.

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Denise Fernandes viu premiada a sua primeira longa-metragem Massimo Piccoli/Locarno Film Festival/Ti-Press
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Numa 77.ª edição do Festival de Locarno que deu os prémios máximos à Europa de Leste, a luso-cabo-verdiana Denise Fernandes recebeu o prémio de Melhor Cineasta Emergente pela sua primeira longa-metragem, Hanami, na competição paralela Cineastas do Presente.

O Leopardo de Ouro da competição principal foi para o filme lituano Toxic, de Saulé Bliuvaité, que recebeu igualmente um dos dois galardões de melhor primeira obra, enquanto o seu conterrâneo Drowning Dry, de Laurynas Baleisa, venceu os Leopardos de Melhor Realização e Melhor Interpretação (atribuída colectivamente aos quatro actores principais). No concurso Cineastas do Presente (para primeiras obras), o Leopardo de Ouro foi para a Geórgia, por Holy Electricity, de Tato Kotetishvili.

Um palmarés que confirma o Festival de Locarno, que termina este sábado, como um espaço de descoberta de novos talentos e de atenção a cinematografias minoritárias, mas que ganhou também uma dimensão política durante a cerimónia de apresentação dos prémios, que decorreu ao princípio da tarde no cinema GranRex. Vários dos discursos de agradecimento falaram da Guerra da Ucrânia e da situação na Palestina, até porque o outro "eixo" dos prémios 2024 foi o Médio Oriente. O Grande Prémio do Júri coube a Moon, da iraquiana-austríaca Kurdwin Ayub, sobre a situação feminina na Jordânia, e a curta vencedora na competição de Curtas de Autor foi Upshot, da palestiniana Maha Haj. O guianês Maxime Jean-Baptiste obteve o Grande Prémio do Júri do concurso Cineastas do Presente por Listen to the Voices (que teve igualmente direito a menção especial na categoria de melhor primeira obra), e a segunda primeira obra premiada foi o documentário Green Line, da francesa Sylvie Ballyot, sobre a guerra do Líbano.

Se os prémios foram entregues maioritariamente a cineastas emergentes, o palmarés não esqueceu os veteranos a concurso. By the Stream, do sul-coreano Hong Sang-soo (já premiado em Berlim há poucos meses por A Traveler's Needs), valeu à sua actriz principal (e musa do realizador) Kim Min-hee o prémio de interpretação, enquanto o segundo filme da trilogia Youth, do chinês Wang Bing, Youth (Hard Times), recebeu uma menção especial.

Com Hanami, a presença portuguesa sai parcialmente vencedora do festival suíço. A história de uma menina cabo-verdiana deixada pela mãe, emigrante, na Ilha do Fogo recebeu não apenas o prémio de realização nos Cineastas do Presente como também uma menção especial na categoria transversal de melhor primeira obra. Denise Fernandes, ao receber o seu prémio, agradeceu a Cabo Verde e falou da experiência emocional de estrear o filme, co-produção entre a Suíça e Portugal, na cidade onde cresceu, imigrante também ela.

Fogo do Vento, de Marta Mateus, que estava no Concurso Internacional e, tal como Hanami, obteve excelentes críticas da imprensa, sai de Locarno sem prémios, mas com presença garantida no prestigiado festival de Nova Iorque, a decorrer entre 27 de Setembro e 14 de Outubro, na secção paralela Currents.

O júri desta edição de Locarno foi presidido pela realizadora Jessica Hausner (Lourdes, Clube Zero) e contou ainda com a produtora Diana Elbaum, a cineasta Payal Kapadia (Grande Prémio do Júri em Cannes 2024 por All We Imagine as Light), e os actores Luca Marinelli e Tim Blake Nelson. Na competição paralela Cineastas do Presente, o júri foi composto pela cineasta Lina Soualem (filha da actriz palestiniana Hiam Abbass e autora do documentário Bye Bye Tiberias), pelo realizador C. J. «Fiery» Obasi, e pelo crítico Charles Tesson.

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