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Raízes em Lisboa
Não sabemos o dia de amanhã, mas, muito provavelmente, Lisboa estará sempre no meu caminho.
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Lisboa cheira os cafés do Rossio, e o fado cheira sempre a solidão… Lisboa também cheira a boemia, mesas intermináveis, de bom vinho, boa comida e conversas, grandes conversas.
Minha segunda casa, no meu país do coração, lugar que sempre está em meus pensamentos e onde tenho um bar chamado Jobim em homenagem ao grande maestro brasileiro Antônio Carlos Jobim.
Mas, sempre que estou no Brasil, me perguntam se sou dono do Jobi em Lisboa! A resposta é sempre a mesma: Eu adoraria, meu sonho!!!
Bom, o Jobi é um bar clássico do Rio de Janeiro, coração da boemia carioca, onde tudo acontece. O dono é o seu Manel, um senhor português radicado no Rio de Janeiro há décadas!
A correção a essa dúvida que as pessoas têm chega com um imenso orgulho de dizer que sou um dos donos do Jobim (dito bem claramente) em Lisboa! Jobi, Jobim, fácil compreender a razão dessa questão. E digo mais, quem sabe um dia, nos tornamos um clássico, assim como o bom e velho Jobi!
Quando vim para Lisboa trabalhar como ator em 2018, não tinha planos de abrir um bar ou nenhum outro tipo de negócio. Nessa altura o que mais pensava era me adaptar rápido à cidade, aproveitar todas as deliciosas descobertas, as novas amizades e, obviamente, me estabelecer, aproveitar essa oportunidade de abrir um novo mercado para minha carreira de ator.
Um grande amigo português, que havia morado no Rio por alguns anos, onde eu o conheci, havia retornado para Portugal e tinha um bar chamado El Gordo. O Salvador me apresentou muitas pessoas e, rapidamente entre brasileiros e portugueses, estava formada uma turma que sempre se juntava em torno do vinho e da boa conversa.
Uma turma que reunia pessoas de áreas e idades completamente diferentes, o que sempre foi maravilhoso pela diversidade de opiniões, pelas risadas e brincadeiras que surgiam por isso. E, claro, as conexões desinteressadas que eram feitas naturalmente. Além disso, muitos de nós, longe do Brasil, da família e dos amigos. Sem dúvida nenhuma, a mesa e o vinho nos uniram.
Conheci meu sócio Pedro nesse período, na boêmia Lisboeta do Príncipe Real. Nessa altura, o Toni, um grande amigo de infância, estava vivendo em minha casa em Lisboa. Tinha acabado de chegar do Rio.
Um belo dia, o Pedro chega para mim e para o Toni e pergunta se a gente tinha interesse em abrir um bar. Um bar? Como assim?
Pedro, que é português, tinha uma loja que estava vazia no badalado bairro do Príncipe Real, e nos ofereceu essa oportunidade. Fomos ver a loja, e eu disse, sem titubear, que ali não era um bom ponto para abrir um bar. Afinal, eu morava na rua de trás, via mais ou menos o tipo de movimento que havia por ali. Mas, de bar, eu tinha apenas experiência de bom bebedor de chopp gelado em esquinas cariocas.
Ele sorriu, mas discordou. Disse que seria um sucesso, que nós três reuníamos características e qualidades que agregariam muito ao negócio, que tinha certeza que aquilo correria bem. Eu, ator conhecido no Brasil e em Portugal, o Toni, sommelier com experiência em gerenciar lojas, e ele, um comerciante nato português! O time estava formado.
Pronto, a loja não precisava de grandes ajustes para virar um bar, estava reformada para ser um restaurante japonês. Compramos aquilo que faltava e que era realmente essencial, e abrimos. Dezembro de 2018, mais precisamente, dia 5. Abrimos meio de brincadeira, convidamos os amigos, conhecidos. Agora, eu tinha um bar em uma esquina de Lisboa.
No dia da abertura, foi um sucesso. O bar ficou lotado. Mesmo com problemas diversos, como uma queda de energia, a desorganização óbvia que havia entre nós e os primeiros funcionários, correu tudo bem. Ficamos muito empolgados. Me lembro de sair da TVI, onde estava gravando uma novela, e ir direto para lá ver se havia clientes, ver como aquela maluquice que surgia do nada em minha vida estava indo. Todos os dias, saía do trabalho e ia correndo pro Jobim.
Na primeira semana o movimento foi fraquinho, bem diferente do dia da inauguração. Mas, tudo bem, final de ano, estávamos no inverno, vai melhorar…
Nas semanas subsequentes, depois de postar sobre o Jobim, muitos meios de comunicação me procuraram para saber mais sobre essa história. Dei entrevistas para alguns jornais, revistas, colunas, e isso reverberou bastante no Brasil. Sem dúvida, isso foi um impulso inicial vital. Hoje, graças a muito trabalho, o Jobim entrou na rota dos brasileiros que visitam Lisboa. Fora, que é praticamente a segunda casa de dezenas e dezenas de clientes fiéis. Brasileiros, portugueses, franceses, italianos e por aí vai.
Depois de quase seis anos, nosso Jobim, agora, almeja ir para o Norte de Portugal, mais precisamente para o Porto. Mas isso fica pra depois…
Essa história do bar me fez criar raízes em Lisboa. Ficava um ou dois anos em Portugal, depois, voltava para trabalhar no Brasil. Passava mais um ano, e retornava para trabalhar em Lisboa novamente. E assim tem sido desde 2018. Nessa brincadeira, foram três novelas pela TVI em Portugal e um bar que entrou com os pés na porta da cena da boemia local.
Criei uma sensação de pertencer a esse lugar. Quando estou longe, sinto saudade da cidade, dos amigos, do Jobim. Adoro viver em Lisboa, estar em Lisboa, andar pelas ruas, resolver tudo a pé, pensar em novos projetos. Eu que sou carioca, apegado ao Rio, da gema, da praia, logo eu…?
Estar na Europa me faz bem por vários motivos, uns mais óbvios que outros. Minha paixão por vinhos, que, no Brasil, é complicado de se ter por questões tributárias. Fazer o quê? Em Portugal, o mundo dos vinhos é acessível, aliás, em toda a Europa, sem os absurdos impostos brasileiros.
Não sabemos o dia de amanhã, mas, muito provavelmente, Lisboa estará sempre no meu caminho. E quem sabe eu convenço o seu Manel a abrir um Jobi em Lisboa. Quem sabe?