Foi na segunda-feira, dia 29 de Julho, que um grupo de meninas se juntou numa aula de dança dedicada à música de Taylor Swift. Um rapaz de 17 anos atacou-as com uma arma branca e três delas morreram, incluindo uma menina de origem portuguesa. Uma semana depois, os concertos de Taylor Swift, em Viena, Áustria, foram cancelados, as autoridades descobriram que estava planeado um ataque terrorista. Os suspeitos são dois rapazes, de 17 e 19 anos, e estariam envolvidos outros três. Planeavam um ataque com bombas e facas.

O que têm em comum estas duas notícias? Palavras como "ataques", "raparigas", "Taylor Swift" e os agressores serem homens. Em que mundo obscuro, na Internet, vivem estes rapazes que planeiam matar raparigas que idolatram a cantora norte-americana? Que ameaça representa Taylor Swift para as meninas e raparigas do mundo? Ou melhor, para os rapazes? 

Taylor Swift, aos 34 anos, tem um poder que incomoda muitos homens: é rica, influente, solteira e sem filhos. Mostra às raparigas que uma mulher, mesmo sofrendo desgostos de amor, como os que ela canta, pode reerguer-se e ser mais forte, pode não depender de um homem, pode voltar a amar, livremente. Eu diria que esta mensagem não é lamechas, mas poderosa. Uma mensagem que deixa qualquer rapaz com baixa auto-estima inseguro.

Entretanto, por causa do ataque no Reino Unido, a desinformação nas redes sociais foi tal — Andrew Tate, Nigel Farage ou Elon Musk, entre outros, foram responsáveis pela propagação de fake news — que os homens (e também mulheres) vieram para a rua, manifestar-se e fazer motins contra os imigrantes. A extrema-direita acordou em diversas cidades britânicas e atacou pessoas, as autoridades, lojas, mesquitas, hotéis e centros que albergavam requerentes de asilo. 

Nenhum destes manifestantes esteve na rua por causa das meninas mortas, mas porque foram envenenados pelas teorias da conspiração, que diziam que o agressor era um requerente de asilo. Não era e o juiz responsável pelo caso ordenou que o nome e a imagem do rapaz fossem conhecidos. Trata-se de um jovem nascido no País de Gales, filho de país ruandeses. Mas nem isso dissuadiu os manifestantes.

Repito, não foram as meninas que levaram esta gente à rua, mas o ódio ao outro que é diferente. Felizmente, depois das manifestações racistas, na quarta-feira, vieram as manifestações anti-racistas que calaram e ofuscaram as primeiras. Os britânicos não estão disponíveis para deixar o ódio alastrar. E ainda bem. Quem parece também cansado do ódio vomitado em cada comício por Trump, é o povo norte-americano, que acolheu de braços abertos a candidatura de Kamala Harris.

Entretanto, conhecemos a escolha democrata para a vice-presidência. Trata-se de um ex-treinador e professor, o governador Tim Walz. Ficámos também a conhecer a sua mulher, que foi professora, Gwen Walz; e o seu filho Gus, de 16 anos, que tem défice de atenção. Quanto à filha Hope, a mais velha, o candidato já contou como foi importante a fertilização in vitro para ter a sua filha. Portanto, uma família banal que vive os desafios de qualquer outra família.

Voltando a Kamala Harris, o The Washington Post ensina a pronunciar o nome da candidata democrata de origem indiana, por parte da mãe, e jamaicana, pelo pai. É que pronunciar bem o nome de alguém é uma questão de respeito pelo outro e de compreender que o outro não é uma pessoa estranha, mas alguém igual a nós.

E quanto à violência contra as mulheres — esta semana foi notícia a detenção do filho da futura rainha norueguesa. Marius, que não é príncipe porque é fruto de um relacionamento anterior da mãe, antes de casar com o príncipe herdeiro, foi detido por agressões à companheira e também por danos materiais num apartamento em Oslo. E, do outro lado do Atlântico, tornaram-se conhecidas as agressões do ex-presidente argentino à companheira, em 2020 e 2021, altura em que o político ainda exercia funções. 

A imprensa teve acesso a uma troca de mensagens entre Alberto Fernández e a mãe do seu filho. Fabíola Yañez diz-lhe que é inexplicável o que ele lhe fez, que a agrediu durante três dias, mostra as nódoas negras num dos braços e no olho e Fernández não tem um pedido de desculpas, mas justificações, a culpa de discutirem é dela e ele é que é uma vítima, sente-se mal, pede-lhe para voltar para casa, que não consegue respirar. Quem é vítima de violência doméstica conhece bem este padrão.

A violência contra as mulheres perpetua-se no desporto, nomeadamente nos uniformes olímpicos e nos seus corpos, que devem obedecer a um ideal do que é uma mulher. A Inês Duarte de Freitas foi ouvir dois especialistas sobre a desigualdade no vestir entre homens e mulheres no desporto. E, porque este domingo encerram os Jogos Olímpicos de Verão em Paris, fizemos um apanhado dalguns dos momentos que ficarão na memória de muitos internautas — um deles será seguramente a polémica em torno do corpo da pugilista da Argélia, Imane Khelif, vítima da desinformação nas redes e de bullying, que gritou "sou uma mulher" e se emocionou na cerimónia de entrega das medalhas, ao conquistar o ouro.

Estes foram os Jogos com mais paridade entre homens e mulheres, anunciou a organização. A jornalista brasileira Havolene Valinhos congratula-se com a possibilidade de as mulheres serem mães e atletas de alta competição, lembra a esgrimista egípcia Nada Hafez, que combateu grávida de sete meses; e de todos os atletas que têm filhos e puderam usar a creche da aldeia olímpica — uma ideia de... uma mulher. 

Boa semana!