Ucrânia prossegue ofensiva na Rússia em busca de “moeda” para troca de prisioneiros

Zelensky admite que a captura de soldados russos, para trocar por prisioneiros ucranianos, é um dos objectivos da ofensiva em Kursk. Já no Donbass, as forças russas continuam a ganhar terreno.

Foto
Tanque ucraniano junto à fronteira com a Rússia Viacheslav Ratynskyi / REUTERS
Ouça este artigo
00:00
03:12

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

O comandante máximo do exército ucraniano, o general Oleksandr Syrskyi, disse esta sexta-feira que as forças de Kiev estavam a avançar entre um e três quilómetros em algumas áreas da região de Kursk, 11 dias após o início de uma incursão na Rússia.

Kiev afirma ter assumido o controlo de 82 localidades numa área de 1150 quilómetros quadrados na região russa desde 6 de Agosto. O Ministério dos Negócios Estrangeiros ucraniano sublinha que a área é superior à que a Rússia capturou na Ucrânia este ano.

Ao informar o Presidente Volodymyr Zelensky, através de uma ligação por vídeo, Syrskyi relatou combates na área de Malaya Loknya, a cerca de 11,5 quilómetros da fronteira ucraniana. O Presidente disse esperar que os combates na região permitam aos militares de Kiev capturar "muitos prisioneiros".

"A operação na região de Kursk - estamos a reforçar as nossas posições e a repor o 'fundo de troca' para a Ucrânia", disse Zelensky no X após o relatório de Syrskyi.

As autoridades de Kiev afirmaram que centenas de soldados russos tinham sido feitos prisioneiros, manifestando a esperança de que isso acelerasse a troca por combatentes ucranianos mantidos em cativeiro na Rússia.

A Rússia classificou a incursão como uma "grande provocação" e prometeu retaliar com uma "resposta digna", mais de dois anos e meio desde que lançou uma invasão em larga escala do seu vizinho.

O Ministério da Defesa russo disse por seu turno, esta sexta-feira, que as suas tropas repeliram ataques ucranianos em várias áreas, incluindo perto das aldeias de Gordeevka, Russkoe Porechnoe, e outras.

Zelensky classificou as perdas da Rússia na região de Kursk como "muito úteis" para a defesa da Ucrânia.

"Trata-se da destruição da logística do exército russo e do esvaziamento das suas reservas", afirmou num discurso proferido ao fim da tarde.

O comandante da Força Aérea de Kiev, Mykola Oleshchuk, acrescentou no Telegram que a aviação foi uma parte activa da operação, que visou as rotas de abastecimento e os centros logísticos do inimigo. O responsável publicou um vídeo de um ataque a uma ponte.

O governador da região de Kursk, Alexei Smirnov, disse que a Ucrânia tinha destruído uma ponte rodoviária sobre o rio Seym, no distrito de Glushkovsky.

Objectivo a leste

No entanto, os combates mais intensos dos últimos dias ocorreram no litoral da Ucrânia, onde as tropas russas avançam há meses em direcção ao centro estratégico de Pokrovsk.

Os analistas afirmam que distrair as forças russas a leste era um dos objectivos da operação Kursk ucraniana. Mas, até à data, não há qualquer indicação de abrandamento no Leste.

Segundo as autoridades locais, as forças russas encontravam-se a dez quilómetros dos arredores de Pokrovsk e a cerca de seis quilómetros da cidade vizinha de Myrnohrad.

"Se o objectivo era desviar o esforço russo do Donbass, até agora falhou", disse Yohann Michel, um perito militar francês e investigador do Instituto IESD em Lyon, França.

Segundo este perito, Kiev pretendia maximizar o efeito da ofensiva de Kursk, enquanto a Rússia tentava fazer o mesmo no Leste da Ucrânia.

"É provavelmente o primeiro a pestanejar que terá de parar a sua própria ofensiva", disse.

Zelensky disse que a Ucrânia "nem por um segundo" se esqueceu do Leste e prometeu novas entregas de armas - para além do que estava planeado - para reforçar as posições.