Marte poderá ter água líquida nas suas rochas — a 20 quilómetros da superfície
Investigação com dados sísmicos da sonda Insight prevê a existência de água líquida no subsolo de Marte. Novos resultados colocam foco da procura de vida em Marte debaixo da crosta do planeta.
Dados sísmicos recolhidos pela sonda espacial norte-americana InSight, desactivada no final de 2022, indicam que Marte tem rochas profundas e porosas debaixo da sua crosta que poderão estar cheias de água líquida, um dos elementos essenciais para a vida tal como se conhece.
Os dados sísmicos permitiram aos cientistas estimar que a quantidade de água subterrânea poderia cobrir todo o planeta vermelho, refere em comunicado a Universidade da Califórnia (Estados Unidos), que participou na análise dos dados publicada na última edição da revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences.
Segundo os investigadores, a quantidade de água líquida existente no interior seria suficiente para encher os oceanos da superfície marciana, que desapareceram há mais de três mil milhões de anos. Esta previsão de que existirá água líquida debaixo da crosta de Marte é um resultado da análise dos terramotos marcianos. Ao analisar a velocidade das ondas sísmicas, os cientistas conseguem simular em que material estas ondas se movem. E, neste caso, a melhor explicação será mesmo água líquida.
Este potencial reservatório de água está localizado em pequenas fissuras e poros nas rochas no meio da crosta (camada mais externa do interior marciano), entre 11,5 e 20 quilómetros abaixo da superfície marciana, pelo que será pouco útil para uma colónia humana que se queira fixar em Marte, como o desejam empresas aeroespaciais norte-americanas como a SpaceX, do magnata Elon Musk. Seja como for, até ser possível fixar humanos em Marte, há muitos outros problemas a resolver: a viagem, a atmosfera irrespirável ou as temperaturas abaixo de zero graus Celsius.
Mesmo na Terra fazer uma perfuração com um quilómetro de profundidade é um desafio, assinalam os cientistas. Não obstante, os autores da investigação relevam que foi identificado pelo menos um local em Marte que, em teoria, será capaz de sustentar vida (microbiana). A presença de gelo nos pólos do planeta já é amplamente conhecida, mas a busca de espaços fora da Terra que permitam o desenvolvimento de vida, como por exemplo bactérias, é uma ambição antiga de muitos cientistas.
A sonda InSight, cuja missão em Marte terminou em Dezembro 2022, foi enviado pela agência espacial norte-americana NASA quatro anos antes para estudar o interior do planeta e a sua atmosfera. Durante a missão, a sonda detectou sismos em Marte com uma magnitude de cinco na escala de Richter, impactos de meteoritos e possíveis explosões de áreas vulcânicas. Estes eventos produziram ondas sísmicas que permitiram aos geofísicos da Universidade da Califórnia estudar o interior do planeta.
A compreensão do ciclo da água de Marte é fundamental para desvendar a evolução do clima, da superfície e do interior do planeta, adiantam os investigadores no estudo agora publicado. Embora o planeta permaneça inóspito, esta previsão dos cientistas mostra que, se houver vida em Marte, ela estará muito provavelmente no subsolo.