O maior icebergue da Terra está preso numa dança em rotação contínua

A cerca de 400 milhas [650 quilómetros] ao largo da costa da Antárctida, o maior icebergue da Terra - cuja superfície cobre mais de 4100 quilómetros quadrados - está a girar como um pião.

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O icebergue A23a parou para dançar numa rotação contínua. Ficou preso num fenómeno oceânico conhecido como coluna de Taylor Juergen Brand/GettyImages
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O icebergue, apelidado de A23a, está preso na agitação de uma poderosa corrente oceânica e gira lentamente, a uma taxa de cerca de 15 graus por dia, de acordo com o British Antarctic Survey, que partilhou imagens do icebergue a girar nas redes sociais ao som da canção de Kylie Minogue “Spinning Around”.

A dança em câmara lenta é o último acto de uma viagem de décadas em que o A23a embarcou depois de se separar da Antárctida em 1986. Está também a evitar a morte do icebergue. O vórtice gelado do Oceano Antárctico em que o A23a foi apanhado está a atrasar a viagem do icebergue para Norte, para águas mais quentes, onde a maioria dos icebergues da região acaba por derivar antes de se desintegrar, disseram os cientistas ao The Washington Post.

“O icebergue e o oceano estão a fazer uma dança cooperativa”, resume Douglas MacAyeal, um glaciologista da Universidade de Chicago.

O A23a tem tido uma vida atribulada. A sua separação da Antárctida deixou para trás uma estação de investigação soviética que estava instalada no icebergue. Pouco depois, o colossal icebergue alojou-se no fundo do mar e permaneceu ancorado durante cerca de 30 anos. Esta longa estadia nas águas frias perto da Antárctida pode ter contribuído para a longevidade do A23a.

“Mais do que uma vez teve sorte na sua jornada de vida”, disse Christopher Shuman, que estuda o gelo do planeta na Universidade de Maryland, no Condado de Baltimore, sobre o icebergue.

Parou para dançar

O icebergue libertou-se do fundo do mar por volta de 2020 e estava a flutuar livremente em Março de 2023, de acordo com o Observatório da Terra da NASA. Em Novembro, o icebergue já tinha passado a ponta mais a norte da Península Antárctica, informou a BBC. Isso deveria ter colocado o A23a no caminho da destruição nas águas mais quentes do Atlântico Sul.

Em vez disso, o A23a parou para dançar. Ficou preso num fenómeno oceânico conhecido como coluna de Taylor, em que os contornos do fundo do oceano criaram uma coluna de água em rotação suficientemente poderosa para abrandar a deriva do icebergue para Norte e prendê-lo numa rotação contínua.

E assim, a massa de gelo do tamanho de Rhode Island girou durante meses na Antárctida, atrasando em beleza a conclusão da sua viagem. A viagem do A23a pode acabar à medida que o icebergue derrete lentamente, ou mais rapidamente se uma poderosa tempestade o empurrar para fora do vórtice e lhe permitir retomar o seu caminho para Norte.

“Pode demorar um ano”, disse Ted Scambos, um glaciologista da Universidade do Colorado em Boulder. “Pode ser um par de anos. Pode ficar lá durante muito tempo.”

Embora os especialistas estejam a observar atentamente o A23a, Scambos disse que é improvável que o icebergue represente qualquer risco enquanto gira ou quando eventualmente se deslocar e continuar a sua viagem. Não vai aumentar o nível do mar quando derreter, porque já está a flutuar no oceano e a deslocar a quantidade de água com que contribuiria quando descongelasse. É provável que o A23a se desintegre em milhares de pedaços de gelo mais pequenos quando chegar ao fim, mas Scambos diz que será fácil para os navios da região evitá-los.

Até lá, os glaciologistas podem apreciar o espectáculo do maior icebergue do mundo a girar até ao fim. “Tenho acompanhado os icebergues desde o ano 2000”, disse Scambos. “Nunca vi um fazer algo assim.”