Reitora da Universidade de Colúmbia demite-se na sequência de protestos pró-Palestina

A reitora fez o anúncio para que uma nova liderança possa ser estabelecida antes do início do próximo ano lectivo, altura em que os estudantes prometeram retomar os protestos.

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Minouche Shafik assumiu funções há pouco mais de um ano Ken Cedeno / REUTERS
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A reitora da Universidade de Colúmbia, Minouche Shafik, demitiu-se nesta quarta-feira, 14 de Agosto, quase quatro meses depois de a gestão que a universidade fez dos protestos no campus contra a ofensiva israelita em Gaza ter suscitado críticas, tanto por parte dos pró-israelitas como dos pró-palestinianos.

Shafik, que referiu o impacto que o tumulto no campus teve na sua família, torna-se a terceira reitora de uma universidade da Ivy League a abandonar o cargo na sequência dos protestos no campus sobre Gaza.

A reitora disse que fez o anúncio agora, para que uma nova liderança possa ser estabelecida antes do início do próximo ano lectivo, que começa a 3 de Setembro, altura em que os estudantes prometeram retomar os protestos.

“Foi um período de turbulência em que foi difícil ultrapassar opiniões divergentes na nossa comunidade. Este período teve um impacto considerável na minha família, tal como noutras pessoas da nossa comunidade”, afirmou Shafik num comunicado.

A universidade anunciou que Katrina Armstrong, reitora da Faculdade de Medicina de Colúmbia, assumiria o cargo de reitora interina. Em comunicado, Armstrong afirmou estar “perfeitamente consciente dos desafios que a universidade enfrentou no último ano”.

Em Abril e Maio, a Universidade de Colúmbia foi palco de protestos que ocuparam partes do campus da cidade de Nova Iorque em oposição às mortes de civis palestinianos em Gaza, resultando em centenas de detenções. Os manifestantes condenaram Shafik por ter chamado a polícia ao campus para impedir as manifestações, enquanto os apoiantes pró-Israel a criticaram por não ter reprimido as acções dos activistas.

Os estudantes que integram o Columbia University Apartheid Divest, um grupo que fez parte da organização dos protestos, congratularam-se com a demissão, mas afirmaram que esta não deve constituir uma distracção dos esforços para que a Universidade de Colúmbia se desligue das empresas que apoiam as forças armadas de Israel e a ocupação dos territórios palestinianos.

“Esperamos que [a Universidade de] Colúmbia nomeie finalmente um reitor que ouça os estudantes e os professores em vez de agradar ao Congresso e aos financiadores”, disse Mahmoud Khalil, um dos principais interlocutores do grupo com a administração da escola.

A deputada republicana Elise Stefanik, que criticou os dirigentes universitários nas audiências do Congresso sobre os protestos relacionados com a Faixa de Gaza em todo o país, considerou a demissão de Shafik “tardia” no X, devido ao que considerou ser a incapacidade de proteger os estudantes judeus.

A terceira reitora de Ivy League a demitir-se devido aos protestos

Duas outras reitoras da Ivy League demitiram-se depois de terem enfrentado críticas do Congresso. Liz Magill, da Universidade da Pensilvânia, abandonou o cargo em Dezembro de 2023, e Claudine Gay, de Harvard, demitiu-se um mês depois.

Shafik, uma economista nascida no Egipto que tem nacionalidade britânica e americana, foi anteriormente vice-governadora do Banco de Inglaterra, presidente da London School of Economics e vice-directora administrativa do Fundo Monetário Internacional.

Depois de ter dirigido a Universidade de Colúmbia durante pouco mais de um ano, Shafik disse que iria regressar à Câmara dos Lordes britânica e presidir a uma revisão da abordagem governamental ao desenvolvimento internacional. A sua posição na universidade foi posta em causa quando manifestantes pró-palestinianos montaram dezenas de tendas no relvado principal.

No dia 18 de Abril, tomou a medida pouco habitual de pedir à polícia de Nova Iorque que entrasse no campus, indignando grupos de defesa dos direitos humanos, estudantes e professores, depois de os acampamentos não terem sido evacuados voluntariamente.

Mais de 100 pessoas foram presas e as tendas retiradas, mas em poucos dias o acampamento estava de novo no mesmo sítio. A universidade voltou a chamar a polícia a 30 de Abril e as autoridades prenderam 300 pessoas na Universidade de Colúmbia e nas proximidades do City College of New York. Alguns manifestantes ficaram feridos durante as detenções.

O mais recente rastilho do conflito israelo-palestiniano, que dura há décadas, foi desencadeado a 7 de Outubro de 2023, quando combatentes palestinianos do Hamas atacaram Israel, matando 1200 pessoas e fazendo cerca de 250 reféns, de acordo com os dados israelitas.

O subsequente ataque de Israel ao enclave governado pelo Hamas matou desde então cerca de 40.000 palestinianos, de acordo com o Ministério da Saúde local, ao mesmo tempo que deslocou quase toda a população de 2,3 milhões de habitantes, provocando uma crise de fome e levando a alegações de genocídio no Tribunal Internacional de Justiça que Israel nega.