Ucrânia controla 28 aldeias em Kursk. Rússia evacuou partes da região de Belgorod

“Actividade inimiga na fronteira” leva ao receio de nova incursão ucraniana, como aconteceu na região de Kursk, onde o Kremlin aumentou os níveis de segurança, mas ainda há registo de combates.

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Moscovo reforçou o seu contingente militar na região de Kursk por causa do ataque ucraniano RUSSIAN DEFENCE MINISTRY HANDOUT / EPA
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A Rússia evacuou nesta segunda-feira partes de outra região próxima da Ucrânia, depois de Kiev ter aumentado a actividade militar perto da fronteira, poucos dias após a sua maior incursão em território soberano russo desde o início da guerra em 2022. Segundo as autoridades russas, a Ucrânia controla 28 aldeias na região de Kursk.

As forças ucranianas atravessaram a fronteira russa na terça-feira passada e avançaram pela parte ocidental da região de Kursk, um ataque-surpresa que pode ter como objectivo obter vantagem em possíveis negociações de cessar-fogo após as eleições nos Estados Unidos.

Aparentemente apanhada de surpresa, a Rússia estabilizou, no domingo, a frente na região de Kursk, embora a Ucrânia tenha cortado uma parte do território russo onde os combates continuavam na segunda-feira, segundo bloggers de guerra russos.

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O governador interino de Kursk, Alexei Smirnov, disse nesta segunda-feira, durante uma reunião com o Presidente russo, Vladimir Putin, que as forças ucranianas controlam já 28 aldeias na região. "A situação continua difícil", disse, segundo cita a BBC. Segundo o mesmo responsável, o Exército ucraniano conseguiu penetrar já a 12 quilómetros numa frente que tem 40 quilómetros de largura, sendo que existem cerca de dois mil cidadãos russos que permanecem nas áreas ocupadas pelas forças ucranianas.

"Não sabemos nada sobre eles", disse Alexei Smirnov quando questionado por Vladimir Putin sobre a situação dos locais. Até ao momento, segundo o mesmo responsável já foram retiradas da região 121 mil residentes, tendo sido identificados mais 60 mil que necessitam de ser transferidos para outros locais. Desde a incursão das forças ucranianas naquela zona terão morrido 12 civis e 121 outros ficaram feridos, segundo avançam as autoridades russas.

Durante a reunião, o Presidente russo disse, como escreve a agência Reuters, que a Ucrânia estava a tentar intimidar a sociedade russa e, assim, minar a estabilidade do país. O Presidente alertou os responsáveis que a Ucrânia iria tentar destabilizar ainda mais as regiões fronteiriças.

Vladimir Putin, nas suas declarações públicas mais detalhadas sobre a incursão até à data, afirmou que a Ucrânia “com a ajuda dos seus mentores ocidentais” estava a tentar melhorar a sua posição antes de possíveis conversações de paz. O Presidente russo questionou que negociações poderiam existir com um inimigo que acusou de disparar indiscriminadamente contra civis russos e instalações nucleares.

Também nesta segunda-feira, o comandante das Forças Armadas ucranianas, Oleksandre Syrsky, disse, durante uma reunião com o Presidente Volodymyr Zelensky, que o exército de Kiev controla "cerca de 1000 quilómetros quadrados de território" na Rússia.

Belgorod em situação "alarmante"

Na região vizinha de Belgorod, a sul, o governador regional, Vyacheslav Gladkov, considerou a manhã “alarmante”, devido à "actividade inimiga na fronteira" que foi considerada uma "ameaça", daí que se tenham começado a fazer evacuações no distrito de Krasnaya Yaruga. Cerca de 11 mil pessoas já foram retiradas até ao momento, de acordo com a agência TASS.

"Estou certo de que os nossos militares tudo farão para fazer face à ameaça que surgiu", disse Gladkov. "Estamos a começar a transferir as pessoas que vivem no distrito de Krasnaya Yaruga para locais mais seguros," acrescentou.

De acordo com o governador, as forças ucranianas atingiram com artilharia a cidade de Shebekino, danificando três edifícios de apartamentos, bem como um campo desportivo. Ainda segundo Gladkov, também a aldeia de Novaya Tavolzhanka foi atingida, com vidros, telhados e cerca destruídos. Não há registos de mortos ou feridos.

Na sua conta da rede social Telegram, fala também em cortes de electricidade em pelo menos treze localidades da região, todas no distrito de Graivoronsky. O Ministério da Defesa russo confirmou ter abatido cinco drones em Belgorod, na noite de domingo para segunda-feira. Outros 18 drones foram abatidos na região de Kursk, também na fronteira.

O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, confirmou pela primeira vez neste fim-de-semana a presença de tropas ucranianas na província, após vários dias de uma intensa ofensiva. O líder ucraniano afirmou que a operação visava “restaurar a justiça” e pressionar as forças de Moscovo.

Os audaciosos ataques ucranianos contra território soberano da Rússia visam mostrar aos seus aliados ocidentais que Kiev ainda consegue organizar grandes operações militares, ao mesmo tempo que tenta ganhar peso na mesa negocial antes de possíveis negociações de cessar-fogo.

As forças russas, que detêm uma vasta supremacia numérica e controlam 18% do território ucraniano, têm vindo a avançar este ano ao longo da frente de 1000km, depois de a contra-ofensiva ucraniana de 2023 não ter conseguido obter grandes ganhos.

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