Sempre
O Presidente da República fez o seu melhor discurso de sempre. Encontrou as palavras exactas para dizer porque estava ali, porque tinha de estar, porque era indispensável que estivesse ali
1. Por vezes, raras, as emoções afectam o distanciamento e a racionalidade indispensáveis a quem exerce a minha profissão. Hoje, enquanto escrevia esta crónica, ainda era esse o meu estado de espírito. Acabara de assistir pela televisão à celebração do 46.º aniversário do 25 de Abril na Assembleia da República. Uma vida. Já não me lembro de ter sentido tanta felicidade perante uma cerimónia a que assistimos todos os anos. Talvez a tivesse sentido nos primeiros anos ainda mais do que hoje. Mas hoje senti-a com orgulho e com um enorme sentimento de alívio. O que teria sido se tivesse de passar este dia sem poder celebrar a data que nos restituiu a todos a liberdade — os que a viveram, como eu, e os que apenas a conhecem nas imagens, nos relatos e na experiência transmitida —, sem a possibilidade de assistir a uma cerimónia que não perdeu um milímetro da sua dignidade e da sua beleza essencial e que nos encheu o coração?
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