FPF comunicou ao Ministério Público queixa contra Vítor Murta por assédio sexual

Presidente do Boavista condenado pelo Conselho de Disciplina da Federação em caso de assédio sexual contra funcionária. Dirigente enfrenta pena de suspensão de seis meses e 2448 euros de multa.

Foto
Vitor Murta, presidente do Boavista, condenado por caso de assédio sexual contra funcionária RUI FARINHA
Ouça este artigo
00:00
02:47

A Federação Portuguesa de Futebol (FPF) comunicou ao Ministério Público a queixa de assédio sexual contra Vítor Murta no caso que ditou a suspensão do dirigente, apurou o PÚBLICO junto de fonte federativa. O Conselho de Disciplina (CD), órgão da FPF responsável pela justiça desportiva, condenou o presidente do Boavista num caso de assédio sexual contra uma antiga funcionária do emblema "axadrezado". O dirigente foi castigado com uma suspensão de seis meses e 2448 euros de multa, mas já adiantou que recorrerá da decisão de primeira instância.

A comunicação destas provas às autoridades deu-se no momento em que a FPF começou a investigar a denúncia. O caso é grave e extrapola o domínio desportivo, visto tratar-se de uma acusação de assédio sexual. Ao longo do acórdão com 47 páginas, o CD dá os factos contra o dirigente como provados, descrevendo os incidentes em que Vítor Murta terá assediado sexualmente a antiga funcionária do clube ao longo de mais de três anos.

"Tens de vir comigo treinar para o ginásio dos jogadores, mas só se tu ficares na bicicleta da frente", terá comentado Vítor Murta dirigindo-se à queixosa, comentário proferido na presença de outros colegas de trabalho. Por diversas vezes, prossegue o CD, Vítor Murta enviou mensagens por Whatsapp à ofendida dizendo: "Porque é que não vens cá em cima [escritório] dar-me um beijinho".

Depois de a queixosa ter recusado os avanços do dirigente, este terá confrontado a funcionária presencialmente, questionando: "Porque é que tu não me queres? É por eu ser o Presidente?..."

O PÚBLICO questionou a Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre uma eventual existência de um inquérito a este caso que envolve Vítor Murta, mas, até ao momento, não foi possível obter um esclarecimento.

O presidente do clube do Bessa adiantou em comunicado que vai recorrer da decisão, alegando que não foi condenado por assédio sexual e sim por um acto de discriminação. Vítor Murta diz ainda que a sentença foi escrita poucas horas após a inquirição de testemunhas, classificando o acórdão de "aberração jurídica".

Foto
SAD boavisteira diz que caso mancha a imagem do clube Paulo Ricca/Publico

Já a Boavista SAD condena os comportamentos em causa, também em comunicado publicado esta sexta-feira, considerando que a decisão é uma mancha na imagem do clube.

"Os acontecimentos em questão mancham gravemente a imagem do Boavista, uma instituição com uma longa trajectória de respeito, dedicação ao desporto e compromisso com a comunidade. As infracções relatadas revestem-se de uma gravidade extrema e que violam a dignidade humana, não podendo, sob qualquer circunstância, ser toleradas ou relativizadas", apontam os "axadrezados".

O acórdão diz que estes comportamentos impróprios aconteceram entre Setembro de 2019 e meados de Novembro de 2022, período em que a funcionária trabalhou no Boavista. Para o órgão da FPF, Murta "exerceu um papel de autoridade sobre a ofendida", escolhendo-a, enquanto mulher, "como destinatária das expressões e alusões grosseiras".

Sugerir correcção
Ler 1 comentários