Mais de mil quilómetros quadrados da Rússia estão nas mãos da Ucrânia, diz Kiev

Um comando militar ucraniano foi criado na região russa de Kursk e as forças de Kiev continuam a avançar no terreno. Moscovo envia reforços para a fronteira e afirma ter recuperado duas localidades.

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O governador da região russa de Belgorod, Viacheslav Gladkov Stringer / REUTERS
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Perante a maior ocupação do seu território desde a II Guerra Mundial, que parece ter apanhado as autoridades russas de surpresa, e face ao avanço das forças ucranianas na região de Kursk, Moscovo anunciou esta quinta-feira que vai reforçar a defesa da sua fronteira com o envio de um contingente militar para travar os soldados de Kiev.

O mais alto comandante das forças ucranianas, o coronel-general Oleksandr Syrskyi, disse ao Presidente ucraniano, Voldoymyr Zelensky, num vídeo divulgado pelo próprio chefe de Estado, que os seus homens haviam instalado um comando militar na região russa de Kursk e que continuam a avançar, embora agora mais lentamente (cerca de 500 metros a 1,5 km nas 24 horas anteriores).

Ao todo avançaram 35 quilómetros desde a sua entrada na Rússia na semana passada, ocupando, de acordo com o coronel-general, uma área de 1150 quilómetros quadrados, controlando 82 localidades na parte ocidental do território russo.

“Estamos a avançar na região de Kursk. Foi criado um gabinete do comando militar Para assegurar a ordem e também todas as necessidades da população local”, disse o coronel-general numa mensagem transmitida pelo Telegram e citada pela Reuters.

Por seu lado, o Ministério da Defesa russo informou esta quinta-feira que as suas forças militares recuperaram o controlo das localidades de Martinovka e Krupets, contrariando a ideia de que as forças ucranianas continuem a avançar, desfeita a surpresa. Moscovo enviou um reforço de soldados para a sua fronteira ocidental, com vista a recuperar o território perdido e garantir que o mesmo não volta a acontecer.

Kiev voltou a salientar, esta quinta-feira, que o objectivo da sua ofensiva não é ocupar a região de Kursk: “A Ucrânia não está interessada na ocupação destes territórios, mas sim na destruição de muitas instalações militares russas, empurrando o restante da tropa russa mais para lá das linhas que permitem os ataques contra território ucraniano”, afirmou o principal porta-voz da presidência da Ucrânia, Mikhailo Podoliak.

Segundo Podoliak, ao contrário da Rússia, as forças ucranianas “travam uma guerra exclusivamente defensiva” e a incursão em território russo visa apenas criar uma zona-tampão que permita proteger a sua fronteira.

“A Ucrânia e a Rússia travam guerras diferentes”, explicou o porta-voz citado pela Europa Press, sublinhando que “a Rússia atacou deliberadamente a Ucrânia com o objectivo de matar civis e ocupar o seu território, o que é, sem qualquer dúvida, um crime de guerra”.

Serhiy Zgurets, um analista militar ucraniano, disse à Reuters que a Ucrânia irá tentar manter o controlo de uma zona entre as cidades de Rylsk, Korenevoye e Sudzha e a fronteira, uma faixa de cerca de 20 quilómetros de território russo como zona-tampão.

“Esta linha não é difícil de defender, dado que existem poucas estradas e um grande número de rios”, disse Zgurets, explicando que bastaria uma pequena força com sistemas de artilharia de longo alcance e defesas anti-aéreas, abastecida a partir da região ucraniana de Sumi, do outro lado da fronteira.

Na quarta-feira, informou a agência russa Interfax, e numa altura em que 200 mil russos foram retirados das zonas ocupadas ou ameaçadas pelas forças ucranianas, o Governo russo declarou o estado de emergência federal para a região de Belgorod (o mesmo já tinha decretado no sábado para Kursk), dando poderes reforçados ao seu governador, Viacheslav Gladkov, e permitindo-lhe ter acesso a meios financeiros do Governo central para ajudar as pessoas afectadas.

Gladkov recorreu à sua conta na rede social Telegram para dar conta de vários ataques com drones que tinham provocado danos em quatro casas e a interrupção parcial do fornecimento de energia eléctrica.

Zelensky deu a entender, nas suas declarações públicas de quarta-feira, que outras operações militares em território russo não estão excluídas. “Temos de garantir ao nível legislativo que os nossos guerreiros, que participam, por exemplo, na operação de Kursk e participarão em outras acções no território do Estado agressor, receberão na totalidade os pagamentos e benefícios definidos para a linha da frente.”

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