Seca severa já chegou a algumas regiões do Sul do país, mas no mesmo período de 2023 a situação foi bem pior

As consequências da abundante chuva nos meses de Abril, Maio e Junho afastaram os cenários de seca extrema, apesar das tempretauras elevadas que já se prolongam há várias semanas.

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A 15 Julho de 2023 a Barragem do Monte da Rocha, no Alentejo, estava praticamente vazia Rui Gaudêncio
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Ao contrário do cenário registado em igual período de 2023, quando 48% do território nacional se encontrava em situação de seca severa a extrema, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) refere que durante o passado mês de Julho 9,2% do país sofreu as consequências resultantes da seca severa, com maior incidência nos distritos de Beja e Faro. Porém, daqui para a frente, as próximas semanas de calor sem sinais de chuva devem agravar a situação.

Os meses de Abril, Maio e Junho com forte precipitação atmosférica, fenómeno que deu sequência a sucessivos períodos de chuva trazida nos vários temporais que percorreram a Península Ibérica, dotaram as albufeiras nacionais e os aquíferos subterrâneos de reservas de água que garantem as necessidades agrícolas, industriais, turísticas e, sobretudo, o consumo humano em todo o território nacional.

Fazendo uma resenha no quadro climatológico nacional baseado na informação do IPMA, em Maio não havia qualquer área em seca severa e 48,2% do território estava em seca fraca ou moderada.

O boletim do IPMA publicado a 30 de Junho salientava que 42,5% do território estava em seca meteorológica fraca (22%), moderada (22,3%) e severa (0,2%). O calor de Julho e a fraca precipitação atmosférica contribuíram agora para alargar as áreas em seca severa aos 9,2%.

Não há lugar para folgas

É óbvio, até pelo que ocorreu em anos anteriores, que não haverá lugar para folgas, nem reservas de água suplementares que garantam os diversos consumos para além de um ano, com excepção da água retida em Alqueva. As ondas de calor vieram para ficar até ao final de Agosto. Com data de referência a 7 de Agosto de 2024, o IPMA prevê que na precipitação total semanal os valores fiquem abaixo do normal (-10 a -1 mm) para a região norte e centro entre 12 e 18 de Agosto e na semana de 2 a 15 de Setembro. Nas semanas de 19 a 25 de Agosto e de 26 de Agosto a 1 de Setembro não é possível identificar a existência de sinal estatisticamente significativo.

Na temperatura média semanal, prevêem-se valores acima do normal para praticamente todo o território na semana entre 12 e 18 de Agosto, com valores entre 0,25° e 6 graus Celsius acima da média e, já na primeira semana de Setembro, entre os dias 2 e 15, com valores entre 0,25° e 3 graus Celsius acima da média. Ainda se prevêem valores acima do normal, entre 0,25° e 3 graus Celsius acima da média, para as regiões norte e sul e para o interior centro, nas semanas entre 19 de Agosto e 1 de Setembro.

Sinais de seca extrema

Sinais de seca extrema podem vir a ser o resultado até meados de Setembro das sucessivas ondas de calor que, inevitavelmente, se irão repercutir numa redução das reservas hídricas nacionais.

A 12 de Agosto de 2024 das 76 albufeiras públicas monitorizadas, 37% apresentam disponibilidades hídricas superiores a 80% do volume total e 17% têm disponibilidades inferiores a 40% do volume total. O armazenamento global atingia os 9961hm³ que equivale a 76% da sua capacidade máxima de enchimento.

Em igual período de 2023, o quadro registou valores inferiores: das 76 albufeiras monitorizadas, 36% apresentaram disponibilidades hídricas superiores a 80% do volume total e 20% tinham disponibilidades inferiores a 40% do volume total. A água retida nas albufeiras públicas foi de 9533hm³, cerca de 72% da sua capacidade total, ou seja, menos 428hm3 do que o volume de água registado no final de Julho.

Mas também as albufeiras que há vários anos apresentam níveis preocupantes de armazenamento registam agora valores superiores aos observados em 2023: a albufeira de Campilhas aumentou a sua reserva dos 2001m3 para 7622m3; Monte da Rocha de 9016m3 para 17.400m3 e Bravura de 3826m3 para os 6312m3.

Também a albufeira de Alqueva registou um aumento substancial no seu volume de armazenamento: dos 2939hm3 em 2023, apresenta no final de Julho 3501hm3, um acréscimo de 562hm3.

Até os reservatórios da região espanhola de Andaluzia registam um acréscimo de 12% em relação ao volume de água armazenado nas suas albufeiras.

Os dados do Ministério da Transição Ecológica e do Desafio Demográfico (Miteco) a que o PÚBLICO teve acesso referem que, em Espanha, do volume de 11.082hm3 que são capazes de conter, a reserva de água é actualmente de 3758hm3.

Mesmo assim, a reserva de água na Andaluzia permanece superior à do ano passado nesta mesma altura, quando continha 2409hm3, ou seja, 21,7% da sua capacidade global. Esses números significam que os reservatórios contam actualmente com 1615hm3 a mais do que os 2143hm3 verificados no final de 2023.

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