Cada vez mais portugueses acham que a corrupção aumentou e é prática “comum”

O nível de percepção de corrupção continua a piorar, com cada vez mais portugueses a acreditarem que é uma prática comum entre as instituições públicas.

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Percepção de corrupção tem aumentado DR
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Para 78% dos portugueses, os últimos três anos foram sinónimos de aumento do nível de corrupção em Portugal. Os números são dos mais recente Eurobarómetro sobre as “Atitudes dos cidadãos face à corrupção na UE em 2024” e colocam os portugueses inquiridos com uma percepção em relação à existência de corrupção muito acima da média dos inquiridos entre a União Europeia (41%). No geral, os portugueses inquiridos estão mais pessimistas quanto aos níveis de corrupção comparativamente com os números do ano passado.

Há outro dado curioso: embora poucos inquiridos portugueses tenham testemunhado ou se afirmem vítimas de casos de corrupção, a convicção de que a corrupção está embrenhada nas empresas e na política é mais elevada em Portugal do que a média da União Europeia (em que mais pessoas admitem terem testemunhado ou serem vítimas de corrupção).

Enquanto 27% dos europeus, em média, consideram que a corrupção é um problema “raro”, apenas 2% dos portugueses partilham essa opinião. A esmagadora maioria dos portugueses inquiridos, 96%, considera que a corrupção é “comum” em Portugal. Este número já era elevado em 2023, quando 93% dos inquiridos em Portugal dizia que a corrupção era comum. Mas de lá para cá, enquanto a percepção generalizada da média europeia melhorou, a percepção dos portugueses percorreu o sentido inverso.

O combate à corrupção tem estado na agenda nos últimos anos, mas apesar de se multiplicarem os grupos de trabalho e os planos dos executivos, dividem-se as opiniões quanto à sua eficácia. A anterior tutelar da pasta da Justiça, Catarina Sarmento e Castro, criou um grupo de trabalho que desenhou a Estratégia Nacional de Combate à Corrupção (ENCC).

Em Junho, a ministra da Justiça, Rita Júdice, apresentou um pacote anticorrupção, negociado com os partidos com assento parlamentar. Com vários detalhes em aberto, que poderão (ou não) depender da luz verde do Parlamento, a ministra avisou que a estratégia do Governo "não foi mudar tudo", mas "eliminar areias na engrenagem".

Se o Governo lhes chama “areias”, a maioria dos inquiridos tem dificuldades em identificar os resultados práticos dos anunciados esforços dos vários executivos. O mesmo estudo do Eurobarómetro revela que 65% dos portugueses inquiridos consideram que a corrupção de alto nível não é suficientemente combatida e 57% acham que os esforços realizados pelos governos não são efectivos.

Os números recolhidos entre Fevereiro e Março surgem depois de dois governos – o da República Portuguesa e o governo regional da Madeira – terem caído como consequências de investigações judiciais ligadas a suspeitas de corrupção. A Operação Influencer que levou à demissão de António Costa e à queda do Governo poderá ser uma das razões para a percepção dos 1032 portugueses inquiridos ter piorado.

Os mesmos dados recolhidos mostram que 91% destes portugueses acreditam que existe corrupção nas instituições públicas – a média europeia fica-se pelos 71%. Além disto, 92% afirmam que “existe corrupção nas instituições locais ou regionais em Portugal” (os dados parecem suportar essa interpretação, uma vez que é na administração local que estão mais de metade das suspeitas de corrupção). Também a avaliação sobre as consequências na Justiça é mais pessimista: 79% dos portugueses inquiridos acham que é baixo, contra 65% na média geral da UE.

Com a promessa de reforma na Justiça na agenda, o Governo ganha razões para o "combate sem tréguas" ao crime que, nas palavras do primeiro-ministro na apresentação do pacote anticorrupção, "mina, e muito, a confiança dos cidadãos nas instituições democráticas" e "prejudica, e muito, a actividade económica do país", enquanto "retira nobreza que deve estar subjacente ao exercício de funções públicas".

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