As auroras boreais voltaram a dar o ar da sua graça em Portugal

O fenómeno das auroras boreais já tinha tido uma rara, mas intensa, aparição em Maio deste ano. Voltou agora em Agosto. Tudo porque o Sol está a passar por um período muito activo.

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A aurora boreal fotografada por Miguel Marques na Pampilhosa da Serra na madrugada de 12 de Agosto Marques Photography
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As auroras boreais voltaram a aparecer no céu de Portugal, primeiro durante a madrugada de 12 de Agosto e, horas mais tarde, regressaram nesse mesmo dia à noite. Mais discretas do que as auroras boreais visíveis em Portugal na noite de 10 para 11 de Maio deste ano, que levaram à partilha de inúmeros relatos e fotografias nas redes sociais, o fenómeno foi novamente registado no país. O astrofotógrafo Miguel Marques estava no local certo à hora certa para eternizar o momento: primeiro na Pampilhosa da Serra, depois na serra da Estrela.

Miguel Marques tinha ido fotografar a chuva de estrelas que todos os anos nos presenteia por esta altura do ano, as Perseidas, numa iniciativa do Geoscope – Observatório Astronómico de Fajão, aldeia do concelho da Pampilhosa da Serra. Na noite de 11 para 12 de Agosto (de domingo para segunda-feira), o divulgador de astronomia José Augusto Matos conduziu um passeio pelo céu a pretexto das Perseidas. Miguel Marques, que tem feito trabalhos de astrofotografia para a rede das Aldeias de Xisto, projecto onde se insere o Geoscope, deixou-se ficar com a namorada pela noite adentro quando o passeio pelo céu terminou.

“Estava a fotografar durante a noite toda, quando, pelas 4h20, nos apercebemos de que estava um clarão diferente no céu. Quando apontámos a câmara para esse clarão, vimos logo que era uma aurora boreal”, conta ao PÚBLICO Miguel Marques – o astrofotógrafo e a namorada fazem o site Marques Photography, a montra dos seus trabalhos de fotografia do céu. “Havia previsões de que as auroras podiam ser visíveis a baixas latitudes. Já estávamos despertos para isso.”

Até ficar de manhã, Miguel Marques continuou a fotografar as auroras no monte perto de Pampilhosa da Serra, região de céu escuro, sem poluição luminosa. À noite, agora de 12 para 13 de Agosto, as previsões continuavam a indicar que as auroras boreais podiam ser visíveis a latitudes baixas, como aquelas em que se situa Portugal. “Fomos para a serra da Estrela, porque a zona litoral estava toda nublada. Quisemos ir para o ponto mais alto do país, para fugir às nuvens”, conta Miguel Marques.

Nessa segunda noite de auroras boreais em Portugal – fenómeno que é muito raro nas latitudes de Portugal, uma vez que o país se encontra bastante longe das regiões do pólo Norte, onde as auroras atingem o esplendor máximo –, Maria e Miguel Marques ainda conseguiram registá-las. “Comecei a fotografá-las eram cerca das 22h20. Estavam com menos intensidade [do que na madrugada anterior], mas ainda foi possível fotografá-las”, conta o astrofotógrafo. “Na serra da Estrela, a aurora boreal não era visível a olho nu – só era visível na câmara. A câmara capta mais luz do que aquela que conseguimos ver.”

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A aurora boreal captada pela máquina fotográfica de Miguel Marques na noite de 12 para 13 de Agosto Marques Photography

Tanto quanto Miguel Marques sabe, noutros sítios do país apenas tem a informação de que, no Alentejo, o astrofotógrafo Miguel Claro também conseguiu registar as auroras boreais de Agosto. “Não tenho conhecimento de mais ninguém que tenha fotografado”, refere Miguel Marques, que começou a fazer da fotografia de astronomia a sua profissão a partir de 2019. “Sempre tive o gosto pela fotografia e pelas estrelas. Comecei, como um hobby, a fazer fotografia à noite.”

Com a criação da Reserva Dark Sky Aldeias do Xisto, Miguel Marques foi contratado para fazer um catálogo e surgiram mais trabalhos, em particular no município de Pampilhosa da Serra. “E o hobby passou a profissão a 100%.” A sua máquina fotográfica já tinha registado as auroras de Maio – “foi mais intenso”.

As auroras intensas de Maio

Em Maio, o céu encheu-se de tons cor-de-rosa. Há muitas décadas que as auroras boreais não eram avistadas em Portugal: há registos em Fevereiro de 1872, Janeiro de 1938 e Janeiro de 1957, por exemplo. O fenómeno de Maio brindou então vários outros países.

“A atmosfera tem andado carregada de partículas solares, com o Sol muito activo neste ciclo solar – pode ser que ainda este ano, ou em 2025, se possam ver a olho nu de forma mais nítida”, escreveu Miguel Marques na sua página no Facebook, enquanto partilhava as fotografias que aqui também publicamos das auroras na Pampilhosa da Serra e na serra da Estrela.

O Sol atinge este ano o máximo de actividade no ciclo solar de 22 anos, o que significa a ocorrência de erupções solares mais energéticas, com a ejecção de gases ionizados a altas temperaturas provenientes da coroa solar, a camada mais externa da atmosfera do Sol. Quando esses gases, que fazem parte dos ventos solares, atingem o campo magnético terrestre, podem perturbá-lo. Portanto, podem provocar tempestades geomagnéticas, originando auroras boreais mais intensas e em locais de baixa latitude à volta do planeta. Quem sabe se, nos próximos tempos, as auroras regressam a Portugal.

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