Birmânia: falha segundo leilão para vender casa da Nobel da Paz

Mansão de família onde Aung San Suu Kyi passou 15 anos em prisão domiciliária voltou a não ter licitadores, mesmo depois de o regime ter baixado o preço para 130 milhões de euros.

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Irmão da Nobel da Paz, que reside nos Estados Unidos, anda a tentar judicialmente desde 200 que a casa seja vendida para ele receber a sua parte REUTERS/Aung Hla Tun
Portão da propriedade que tem um terreno de 7700 metros quadrados
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Portão da propriedade que tem um terreno de 7700 metros quadrados NYEIN CHAN NAING / EPA
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A funcionária do tribunal rodeada de jornalistas, mas sem interessados na compra NYEIN CHAN NAING / EPA
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Aung San Suu Kyi dando uma conferência de imprensa em 1995 na casa que foi a sua prisão durante 15 anos,Aung San Suu Kyi dando uma conferência de imprensa em 1995 na casa que foi a sua prisão durante 15 anos Reuters,Reuters
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A junta militar da Birmânia pôs fim à segunda tentativa de venda da emblemática casa de Rangum onde a Prémio Nobel da Paz Aung San Suu Kyi passou 15 anos em prisão domiciliária, depois de ninguém ter participado no leilão.

Um porta-voz da junta confirmou o fracasso do processo, que tem origem num litígio judicial entre Suu Kyi e o seu irmão mais velho, Aung San Oo, residente nos Estados Unidos, que desde 2000 trava nos tribunais uma batalha para vender a casa e ficar com uma parte do dinheiro.

Após o fracasso de um primeiro leilão, em Março, o tribunal reduziu o montante inicial de licitação da casa, à beira de um lago, para 300 mil milhões de kiats (cerca de 130 milhões de euros), o que é superior ao preço de mercado, informa o site Eleven Myanmar.

A mansão é um símbolo político na Birmânia e muitos líderes internacionais, incluindo o antigo Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, visitaram-na para apoiar Suu Kyi face às perseguições do regime militar.

Suu Kyi recuperou a liberdade e conquistou o poder em eleições, mas está presa desde o golpe de Estado levado a cabo pelos militares em Fevereiro de 2021.

“Alguém quer licitar?”, perguntou três vezes a funcionária do tribunal junto ao portão da casa, antes de dar por concluído o leilão sem que surgisse um comprador disposto a comprar a propriedade de três andares.

A pedido do irmão de Suu Kyi, em Janeiro, a junta militar autorizou que fosse posta à venda a mansão que um dia pertenceu a Aung San, pai da Birmânia moderna, assassinado em 1947, seis meses antes de o objectivo da sua vida ter sido conseguido — a independência da Birmânia do Império Britânico.

Em Junho, o tribunal autorizou a abertura de um segundo leilão para tentar vender a casa com uma redução de 15 milhões de kiats no valor base de licitação (6430 euros), muito pouco em relação ao preço altíssimo em que a propriedade, com um terreno de 7700 metros quadrados, foi posta à venda.

Suu Kyi viveu na casa desde que, em 1988, voltou à Birmânia e deixou o marido e dois filhos no Reino Unido para cuidar da sua mãe doente. A sua adesão ao movimento que lutava pelo regresso da democracia a um país dominado pelos militares valeu-lhe 15 anos de reclusão domiciliária na casa.

A junta militar chegou a anunciar um indulto em Agosto do ano passado para a Nobel da Paz, que levaria à libertação da política e de mais sete mil presos políticos, mas o mesmo não se concretizou.

Em Abril, os militares anunciaram que a Nobel da Paz e o ex-Presidente da Birmânia, Win Myint (no acordo para o regresso da democracia, a ditadura militar sempre impôs que Suu Kyi não pudesse ser chefe de governo), fossem transferidos da prisão onde cumpriam pena para uma outra por causa de uma onda de calor. Segundo o porta-voz da junta, major-general Zaw Min Tun, os dois estariam entre alguns presos transferidos por causa da idade: Suu Kyi tem 78 anos, Win Myint, 72.

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